Reflexão e enfrentamento. A sexta-feira (13) começou na APP-Sindicato com um seminário pedagógico sobre as plataformas digitais impostas pelo governo Ratinho Junior na educação pública paranaense. O encontro em Curitiba reuniu educadores(as) da rede e dirigentes sindicais de todo o estado.
A adoção de plataformas como a Redação e o Inglês Paraná tiram o sono de educadores(as). Metas inalcançáveis, exposição pública das escolas que não atingem os resultados e estrutura não condizente com as exigências do governo atrapalham o processo de ensino-aprendizagem, se sobrepondo a outros conteúdos pedagógicos.
A indignação da categoria, sentida nos canais de comunicação da APP e principalmente na escuta de educadores(as) durante a Caravana da APP nas escolas, motivou a realização do encontro. “Queremos ouvir a categoria, pois são vocês que sentem na pele o dia a dia da realidade escolar. E principalmente fazer com que o governo ouça vocês”, explicou Nádia Brixner, secretária executiva Educacional da APP.
O problema não é a tecnologia como suporte didático, mas a sua instrumentalização por um projeto político de vigilância e punição. “No discurso oficial do governo, as plataformas são recursos pedagógicos não obrigatórios. Mas, na prática, tornam-se obrigatórios mesmo sem equipamentos, sem formação, e com estudantes que não dominam as tecnologias”, avalia a presidenta da APP, Walkiria Mazeto.
“Na escola estamos sempre correndo para resolver o imediato e não há tempo para questionar o que está por trás das imposições. É importante entender com o que estamos lidando para então tirar as estratégias de resistência”, complementa.
O encontro terá desdobramento à tarde, quando uma comissão dos(as) participantes será recebida pela Secretaria da Educação para expor os problemas e cobrar soluções. “Todos estão se multiplicando em várias funções para dar conta do trabalho nas escolas. Vamos elaborar uma carta baseada nos relatos deste encontro e entregar à Seed para dar voz a todos(as)”, afirmou Sidineiva Gonçalves, secretária de Formação da APP.
Além das dificuldades, as plataformas atacam diretamente a autonomia pedagógica. “Como fica a autonomia de cada um(a) para elaborar conteúdos e práticas de acordo com as reais necessidades da comunidade escolar? A pressão e o assédio limitam a liberdade de aprender e ensinar”, questiona Clau Lopes, secretário de direitos LGBTI+.
Aline Carissimi, do Departamento de Pedagogos(as) da APP, reforça os perigos da lógica meritocrática na escola pública, pautada por uma perspectiva da avaliação padronizada e da “satisfação do cliente”, como no caso da recente pesquisa “professor diamante”.
“Hoje esse é o nosso universo dentro das escolas. É a política do empresariado. E por conta disso somos avaliados e punidos. Não queremos acabar com a tecnologia na escola, pelo contrário. Há bons exemplos, como o RCO, pois ninguém quer voltar para o papel. Mas isso precisa ser feito de forma a ajudar, e não atrapalhar o ensino”.
Como destaca Cleiton Costa Denez, secretário executivo de Formação, “o objetivo deveria ser servir a escola e melhorá-la. E não ao contrário, como está acontecendo. Este é um modelo que só serve para avançar rumo à privatização e à terceirização.”