Taís Mendes conclui mandato representando a APP no Conselho Estadual de Educação

Taís Mendes conclui mandato representando a APP no Conselho Estadual de Educação

Entrevistamos a Secretária Educacional da APP, que se destacou pela luta por uma escola democrática, de qualidade e plural

Após uma emocionante despedida, Taís Mendes, secretária Educacional da APP, encerra o mandato como representante do Sindicato no Conselho Estadual de Educação. A despedida ocorreu em reunião virtual do Conselho na manhã desta sexta-feira (8).

Durante o período de atuação no Conselho, Taís se destacou pela luta por uma escola democrática, de qualidade e plural, sempre prezando por um debate técnico e pautando os posicionamentos da APP.

Entre as principais pautas da secretária no Conselho, estão a luta contra os ataques à Educação de Jovens e Adultos (EJA), a implementação das escolas cívico-militares, o autoritarismo da Seed e pela valorização dos(as) educadores(as) do ensino público.

“Quero em nome de toda nossa categoria, fazer o registro do profundo agradecimento à nossa companheira. O mandato da professora Taís honrou a APP-Sindicato, mas também promoveu e dignificou o Conselho Estadual de Educação”, enfatiza o presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão.

Além do presidente da APP, prestaram homenagens a Taís a vice-presidenta da CNTE, professora Marlei Fernandes, o deputado estadual Professor Lemos e os demais conselheiros da instituição.

Com a saída de Taís Mendes, passam a representar a APP no Conselho a professora Tereza Lemos, como interina, e a professora Vanda Santana, como suplente.

 

Leia a seguir entrevista com Taís Mendes, em que ela faz um balanço do mandato, fala sobre os embates de que participou, política, representatividade e ingerência da Seed no Conselho Estadual de Educação.

 

APP – Tua luta no Conselho Estadual da Educação começou antes mesmo de assumir o cargo de conselheira, não é?

Taís – Minha ida para o Conselho foi para substituir o conselheiro Arnaldo Vicente, que representou a APP por 12 anos. Fui eleita numa assembleia, durante o Governo Beto Richa e demorei um ano para ser nomeada, porque o governo não queria acatar a vaga da APP. Então por um ano tivemos uma batalha política para que minha condição de conselheira fosse aceita pelo governo.

 

APP– Isso foi em 2015,  quando houve o Massacre do Centro Cívico…

Taís – Isso… no meio daquela loucura. Depois de um ano, eu fui nomeada conselheira, em outubro. Importante ficar registrado que fizemos um movimento político junto à Assembleia Legislativa e ao próprio Conselho Estadual da Educação, cujo presidente era o Oscar Alves. A gente conversou e ele foi falar com o Beto Richa, dizendo da importância da vaga da APP. Aí a coisa andou e eu fui nomeada. Foi nesse canário conturbado que cheguei ao conselho estadual.

 

APP – Qual foi o primeiro embate no Conselho?

Taís – Cheguei no Conselho e fui para a Câmara da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.  Já no ano seguinte, tivemos a perda da nossa hora-atividade, que aconteceu por uma Resolução da Secretaria de Educação, que não tem força de lei. Eu pautei o Conselho sobre essa questão, informando que a Secretaria tinha feito uma Resolução sobre distribuição de aulas e retirado parte de nossa hora-atividade. Eu entendia que o Conselho deveria se manifestar, pois é órgão normativo, deliberativo e guardião da legislação educacional.

 

APP – Já era a questão da hora-relógio e hora-aula?

Taís – Exatamente, esse debate vem desde aquela época. A discussão foi muito pesada e consegui que o Conselho fizesse uma nota dizendo que entendia a importância da hora- atividade e que a Resolução não tem força de lei. Então a APP passa a usar esse documento, inclusive nas ações judiciais que fizemos, justamente esse documento que conseguimos tirar no Conselho.

 

APP – O primeiro embate então foi vitorioso…

Taís – Foi o primeiro embate, que teve e tem repercussão até hoje. Isso foi tão forte, passou no Conselho por unanimidade, que alguns conselheiros foram chamados na Casa Civil do Governo do Paraná para explicar como deixaram passar esse documento. Ali eu já delimitei meu espaço político dentro do Conselho.

 

APP – Que outros embates destacaria?

Taís – Teve a questão da Educação de Jovens e Adultos (EJA), muito presente até agora; da educação do campo; da educação especial, que são embates que trazem a questão da especificidade da educação. Falo isso porque a educação especial perpassa todos os níveis educacionais, desde o pré até o ensino médio. A EJA é a garantia do estudante que não conseguiu estudar no seu tempo normal, digamos assim, e hoje tem que ter uma oportunidade de estudo. Então é para jovens, adultos e idosos também. Mais uma questão em que você precisa resgatar o direito à educação e a qualidade da educação. Quando você fala da educação do campo, é a mesma coisa, também tem essa característica que é a necessidade de garantir que aquela escola rural, aquela escola que tem outras características, tenha garantida sua especificidade. Daí a proximidade que acabei tendo com a articulação no campo, através das escolas dos assentamentos e dos acampamentos.

 

 

APP – Isso ocorreu por características pessoais e profissionais tuas, ou a conjuntura levou a isso?

