Em uma decisão histórica divulgada esta semana, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a transexualidade da lista de doenças mentais. Para o secretário executivo da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTI da APP-Sindicato, Clau Lopes, a mudança representa um grande passo para a evolução dos debates de gênero na sociedade. O anúncio foi feito na segunda-feira (18), com a divulgação da nova Classificação Internacional de Doenças (CID).
Lopes avalia que essa atitude promove o respeito, a liberdade para as vivências e múltiplas identidades e demonstra a preocupação das organizações na despatologização de identidades que fogem da cisnormatividade imposta pela cultura machista e heterocisnormativa. “Não há cura para o que não é doença. A dignidade das pessoas trans é o que deve prevalecer nos debates com a garantia dos direitos de ser quem é”, enfatizou.
A expectativa é de que o reconhecimento contribua nas lutas e no debate contra a LGBTIfobia também na comunidade escolar. “A educação é o principal canal de mudança da cultura machista, sexista, LGBTIfóbica que somos educados. Transformar estas barreiras impostas pelo conservadorismo e pela falta de respeito é papel fundamental de toda a comunidade escolar. Garantir a inclusão e permanência das pessoas trans nos espaços escolares é dever constitucional de toda trabalhadora e trabalhador em educação no Brasil”, comentou.
Além de pedagogo e professor da rede estadual, Lopes, que é militante da causa LGBTI, destaca a importância da decisão que retira a transexualidade da classificação de doenças lembrando que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTI no mundo por motivação de ódio. “Só nos seis primeiros meses de 2018, já foram assassinadas mais de 76 travestis, mulheres transexuais e homens trans no Brasil”, disse.
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Respeito à diversidade – A última revisão do CID ocorreu há 28 anos. Até então, a transexualidade era entendida como “transtorno de identidade de gênero”. De acordo com a OMS, há claras evidências de que a transexualidade não é um transtorno mental. “De fato pode causar enorme estigma para as pessoas que são transexuais e, por isso, ainda existem necessidades significativas de cuidados de saúde”, justifica a organização em nota divulgada no site.
Em 1990, a OMS seguiu essa mesma orientação ao retirar a homossexualidade da lista de doenças mentais do CID. A data, 17 de maio, se tornou um dos símbolos da luta pelos direitos humanos e diversidade sexual e foi escolhida como Dia Internacional de Combate à LGBTIfobia.