“Me senti injustiçada, menosprezada como profissional, revoltada, pois estamos sempre nos aperfeiçoando, fazendo cursos, tendo gastos para nos atualizar e oferecer ensino com melhor qualidade e de repente não podemos pegar aulas.”
A professora F.C. tem duas graduações e várias pós-graduações no eixo de Gestão e Negócios. Para o governo Ratinho, no entanto, ela não é qualificada o bastante para ministrar o novo curso técnico de Administração da rede, terceirizado para a Unicesumar.
“Com o Novo Ensino Médio, mesmo qualificada e com contrato aberto, não posso pegar as aulas das turmas de primeiro ano. Nem os QPM na área podem”, lamenta a professora, que leciona em cidades que compõem o NRE de Maringá.
Contrastando com a alta qualificação dos(as) professores(as) disponíveis na rede, a Unicesumar vai colocar nas salas de aula monitores(as) que precisam ter apenas o Ensino Médio completo.
Sem qualificação pedagógica, esses(as) jovens serão o único contato presencial dos(as) estudantes com as disciplinas e vão receber apenas R$ 8 por hora trabalhada, o equivalente a R$ 640 para 20h. Sua tarefa será mediar a transmissão de aulas síncronas por professores(as) da empresa, que atenderão até 20 turmas simultâneas.
Mais de 800 escolas podem adotar modelo
Para justificar a terceirização, a Seed alega que não há profissionais habilitados para atender a demanda. Mas o que não falta é professor(a) qualificado(a) na rede pública, como é o caso de F.C. Ao impedir profissionais concursados e PSS de pegarem aulas de primeiro ano, a Seed sinaliza que em breve eles serão totalmente excluídos do Ensino Médio.
“Sem a possibilidade de iniciar novas turmas, os componentes curriculares serão integralmente entregues à Unicesumar nos próximos anos, excluindo gradualmente os(as) profissionais da rede estadual”, analisa a professora.
A Unicesumar promete bolsas de estudo para os(as) monitores(as), o que só amplia a confusão entre o público e o privado do modelo idealizado por Ratinho Jr. Na prática, a sociedade pagará mais caro por uma gambiarra, que troca a interação entre estudante e professor(a) em sala de aula por teleaulas.
Mais de 800 escolas podem adotar este modelo, de acordo com a licitação realizada pelo Estado. A Unicesumar foi a única concorrente do pregão nº 980/2021, arrematando os 27 lotes por R$ 38,4 milhões. O ímpeto de Ratinho Jr em transformar em mercadoria a educação paranaense disparou neste início de ano, que poder ser o último dele no Palácio Iguaçu.
No último sábado, a APP e um coletivo de educadores(as) organizaram uma reunião com professores(as) QPM, QUP e PSS prejudicados(as) diretamente pela terceirização. Sindicato e categoria constroem a resistência e estudam alternativas para combater o processo de privatização e precarização.
Orientamos que educadores(as) interessados(as) procurem a APP para se somar à luta.
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