Taís – É uma característica minha. Digo isso pois quando eu era diretora de escola já tinha preocupação com esse resgate do estudante. Quando assumi a direção de escola no interior do Paraná (Escola Nicolau Copérnico, em Mallet) o índice de evasão era muito alto. Quando o índice de repetência aumentou e o Núcleo de Educação questionou, eu respondi que era porque os alunos evadidos tinham voltado e estávamos num processo de recuperação. Então essa é uma questão é minha. Lógico que a conjuntura e a condição da política educacional do Estado fez com que essa questão se reafirmasse dentro do Conselho.  Acabamos nos aproximando mais ainda dessas lutas. A APP sempre teve isso muito marcado, mas isso veio mais intenso diante dessas políticas do Estado do Paraná.

 

APP – Foi preciso muito sacrifício pessoal para encarar um ambiente adverso no Conselho?

Taís – Meus embates foram sempre de cunho pedagógico. Claro que tinha também um cunho político, mas com o pedagógico sempre junto. Sempre procurei ser muito respeitosa com os conselheiros, respeitando a trajetória de cada um. Eu podia divergir, politicamente, mas sempre respeitei o Conselho como órgão normativo, consultivo e deliberativo, entendendo que é um espaço de debate, de disputa e um espaço que temos que garantir.

 

APP– A atuação do Conselho se modificou ao longo dos seis anos do teu mandato?

Taís – Hoje há uma fala no Conselho de que ele tem que trabalhar junto com a Seed. Não. A Seed é que tem que trabalhar com o Conselho, que é um órgão normativo. A Secretaria executa a norma. Temos que fazer uma campanha em defesa do papel real do Conselho, que é legislar, deliberar, normatizar, não só acatar. O que tem acontecido é que a Secretaria inventa alguma coisa, sem consultar o Conselho e, depois do fato consumado, apresenta ao Conselho para fazer a norma.

 

APP – Em que casos isso aconteceu?

Taís – É o caso das escolas cívico-militares, a mudança na oferta da EJA, que foi votada apressadamente em 2019, sem debate no Conselho. A Secretaria faz, depois consulta o Conselho e, o pior, às vezes faz errado e o Conselho tem que consertar.

 

APP – Avalia que o debate sobre o novo ensino médio foi bem feito?

Taís – Eu entendo que não foi bem feito. Não pela discussão no Conselho, mas pela falta de participação da comunidade escolar. E não é o Conselho que tem que organizar esse tempo, quem executa isso é a Secretaria. O conselho fez uma consulta pública, de um mês. Eu entendo que deveria sido feito uma audiência pública. A Secretaria mudou a matriz, não consultou o Conselho, nem a comunidade. Agora temos a APP e outras entidades questionando a nova matriz, que eu e outros conselheiros entendemos que é irregular,

 

APP – A implantação das escolas cívico-militares também tem sido bastante questionada…

Taís – Temos recebido no Conselho processos informando que a escola tinha educação profissional e não pode ter mais porque agora é cívico-militar e não pode ter aulas à noite. Então os alunos foram transferidos para outra escola.  Só que quando uma escola recebe autorização para ter ensino técnico de enfermagem, por exemplo, antes é feita uma visita para ver se tem professor, se tem estrutura para o curso. Se eu mudo a escola de lugar, nem sempre as condições são as mesmas. Agora estão chegando ao Conselho documentos para regularizar isso, mas depois do fato consumado, sem que o Conselho tenha sido consultado anteriormente. Todo esse debate eu fiz lá.

 

APP – Comenta-se sobre a ingerência da Seed no Conselho. É fato?

Taís – A gente percebe a influência do secretário e da equipe dele dentro do Conselho, que tem suas atribuições. É nítida essa influência, que não é benéfica. A Secretaria de Educação é o órgão que executa, que mantém a rede estadual, então não deveria interferir dentro do Conselho.

 

APP – Avalia que conseguiu fazer a interlocução da APP com outras entidades no Conselho?

Taís – Eu avalio que eu trouxe, até pela minha função de secretária Educacional da APP, eu trouxe o debate educacional da APP para dentro do Conselho e trouxe o debate do Conselho para dentro da APP. Tanto que passamos a orientar as escolas que fizessem denúncias no Conselho, justamente pela participação que eu tinha no Conselho, de poder falar e acompanhar essas denúncias. Isso foi muito importante. A representatividade da APP nesse Conselho é muito importante. A APP é o maior sindicato do Paraná, um dos maiores sindicatos da educação do País. Nós temos uma história de luta, que tem que se refletir nos espaços onde a APP atua. Um Conselho sem os representantes dos trabalhadores da educação não é um conselho de educação.

 

APP – Considera que representou bem a APP nos seis anos de mandato no Conselho?

Taís – Uma coisa que sempre dizem no Conselho é que representei bem a APP. Hoje eu disse que representei bem a APP pois acredito na entidade que pertenço, e porque a APP não me violentou em momento nenhum para defender uma pauta em que não acreditava. As decisões que eu trago para o Conselho são maturadas em assembleia, em reuniões de deliberação de direção. Só consegui fazer isso com tanta emoção e tanta força porque acredito em tudo o que defendi.

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