Quinze de Outubro é data festiva: Dia dos Professores e Professoras.
O que vamos celebrar? Há algo a celebrar, comemorar, festejar?
Vamos celebrar as plataformas, as metas? O excesso de trabalho? As salas superlotadas? A defasagem salarial? Nosso adoecimento? A violência que invadiu nossas escolas?
Talvez, ao invés de celebrar, ainda nos caiba, mais uma vez, protestar e denunciar o que de fato acontece dentro dos muros das escolas.
É triste chegarmos às vésperas do 15 de outubro e nos depararmos com notícias como a do ataque ocorrido numa escola de Poços de Caldas (MG), no último dia 10, onde um jovem de 14 anos (ex-aluno), esfaqueou quatro pessoas, matando uma delas.
Este foi o quarto ataque a escolas neste ano. Em São Paulo (27 de março), quatro professoras e um aluno foram esfaqueados, uma delas morreu; já em Blumenau (5 de abril), o ataque foi em uma creche e quatro crianças morreram. A escola Helena Kolody, em Cambé (19 de junho), também passou por momentos de terror quando dois alunos foram mortos a tiros.
Há uma onda crescente de violência em nossas escolas e, por mais que se ergam os muros, se tranquem as portas, sejam instalados botões de pânico, tragédias insistem em acontecer.
As escolas buscam instituir uma cultura de paz, fazer a dita escuta ativa para diagnosticar problemas de cunho emocional ou psicológico entre nossos jovens, mas essas são apenas medidas paliativas. Somos, na escola, o reflexo de uma sociedade adoecida e cheia de aberrações que se proliferaram de alguns anos para cá, com uma roupagem feita de moral e bons costumes, mas que, na verdade, representam o pior da estupidez humana.
Por isso, quando chegamos uma data festiva que deveria ser esse Quinze de Outubro, só me vem à cabeça trechos de uma música do Renato Russo de 1993 – Perfeição:
[…]
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora (grifos nossos)
[…]
Relendo com atenção a letra, não parece que ela foi escrita há 30 anos. Parece que foi feita hoje, tamanhas as semelhanças com nosso momento presente. Lá, já havia esse alerta e temos uma série de problemas que perduram até hoje, como: fome, violência, roubo, preconceito, analfabetismo, queimadas, destruição… pois como diz ele, há ganância, corrupção, hipocrisia, afetação, desunião.
Porém, como professores(as), somos teimosos e sempre acreditamos que podemos recomeçar e, parafraseando, estamos na primavera.
Cláudia Gruber
Secretária Executiva de Comunicação da APP-Sindicato
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