Transtornos mentais são os principais problemas de saúde enfrentados pelos(as) professores(as), afirmam pesquisadores(as)

Transtornos mentais são os principais problemas de saúde enfrentados pelos(as) professores(as), afirmam pesquisadores(as)

Movimentos ideológicos, imposição de tecnologias digitais e gestões autoritárias são apontadas como causas de aumento dos índices de adoecimento da categoria

Foto: Andrea Piacquadio no Pexels

Afetados(as) pela falta de valorização e de condições adequadas de trabalho, pela imposição de tecnologias digitais e pelo perfil autoritário de gestores públicos, os(as) professores(as) brasileiros(as) estão ficando cada vez mais doentes e os transtornos mentais são os problemas mais recorrentes.

Essas são algumas das conclusões apresentadas por pesquisadores(as) e representantes sindicais durante o “IV Seminário: Trabalho e Saúde dos Professores Precarização, adoecimento e caminhos para a mudança”. O evento foi realizado pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), no último dia 10 de outubro, Dia Nacional da Segurança e Saúde nas Escolas.

“Hoje os transtornos mentais já têm assumido a primeira posição em causa de afastamento de professores das salas de aula”, disse Jefferson Peixoto da Silva, tecnologista da Fundacentro. Segundo o pesquisador, essa situação representa uma mudança, pois em anos anteriores os estudos apontavam prevalência maior de adoecimento vocal.

Durante o evento, os(as) especialistas também lançaram um livro sobre a temática. A obra reúne estudos e reflexões apresentadas nas três edições anteriores do seminário. Com vasta revisão bibliográfica, o livro demonstra como as transformações no mundo do trabalho têm impactado na atividade docente e na saúde mental da categoria. 

“Há uma intensificação, com a ampliação das atribuições de gestão e planejamento aliada a um aumento do número de alunos por turma. Os professores precisam dar conta das novas tecnologias, como responder e-mails e administrar redes sociais. Vivenciam a precarização dos contratos de trabalho, o medo de desemprego, a sobrecarga, a flexibilização das férias e da jornada de trabalho”, escrevem os(as) organizadores(as) do livro.

Em um relatório técnico, os(as) mesmos(as) pesquisadores(as) da Fundacentro destacam que “não dá para discutir educação de qualidade com professores doentes”. Para reverter esse cenário, marcado por altos índices de adoecimento dos(as) docentes brasileiros(as), e que acaba por repercutir sobre a aprendizagem dos(as) alunos(as), eles(as) sugerem a formulação de políticas públicas que sejam capazes de melhorar o bem-estar no ambiente de trabalho. 

Uma proposta é o resgate do caráter coletivo do trabalho e da autonomia profissional, com engajamento de todos(as) no processo de transformação e reconhecimento da atividade. “Não é apenas de formação docente acurada e atualizada que se faz (e/ou que se fará) bons e eficientes professores, mas também (e, sobretudo) de condições de trabalho e saúde adequadas. Para melhorar a qualidade da educação no Brasil, é preciso melhorar o modo como o Brasil trata seus professores”, diz o documento.

>> Livro – Trabalho e Saúde dos Professores: Seminários Precarização, adoecimento & caminhos para a mudança

>> Relatório Técnico – Condições de trabalho e saúde dos professores no Brasil: uma revisão para subsidiar as políticas públicas

Extrema-direita e autoritarismo

Para a secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Francisca Pereira da Rocha Seixas, movimentos ideológicos recentes, fomentados pela extrema direita, acentuaram os processos de desvalorização da categoria e estão diretamente associados com a piora das condições de saúde.

“Vivemos durante o último governo federal um processo de discriminação ímpar na história do nosso país, porque trouxe à tona todos os preconceitos com a sua política de ódio. Chegaram a tentar implementar uma chamada escola sem partido, que foi uma pressão muito forte, uma vigilância, uma perseguição que, na nossa opinião, levou a uma desvalorização”, comentou.

A dirigente lembrou que, mesmo após 15 anos de implementação da legislação que define um piso salarial para todos(as) os(as) professores(as) do país, ainda existem gestores que resistem à determinação de cumprir a norma. 

“Valorização profissional pressupõe remuneração, carreira e condições de trabalho. Temos a lei nacional do piso salarial profissional, que conquistamos no segundo governo do presidente Lula, e que temos dificuldade até hoje. A maioria dos governadores e prefeitos não pagam e o piso salarial é tratado como teto e não como piso, não tem repercussão na carreira”, disse.

Ao finalizar sua fala no evento, Francisca associou o aumento dos problemas de saúde dos(as) educadores(as) com o tipo de gestão antidemocrática que, segundo ela, tem sido enfrentada na maioria dos estados e municípios do país nos últimos anos.

“A gestão democrática é saudável, leva ao diálogo, leva ao pertencimento da atividade. A gestão autoritária adoece os trabalhadores porque é insuportável. A maioria dos afastamentos é fruto do assédio moral que ocorre nos locais de trabalho”, afirmou a dirigente da CNTE.

Com informações da Agência Brasil.

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