Uma semana de greve é marcada por luta e solidariedade

Uma semana de greve é marcada por luta e solidariedade


O domingo (15) de carnaval no acampamento da greve em Curitiba foi de alegria. Chuva e frio não atrapalharam a diversão da comunidade e dos(as) educadores(as) que continuam acampados(as) em frente à Assembleia Legislativa do Paraná. A programação cultural nestes dias de carnaval faz a luta ser ainda mais animada.

Durante a tarde teve muita música, poesia, mágica e alegria. O educador João Bello fez a festa com a criançada e aproveitou o momento para envolver os adultos também. Ele desenvolve um trabalho muito importante como artista, viaja por todo o país levando a poesia por todo canto. “A gente trabalha muito com formação para professores. Nós usamos a poesia, música e arte como ferramenta de transformação e educação”. João divertiu muito as crianças, que faziam a festa ser ainda mais animada no acampamento, mas também fez críticas ao governo do Estado que está prejudicando a população. “É preciso olhar para a sociedade com mais respeito, com mais valor”, aconselha. Apesar de ter se envolvido mais com as crianças, não tem adulto que não ri do bom humor de João. Cantando cantigas consagradas como “Se essa rua fosse minha” e “A casa”, ele ganhou a atenção, muitos sorrisos e abraços carinhosos.

O bloco pré-carnavalesco, Garibaldis e Sacis, também esteve no acampamento na tarde deste domingo e encantou a todos e todas com tanta alegria. Garibaldis e Sacis é uma invenção curitibana para aquecer o carnaval, como contou Itaércio Lopes Rocha, representante do bloco. “É preciso pensar no carnaval para a gente exercitar a alegria, pois de tristeza o mundo está cheio”, explica. Todo mundo que estava no acampamento se encantou com a energia contagiante do bloco que canta marchinhas tradicionais e envolve o público com muito riso, roupas coloridas e animação. “A alegria precisa ser exercitada, compartilhada, vivenciada em praça pública com todo mundo”, exclama Itaércio. Além disso, ele comenta sobre a luta que a educação está vivendo no Paraná. “Eu acho que os professores e a comunidade curitibana e paranaense acolheu o Garibaldis e Sacis com muita generosidade. Estamos aqui para compartilhar desse momento de luta”.

Além dos grupos culturais que já marcaram presença no acampamento dos(as) educadores(as), ainda tem muita coisa por vir. A secretária de Formação Política Sindical, Janeslei Aparecida Albuquerque, conta que ainda teremos diversas atividades durante o carnaval. “Temos programação todos os dias, tanto de entretenimento para as crianças, quanto para os adultos”, explica. As atividades serão bastante diversificadas, dando espaço para diferentes artistas. “Teremos aqui o grupo Terra Violeira, que toca música de raiz, pois esse espaço não é só para acampamento, mas também formação política, sindical, educacional e cultura. Assim podemos refletir quais são os parâmetros que a mídia brasileira usa ao decidir quais artistas farão ou não sucesso. Esse espaço aqui também é feito para divulgar os grupos que fazem a boa música brasileira que tanta gente tem saudade de ouvir, e muitos tem necessidade de conhecer”. Janeslei ressalta que o acampamento terá aula de zumba, exposição de fotografias e muito mais.

Solidariedade em tempos de luta – Os educadores e educadoras que estão acampados em frente à Assembleia Legislativa do Paraná foram surpreendidos durante esses dias de greve: a solidariedade de outros(as) educadores(as) e da própria comunidade é algo que está marcando estes dias de luta.

A secretária de Administração e Patrimônio, Mariah Seni, conta como as pessoas estão fortalecendo a luta da educação. “É impressionante como a nossa comunidade tem ajudado com doações. Todo tipo de doação chega todos os dias! Café, leite, bolo, papel higiênico… É muita coisa que a comunidade traz para prestar sua solidariedade conosco”, comenta. Seni conta que esses dias de chuva em Curitiba têm dificultado a permanência no acampamento, já que muitas pessoas ficaram com as barracas todas molhadas. No entanto, a ajuda de outras pessoas tem contribuído muito para a luta e a persistência dos(as) educadores(as). “Isso nos conforta. O pessoal acordou de madrugada com a barraca molhada e com frio, mas aí chegou doações de cobertas, colchões, agasalhos e uma energia contagiante”.

Ana Maria, professora há quase 25 anos, trouxe cobertores para doar. Ela conta que a solidariedade foi o que a motivou a trazer essas doações. “Eu moro na região e sei que tem muita gente aqui que é de fora. Eu tenho o conforto da minha casa, mas tem aqueles que estão longe de casa. Então a gente traz doações ao menos para amenizar um pouco a dificuldade dessa luta”, conta ela. Ana, além dos cobertores, traz também sua vontade de ajudar. “É um calor e uma força a mais”.

Neuza Bottolo tem algo em comum com Ana Maria, além de ser professora do Estado: a vontade de fortalecer a luta. Ela esteve presente nas mobilizações durante a primeira semana de greve e conta que se emocionou muito na quinta-feira (12), quando os(as) educadores(as) conseguiram fazer com que os(as) deputados(as) não votassem o pacote de maldades do governo. “Foi emocionante, apesar do medo, tensão e preocupação com os colegas que estavam na frente da mobilização, de frente com a patrulha de choque. Aquele momento foi fantástico. Somente aqueles que estavam na luta sabem o que é estar em uma luta feita pelo povo”, conta ela. Neuza trouxe sua família para compartilhar da alegria do domingo de carnaval com os(as) educadores(as) e aproveitou a oportunidade para doar alimentos. “Eu também estou na luta, na greve e sou professora. Também quero ajudar!”.

Com tanta solidariedade é impossível não entender a razão da educadora aposentada, Marlete Ferreira, ficar com os olhos cheios de lágrimas ao demonstrar a gratidão pelos(as) companheiros(as) de luta. “A minha emoção? Não tenho como descrever. As lágrimas falaram por mim…”, se emociona. Marlete é do Núcleo Sindical de Assis Chateaubriand e ficou muito feliz com as doações que viu chegarem ao acampamento. “Foi algo que me invadiu. Mesmo com uma chuva dessas, todos os dias as pessoas trazem donativos para nós. Estão preocupados com a gente”. Quando foi perguntada sobre a alegria que sentiu, a educadora demonstrou estar muito agradecida e cheia de emoção. “Não tem como não chorar. Me sinto fortalecida com a solidariedade das pessoas. A união realmente quebra as correntes”.

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