“UM GOVERNO MELHOR QUE HÁ QUATRO ANOS”, SERÁ?

“UM GOVERNO MELHOR QUE HÁ QUATRO ANOS”, SERÁ?


Todas e todos acompanhamos o pacotaço de natal que o governo Beto Richa, juntamente com seus aliados e aliadas na ALEP, “presentearam” a sociedade paranaense nos últimos dias de 2014. Para a surpresa geral, debaixo da árvore natalina foi deixado um último “presente” aos(às) servidores(as) PSS: o não pagamento dos salários de dezembro. Nessa situação encontravam-se mais de 37 mil trabalhadores(as), destes(as) cerca de 30 mil são da educação e a dívida com estes(as) trabalhadores(as) era de aproximadamente de 77 milhões de reais.

Assim que soube do fato, a APP-Sindicato impetrou ação judicial e organizou um ato durante a posse do segundo mandato. A manifestação em frente ao palácio Iguaçu foi amplamente comentada pela mídia. Em resposta aos(às) repórteres, o governador tratou de desqualificar o trabalho da APP. Acompanhe o que ele disse:

 

(…) Ali [se referindo a manifestação] é motivação partidária de um sindicato ligado a CUT, mantido pelo governo federal, muito próximo ao partido dos trabalhadores. Eles não aceitam a derrota que tiveram aqui no Paraná”*

 

As respostas dadas durante entrevista logo após a posse são descabidas e caluniosas, ainda mais estando o governador, um homem público experiente com passagem pela prefeitura de Curitiba, em seu segundo mandato. Em vez de desqualificar uma manifestação legítima, atacando quem a organizou, deveria reconhecer os equívocos de seu governo e justificar para a população as razões do Estado estar quebrado.

Aliás, virou lugar comum, quando alguns/algumas são cobrados(as) por atitudes e discursos, e lhes faltam argumentos, desqualificar aqueles(as) que cobram por tais atitudes e discursos. O governador desqualifica a APP-Sindicato e não justifica o porquê de ter atrasado salários.

Atribui-se a Hegel a seguinte história: uma moça foi reclamar que os ovos que comprara estavam podres. A vendedora, uma senhora, responde: “quem você pensa que é para reclamar comigo? Teu pai é um inútil, tua mãe fugiu com um francês e ninguém sabe de onde vem o teu dinheiro”. Com um exemplo, Hegel queria demonstrar a forma como um conflito pode ser tratado de modo enviesado e a argumentação sobre o fato concreto, que é o que realmente importa, escondida. O fato é que os ovos estavam podres. O fato é que o governo não pagou os(as) trabalhadores(as) PSS quando deveria, ou seja, no último dia útil de 2014.

Sobre as declarações do governador desqualificando a APP temos a esclarecer:

 

            (…) um sindicato ligado a CUT…

 

  • SIM, nós somos filiados a CUT que é a maior Central de Trabalhadores da América Latina e a quinta maior do mundo. Com 30 anos de luta, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) representa 34,39% dos(as) trabalhadores(as) sindicalizados(as) (24 milhões de trabalhadores/as) e mais de três mil entidades filiadas. Entendemos que estar filiado à CUT nos unifica, fortalece e torna mais eficaz a luta dos(as) trabalhadores(as) em educação no estado do Paraná. A história da CUT não deixa dúvidas de que lado ela está e esteve durante todos estes anos, e talvez por isso seja combatida por governos de direita que sempre representaram os interesses liberais burgueses.

