A retomada das aulas presenciais no Paraná nesse momento vai causar, inevitavelmente, o aumento de casos, internamentos e mortes por Covid19. O Governo Ratinho Jr vacinou apenas 16,5% da população e a volta às escolas só é relativamente segura com 70% das pessoas imunizadas. Qualquer relaxamento no distanciamento social nesse momento terá impacto 15 dias depois nos hospitais. Os alertas foram feitos pelo cientista Lucas Ferrante, na plenária virtual realizada pela APP-Sindicato, no começo da noite desta quinta-feira (6). Ele apresentou a atualização do estudo “Avaliação da Pandemia de Covid19 – Medidas Necessárias para Controle da Pandemia”.
O estudo foi realizado por pesquisadores(as) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São João Del Rei e Universidade Federal do Amazonas. As análises e recomendações se baseiam no modelo computacional SEIR (Susceptíveis-Expostos-Infectados-Recuperados), que considera dados epidemiológicos, taxas de vacinação e mobilidade urbana da população de dez cidades: Curitiba, Foz do Iguaçu, Cascavel, Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Guarapuava, Toledo, União da Vitória e Francisco Beltrão. “Para nenhuma delas, o modelo aponta a possibilidade de relaxamento de medidas restritivas”, afirmou Ferrante. “Não é o momento de aumentar a circulação urbana”, observou.
O presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, lamentou que o governador Ratinho Jr esteja tentando transferir para prefeitos e diretores de escola, a responsabilidade de uma decisão equivocada sobre a volta às aulas presenciais. A APP-Sindicato recomenda aos(as) diretores(as) que não assinem qualquer documento autorizando a volta às aulas presenciais em suas escolas. “Não assumam a responsabilidade de pôr vidas em risco”, disse Leão. “Nós queremos a retomada, mas está evidente que essa flexibilização não é possível nesse momento. Lamentavelmente o Governo Ratinho Jr joga a responsabilidade dessa decisão para diretores de escola, pais, mães e responsáveis”, completou.
Leão ressaltou a necessidade de envolver não só toda a categoria, mas também a sociedade, na decisão sobre volta às aulas presenciais. “Estamos procurando ter as melhores informações para podermos tomar as decisões mais acertadas”, disse. Ele tem conversado com prefeitos(as) e recebido apoio na decisão da APP-Sindicato de só retomar as aulas presenciais após a vacinação dos(as) profissionais da Educação.
Lucas Ferrante criticou estudos falaciosos que apontam que a volta às aulas presenciais não impacta negativamente os números da pandemia. Por outro lado, citou estudo publicado na revista Science, com dados de 41 países, que aponta o contrário: escolas e universidades são locais relevantes para controle ou disseminação do coronavírus. Ferrante apresentou um gráfico cujos números relacionam o surgimento da segunda onda de Covid19 em Manaus à volta às aulas presenciais e não à variante P1, que surgiu exatamente com o aumento de mobilidade urbana sem vacinação.
A posição da APP-Sindicato foi referendada também pela representante da União Paranaense dos Estudantes (Upes), Natacha Rigo. “O governador Ratinho primeiro disse que o plano era que professores e funcionários fossem vacinados e depois voltaríamos às aulas. Isso não foi cumprido. Os alunos não querm se arriscar e a situação para os professores é pior. Alguns alunos vão (à escola) numa semana e não na outra, mas professores e funcionários estariam sempre lá”, analisou.
O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo, também participou da plenária da APP. Ele disse que aqueles(as) que não ouvem a ciência durante a pandemia, estão contra a vida. “Desde março interrompemos as atividades letivas presenciais na Universidade, orientados por uma comissão de cientistas, que agora nos dizem que é temerário voltar às atividades letivas presenciais. Então vamos ficar assim até que os cientistas nos digam que é seguro voltar”, afirmou.