Sobre as aulas EAD na escola pública do Paraná

Sobre as aulas EAD na escola pública do Paraná

*Por Christina Aparecida dos Santos

Foto: Divulgação

O Brasil, um dos países com maior índice de analfabetismo, que historicamente foi negligenciada a educação escolarizada para a grande parcela da população, vive neste momento de pandemia, mas um ataque à construção de uma escola pública, democrática e de qualidade para todos. Medidas tomadas pelo governo do Estado do Paraná, quanto a oferecer a Educação na modalidade a distância para os jovens do Ensino Fundamental e Ensino Médio, desrespeita o estudante comprometendo sua aprendizagem, desrespeita os profissionais da educação e toda a organização escolar constituída em nosso país. Não se trata de um acaso, mas de um projeto pensado para a manutenção de nossa condição de precário desenvolvimento intelectual.

Entende-se que o processo de aprendizagem requer um planejamento por parte de quem organiza esse processo, ou seja, o professor. Este, formado em suas áreas específicas, tem os conhecimentos técnicos e científicos para conduzir o processo que leve à apropriação do conhecimento e a sua produção por parte dos estudantes. É um engodo afirmar que se aprende apenas pelas ‘técnicas”. Não! Não se aprende apenas por técnicas, aprende-se, quando o conteúdo a ser trabalhado, tem significado para o aprendiz e acontece, sobretudo, pela mediação do professor, pelo conflito entre o conhecimento de senso comum e o conhecimento cientificamente elaborado, pela relação de troca de saberes, pela interação do grupo e por entenderem as finalidades da educação – a assimilação e a produção de conhecimentos para a atuação consciente na sociedade. Um projeto colocado de cima para baixo como este do Estado do Paraná, desrespeita o professor no seu fazer pedagógico, desrespeita sua atuação quando não propicia a possibilidade de gerir o processo, o desrespeita quando não o capacita para o que se exige (mídia e outros), desrespeita seu profissionalismo quando não dialoga para a busca de soluções na atual crise.

E o estudante como fica? Como será a sua aprendizagem? Qual será a interação que terá com o grupo? Como se apropriará do conhecimento científico? Conseguirá contrastar sua visão caótica do todo com o conhecimento científico? E os que não possuem acesso a essas tecnologias, como será? Talvez seja uma visão pessimista de minha parte, mas não creio que os processos de aprendizagem e de produção de conhecimento sejam adequadamente consolidados do modo proposto. É preciso repensar. Tudo isso não quer dizer que sou contra às tecnologias, não, não é isso. Sou contra aos meios inapropriados que estão sendo colocados com a pseudo ideia de que serão eficientes. Eficientes para quem? Talvez aos vampiros que lucrarão economicamente com tudo isso. Receio que o estudante, sobretudo, os que estão à margem, ficarão ainda mais à margem, sem acesso, sem processo, sem nada. Isso não é acaso, isso é um projeto que deve ser questionado e destruído.

Além de tudo, um projeto desse teor, desrespeita o que já foi discutido com a comunidade escolar, que participa da gestão da escola por meio de conselhos, principalmente o Conselho Escolar. Questiona-se: os Conselhos Escolares foram consultados? Os professores, a equipe diretiva e toda a comunidade escolar foram ouvidos? Que respeito se tem pelo processo democrático de nossas escolas? E os estudantes, tiveram voz nessa decisão? O que pensam a respeito? É preciso refletir sobre tudo isso e, de modo coerente, tomar as decisões necessárias. Quando os envolvidos não são ouvidos, a tendência é a subserviência e a dominação que busca perpetuar-se e, ao mesmo tempo, negar o conhecimento que tem em si a possibilidade de mudança.

De tudo isso, deixo claro meu posicionamento de que não sou contrária à utilização das tecnologias, até porque faço uso delas e me ajudam muito, mas sou contrária ao modo como estão colocando goela a baixo um projeto excludente, sem organização adequada, sem ouvir as partes envolvidas, sem pensar nos que serão mais uma vez excluídos desse processo.

É preciso discernimento, é preciso reflexão, é preciso um olhar que leve em consideração a totalidade de acontecimentos e entender que se trata de um projeto pensado por um governo neoliberal e estrategista que se utilizará da mídia para propagar – “a educação que deu certo”. Deu certo para quem?

Ah, entendi – deu certo para a manutenção da miséria e da pobreza material e intelectual que assolam nosso país.

É preciso refletir e resistir!!

*Christina Aparecida dos Santos – doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá – UEM

 

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