Uma aula de cidadania

Uma aula de cidadania


Segundo dados do Sistema Integrado de Informação Penitenciária  INFOPEN, no Paraná 51% da população carcerária é composta de jovens de 18 a 34 anos. Outro importante dado do levantamento mostra que 62% dos detentos não possuem o Ensino Fundamental completo.

É necessário demonstrar à sociedade que o sistema prisional pode transformar a vida das pessoas que estão privadas de liberdade. Mostrar que os presídios não são apenas instrumentos de controle e punição, mas também espaço para a reeducação e reinserção dessas pessoas na sociedade com dignidade.

Essa transformação é possível através de um instrumento básico que é a educação, a profissionalização, juntamente com outras atividades desenvolvidas nestes espaços como o trabalho em regime fechado, semiaberto. A educação é a principal ferramenta para o crescimento pessoal e abandono da vida criminal desses indivíduos. O aprendizado é uma forma de resgate da dignidade, do desenvolvimento e da (re)construção de valores dos privados de liberdade, preparando-os para o retorno  da vida em sociedade.

Cabe aos professores, proporem ações que despertem o interesse, mostrando que a educação e o trabalho, são caminhos para a ressocialização. Para os alunos privados de liberdade as aulas são um benefício, ou seja, um momento ímpar de socialização, integração, de construção da autoestima, respeito e humanização do indivíduo. Eles destacam que, através das aulas podem esquecer um pouco do ambiente limitado em que vivem, e dedicar-se aos estudos para a vida em sociedade.

Para isso é crucial o trabalho dos professores como agentes transformadores desta realidade. De acordo com Paulo Freire é dever dos educadores “perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática social de que ele faz parte. É reconhecer que a educação, não sendo a chave, a alavanca da transformação social, como tanto se vem afirmando, é, porém, indispensável à transformação social”.

Para trabalhar nas unidades prisionais/educandários, o professor precisa ser criativo, ético, inovador, dinâmico, pontual e ter comprometimento com o trabalho a ser desenvolvido. Ir além do senso comum, da educação formal, mergulhando na pedagogia social. Essas são algumas qualidades e características essenciais para quem leciona ou irá lecionar em alguma instituição destes sistemas.

Aos professores não basta somente ensinar, a gramática correta, operações matemáticas ou fatos históricos, mas demonstrar aos alunos que a educação dentro do sistema penitenciário não tem somente a função de alfabetizar adultos ou remir a pena, mas sim desenvolver a capacidade de criação e senso crítico, sensibilidade, tornando-os capazes de perceberem a importância das suas escolhas e ações para as suas vidas tanto no âmbito pessoal como no convívio em sociedade.

O professor precisa ter consciência que ele é o agente formador, mediador de opiniões e de ideias. Valores éticos, respeito ao próximo e solidariedade, são temas que são trabalhados nas salas de aula, integrando o conteúdo informacional que os alunos aprendem ou nas atividades extracurriculares.

Outro importante fator para o melhor desenvolvimento do processo de educação nas instituições penitenciárias é o vínculo professor/aluno. É sabido que alfabetização de adultos não é apenas um processo de ensinar o mesmo a ler e escrever. Segundo Luiz Percival de Leme Britto “a educação de adultos não deve ser pensada como um processo de recuperação de algo que tenha sido perdido ou não aprendido no momento adequado. O adulto não volta para a escola para aprender o que deveria ter aprendido quando criança e não aprendeu. Ele busca a escola para aprender habilidades necessárias para ele no momento atual. Sempre a partir daquilo que ele, enquanto sujeito histórico sabe e é”.

A educação formal, juntamente com a educação social é o principal caminho a se estabelecer, agregando ao conhecimento, as condições necessárias para ser um cidadão pleno de suas convicções e ações quando liberto.

Mesmo nos lugares mais distantes, locais nunca imaginados, está em ação um professor/educador, com sua capacidade, tenacidade e vontade de mudar o mundo, atuando, dedicando-se a esta nobre função que é ensinar e educar, independente das condições, ou falta de equipamentos, mas com muita fé e abnegação em acreditar no ser humano.

Marconi Burgath Professor de História e Geografia – SEED

MENU