Trabalho remoto é trabalho: No home office, professor faz terceiro turno não remunerado

Trabalho remoto é trabalho: No home office, professor faz terceiro turno não remunerado

Primeira reportagem da série mostra cotidiano do Professor Marcelo Junior dos Santos

Na foto o professor Marcelo Junior Foto: Arquivo pessoal

Solução encontrada para proteger vidas pandemia, o trabalho remoto tem rendido a muitos profissionais da educação um turno extra de trabalho, investimentos do próprio bolso e nenhuma ajuda de custo do governo do Estado. Tem sido assim com Marcelo Junior dos Santos, 43 anos, professor de Geografia formado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Professor da rede estadual desde 2005, Marcelo Junior leciona nos colégios estaduais Unidade Polo (Maringá) e Independência (Sarandi). Segundo ele, o trabalho em home office tem hora para começar, mas não para acabar. Após dar aulas das 7h30 da manhã ao fim da tarde pelo Google Meet, e de subir os materiais didáticos para a plataforma do governo, às 17h30 começa a jornada extra – não remunerada.

É a noite que o professor do Unidade Polo e Independência tira um tempo extra para responder as dúvidas de estudantes e de pais e mães por e-mail e pelo WhatsApp. É nesse horário, também, que o professor reforça a divulgação de tarefas, insistindo para que seus alunos não abandonem os estudos.

“Não dá conta de fazer só na hora atividade, que é uma vez por semana. Então, a gente tem de atender eles [estudantes e pais] depois do horário mesmo. Não tem opção”, comenta o professor.

Outro desafio do trabalho remoto são os custos adicionais. Para conseguir dar suas aulas, Marcelo Junior precisou investir do próprio bolso num ambiente adequado de trabalho, além de comprar equipamentos que não possuía, como microfone e câmera. Para acrescentar, é ele quem paga o boleto da internet.

“O governo não ofereceu nada”, reclama. “É uma situação bastante complexa. Tive de adaptar minha casa para conseguir das minhas aulas, separando um cômodo para poder fazer isso”, acrescenta.

Preocupação
Para Marcelo Junior, as dificuldades enfrentadas pelos professores não são maiores que aquela das famílias mais humildes. Em muitos casos, relata o professor, os alunos não conseguem acompanhar as aulas virtuais porque o sinal é pesado demais para a internet oferecida pelo governo.

“Muitas famílias não têm um telefone adequado, e os pais não têm condições de comprar um. Em outras famílias, só há um telefone para três filhos acompanharem as aulas. Por isso, muitos só conseguem fazer as atividades na plataforma”, relata.

Volta às aulas
Quem é professor sabe que não há a mínima chance de retomar as aulas presenciais, neste momento de pico da covid-19, sem colocar a comunidade escolar em risco. “Tive aluno que reclamou que a família toda está com coronavírus. Imagina se esses estudantes estivessem indo à aula?”, questiona.

Marcelo Junior acrescenta que crianças e adolescentes não têm a mesma atenção dos adultos para com os protocolos de segurança. Segundo ele, se o governo insistir em adotar o sistema híbrido, agora, “vai ser uma catástrofe”.

Apesar de a volta às aulas presenciais significar o fim do terceiro turno de trabalho (não remunerado), Marcelo Junior defende que isso só deve ocorrer com o mínimo de segurança. Ou seja, com os profissionais da educação vacinados.

A série “Trabalho remoto é TRABALHO”, da APP-Sindicato Maringá, continua com a rotina de um outro profissional da educação. Acompanhe.

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