 

(…) motivação partidária, (…) muito próximo ao partido dos trabalhadores…

 

  • A APP-sindicato NÃO é filiada a nenhum partido e nossa luta não é movida por inclinações partidárias. Representamos a classe dos(as) trabalhadores(as) da educação pública no estado do Paraná. Nossos estatutos são claros em estabelecer a APP-Sindicato como entidade sem vinculação de caráter político-partidário ou religioso. No entanto, esse conceito não é o mesmo que não ter posicionamento. Posicionaremo-nos contrários sempre que direitos dos(as) trabalhadores(as) estejam ameaçados; que projetos privatizantes – como o pacotaço de final de ano, que tão somente atendem interesses de uma minoria, sejam implementados por este ou aquele governo, deste ou daquele partido. Não precisamos de motivação partidária, quando governos nos dão os reais motivos para endurecer a luta. E não somos ou seremos coniventes e subservientes às políticas de retirada de direitos e aguçaremos as lutas para ampliação destes direitos, uma vez que estamos longe de alcançar uma sociedade verdadeiramente democrática, de respeito aos(ás) trabalhadores(as) e suas conquistas e de se estabelecer verdadeiramente uma escola pública de qualidade que tanto os profissionais nela envolvida, como os(as) estudantes, pais, mães e sociedade em geral lutam e anseiam.

 

(…) mantido pelo governo federal…

 

  • Senhor governador nós NÃO somos mantidos por governos.Quem nos mantém são os(as) trabalhadores(as) da educação pública estadual e municipal do Paraná, que de maneira voluntária e solidária, contribuem mensalmente para o sindicato, uma vez que reconhecem o valor desta entidade para as conquistas dos direitos alcançados. São 67 anos de história sem mudar de lado e combatendo as desigualdades criadas por políticas nefastas que produzem mais desigualdades. Talvez, nos limites de uma sociedade que é mantida através das benesses e favorecimento aos grandes e “do toma lá dá cá” comum da política, para alguns, isso seja difícil de compreender; ter uma entidade mantida somente com a contribuição solidária de seus sindicalizados(as).

 

(…) não aceitam a derrota que tivemos aqui no Paraná.

 

  • Sim, nós reconhecemos o resultado das eleições, muito distinto do que ocorre com correligionários de seu partido que publicamente se manifestam e não aceitam a derrota na esfera nacional. O senhor foi legitimamente eleito, ainda que tenhamos total contrariedade à política estadual desenvolvida nestes últimos quatro anos pelo seu governo. O que fazemos não é chororô, mas cobrar de governos que cumpram o que firmaram em negociações, ou o senhor não assinou carta comprometendo-se com a pauta dos(as) trabalhadores(as) durante debate com os(a) candidatos(a) em agosto de 2014? Aliás, em matéria de chororô o senhor tem sido contumaz, ao atribuir os percalços de sua má gestão ao governo federal. As teorias sartreana – de que o inferno são os outros e hebraica – do bode expiatório, cabem muito bem para justificar as atitudes do seu governo: alguém, que não sendo o seu governo, precisa ser culpado pelos equívocos da má gestão, da falta de recursos e, agora, do pagamento de servidores(as) com atrasos.

 

Durante os discursos de posse, o governador falou que seguramente o “Paraná hoje é melhor que há quatro anos”. Será? Em que Paraná vive o governador? Com certeza não é o Paraná que atrasa salários de mais de 37 mil trabalhadores(as) públicos, que cobra de aposentados(as) 11% de contribuição previdenciária, que atrasa os   repasses aos hospitais conveniados o dinheiro do SAS, que descumpre acordo de subsidiar o transporte público na região metropolitana de Curitiba, que fecha escolas, sucateia universidades, não paga promoções e progressões dos(as) servidores(as) públicos, não repassa dinheiro do PDE, do fundo rotativo para as escolas,… Enfim, não nos faltam exemplos de que há quatro anos estávamos melhores do que hoje.

Contrariamente do que disse o governador durante a posse, de um “Paraná melhor para todos”, o que se acena no horizonte para os próximos quatro anos, mantido o atual curso – e é o que se nota a partir dos 18 decretos assinados no ato da posse e do pacotaço de natal, é um aprofundamento das políticas neoliberais, que resultará para a classe trabalhadora em um Paraná pior do que está hoje. Só a luta e mobilização é que nos protegerá deste desastre.

 

Direção Estadual da APP-Sindicato

 

*          Disponível em: http://globotv.globo.com/rpc/bom-dia-parana/v/o-governador-beto-richa-trompou-posse/3867480/. Acessado em 8/1/2015.

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