“Violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer”

“Violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer”


Falar sobre índices de violência contra as mulheres no Brasil é se deparar com um dado assustador: o Brasil ocupa o 7º lugar entre os países que mais cometem homicídios contra as mulheres no mundo. Esse dado, revelado pelo Mapa da Violência em 2012, aponta, ainda, que 4,4 são assassinadas a cada 100 mil mulheres no país.

O Paraná, dentro do ranking nacional, também ocupa uma posição preocupante. Com 6,4 mulheres assassinadas a cada 100 mil, o Estado está em 3º lugar, abaixo apenas de Espírito Santo e Alagoas. O Paraná apresenta, então, um índice de homicídios acima da média nacional brasileira.

Em março de 2015, o Brasil passou a reconhecer o feminicídio como crime no país. A lei, que modificou o Código Penal e reformou a Lei Maria da Penha – já em vigor desde 2006 – considera crime a violência doméstica e familiar, além do menosprezo ou discriminação à condição da mulher por motivos de gênero. O feminicídio passou a ser considerado um crime hediondo e impede que os acusados paguem fiança para responder o processo em liberdade.

Um importante ponto que é preciso destacar é que a lei reconhece a violência doméstica como um dos itens principais que caracterizam o feminicídio. Em 2011, de acordo com o Mapa da Violência, 71,8% das mulheres que sofreram violência foram agredidas em casa. “Vemos que em todas as faixas etárias, o local de residência da mulher é o que decididamente prepondera nas situações de violência, especial até os 10 anos de idade e a partir dos 30 anos da mulher”, explica o documento. (Página 18)

O estudo mostra que mais de 43 mil mulheres foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vindas de suas residências. Se esse índice já demonstra a gravidade da violência, ele lembra também que muitas mulheres nem procuram atendimento médico. “Embaixo dessa ponta visível, um enorme número de violências cotidianas nunca alcança a luz pública”.

O Mapa da Violência também aponta que, na maioria dos casos, os(as) agressores(as) tem uma relação com a vítima, seja por parentesco sanguíneo ou relação afetiva. Essa relação indica uma mudança de acordo com a faixa etária da vítima. Por exemplo, mulheres de até 9 anos de idade têm como agressores, quase que exclusivos, os próprios pais e mães. Esse dado muda muito a partir dos 20 anos da mulher, já que a figura do cônjuge e/ou namorado substitui a relação de agressividade que antes era tida pelos pais.

Só em 2011, mais de 22 mil casos de violência foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Lembrando, novamente, que muitas mulheres não denunciam e os casos não são somados aos índices.

A educadora Maria Terezinha Leite, vítima de um assassinato cometido pelo próprio ex-namorado, infelizmente faz parte do índice de mulheres que sofreram violência dos parceiros ou ex-parceiros, ou seja, pessoas que conviviam e tinham um relacionamento afetivo direto com a vítima. Maria era educadora há 25 anos no município de Pinhão, no Paraná. Ela era agente educacional I no Colégio Estadual Santo Antônio e tinha 48 anos de idade. Depois de receber ameaças em público, durante uma festa na cidade, o ex-namorado assassinou a educadora no portão da escola onde ela trabalhava no dia 13 de julho. Ele está foragido.

A morte da Maria Terezinha comoveu toda a cidade. De acordo com o secretário de Gênero do Núcleo Sindical de Guarapuava, Fabio Augusto da Silva, a educadora era atuante e participava de debates que envolviam o combate de violência contra a mulher. Ele explica que é preciso dar ainda mais importância para o tema, já que cada vez mais mulheres são vítimas de violência. “As pautas das discussões de gênero e da violência contra a mulher são lutas diárias na APP. Atos como esse apenas expressam a necessidade de formação e sensibilização da categoria e comunidade escolar. Infelizmente, a sociedade só começa a dar importância ao tema quando se vê presa a um ocorrido brutal contra a vida de uma mulher, trabalhadora, educadora, sindicalista, mãe!”, desabafa o educador. Fabio destaca ainda que a luta contra a violência deve ser feita por todos e todas. “O combate ao feminicídio começa nas ações diárias, como impedir que o machismo continue a se alastrar, registrar o BO nas delegacias da mulher e intervir em toda agressão, seja física, verbal ou moral. Cabe a nós trabalharmos continuamente contra o machismo, homofobia e o racismo que estão enraizados na sociedade”, explica.

A secretária de Gênero, Relações étnico-raciais e Direitos LGBT da APP-Sindicato estadual, Elizamara Goulart Araújo, destaca que a violência contra as mulheres é uma realidade que deve ser debatida na sociedade como um todo. “A violência contra as mulheres é uma realidade que precisa ser combatida, precisa ser objeto de debate nas escolas e por isso construímos as propostas de igualdade de gênero, de respeito e valorização das mulheres, nos planos de educação que, infelizmente foram derrotadas nas câmaras municipais e na Assembleia Legislativa. Não podemos e não vamos nos calar diante de tantas agressões e mortes das mulheres todos os dias no nosso Estado que atinge inclusive a nossa categoria, como o caso da funcionária de escola, assassinada no dia 13 de julho”. Elizamara relembra que a APP-Sindicato tem como luta a defesa pela vida das mulheres. “É papel da sociedade, nas escolas e nas famílias, construir uma cultura do respeito e da igualdade de direitos, pelo direito à vida das mulheres. E isso continuará fazendo parte dos debates e formações feitas pela APP Sindicato”.

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