Seminário organiza enfrentamento à plataformização da educação pública no Paraná APP-Sindicato

Seminário organiza enfrentamento à plataformização da educação pública no Paraná

O evento lotou o auditório da sede estadual da APP para refletir sobre o tema e partir da crítica para a ação crítica

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Educadores(as) de todo o Paraná e pesquisadores(as) debateram, ao longo deste sábado (1º), o avanço da plataformização na rede estadual de ensino, refletindo sobre seus impactos no trabalho docente e na aprendizagem, bem como as dimensões política, econômica e ideológica do projeto de desumanização em curso nas escolas do Paraná.

Organizado pela Secretaria Educacional, o seminário “Plataformização da educação: um debate necessário” lotou o auditório da sede estadual da APP para refletir sobre o tema e partir da crítica para a ação crítica, construindo estratégias de resistência e enfrentamento. A mesa da manhã, com a presença da Profª. Drª. Carolina Batista Israel, da UFPR, e do Prof. Dr. Roberto Moraes Pessanha, da UFRJ, foi transmitida ao vivo nas redes do Sindicato.


Aliadas à imposição de metas pelo governo Ratinho Junior, as plataformas educacionais transformaram-se em instrumentos de controle, vigilância, coação e corrosão da autonomia pedagógica em sala de aula. O fenômeno, acelerado pela pandemia, apoia-se na lógica neoliberal para transferir recursos, o currículo e o próprio fazer pedagógico para empresas privadas.


“Na nossa perspectiva, a educação é um processo de desenvolvimento de todas as potencialidades dos estudantes”, afirma Vanda Santana, secretária Educacional da APP-Sindicato. “Para os gestores e para o mercado, a concepção de educação é baseada na meritocracia e na concorrência. Nesse contexto, a padronização do currículo e o controle do desempenho de educadores e estudantes é fundamental para mensurar a competitividade. A plataformização cumpre esse papel nas nossas escolas”, completa.

>> Acesse a apresentação em PDF da secretária Vanda Santana


Para a pesquisadora Carolina Batista Israel, o avanço das plataformas obedece à escola de pensamento behaviorista, cuja centralidade nos procedimentos aliena estudantes e professores(as) do ensino-aprendizagem. “A planificação e a burocratização escamoteiam a privatização. São atores privados que decidem quais plataformas serão usadas, o que vai ser ensinado e como vai ser ensinado”, avalia.


Carolina também expôs a vigilância e a monetização de dados como indissociáveis do uso de plataformas privadas, que alimentam algoritmos voltados a influenciar os hábitos de consumo dos(as) indivíduos(as). “O que vemos com essa extração contínua de dados e com o uso dessas novas tecnologias é uma nova forma de controle comportamental em uma escala tremenda”, diz.

>> Acesse a apresentação da pesquisadora em PDF

Já o pesquisador Roberto Moraes Pessanha elaborou sobre a inserção das plataformas no atual estágio do capitalismo, marcado pela precarização das relações de trabalho e assentado sobre um tripé composto pela financeirização, o neoliberalismo e a digitalização.


“É uma covardia pegar o estudante que acabou de sair de um longo período de isolamento, com diversos problemas de aprendizagem e socialização, e transformá-lo em um depositário de experimentos tecnológicos a serviço do capital”, assevera.


“Mas os aplicativos e plataformas não são um problema em si. Não vamos nos transformar nos ludistas que tentaram quebrar as máquinas na revolução industrial. O problema é o uso da tecnologia controlado por grupos empresariais”, alerta.

>> Acesse a apresentação do pesquisador em PDF

Para Margleyse dos Santos, secretária executiva Educacional, o debate necessário parte do agora, mas deve mirar no futuro. “Que escola nós teremos daqui a cinco anos. Como vamos estar enquanto educadores e educadoras? O que será dos nossos alunos se esse processo continuar? São essas as indagações que precisamos enfrentar hoje.”

Distanciamento


Os impactos da plataformização nas condições de trabalho da categoria e na aprendizagem dos(as) estudantes reverberam em todo a rede estadual. Professora em Cascavel, Jociane de Oliveira Emanuelle conta: “os problemas são muitos, vai dos alunos com deficiência que não têm acessibilidade até a falta de estrutura para usar as plataformas. Mas a maior crítica é a padronização sem a devida mediação. Sobra muito pouco tempo para o professor trabalhar em sala de aula o aprofundamento dos conteúdos. A falta de articulação entre o conhecimento e a realidade dos estudantes gera um distanciamento que aumenta a evasão”.

Para o professor aposentado Benjamim Perez Maia, que atuou em um Núcleo Regional de Educação, passou da hora da categoria questionar o seu papel neste processo e construir formas efetivas de resistência. “Não somos mais professores, somos técnicos. Passamos o dia preenchendo planilhas e operando plataformas. Foi para isso que nos formamos? Onde vamos chegar com esta desumanização da educação?”, pontua.

Uma outra plataformização é possível?

A partir das provocações da mesa de abertura, os(as) presentes se dividiram em grupos de trabalho à tarde para construir coletivamente a posição da APP e as estratégias de luta da categoria.


“Se não é possível acabar com as plataformas, o que nós vamos fazer com elas? Como transformá-las em instrumentos de apoio pedagógico, e não de imposição e de captura da educação pública por atores privados? Como organizamos a nossa vida na escola e a nossa resistência, mas também a disputa deste espaço?”, questionou Walkiria Mazeto antes da formação dos grupos.


Os resultados do debate serão divulgados em um manifesto que vai compilar as contribuições do seminário e servirá de norte para a atuação sindical e a necessária resistência nas escolas.

APP realiza pesquisa sobre a plataformização

A APP-Sindicato e o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) estão realizando uma pesquisa com professores(as) da rede estadual sobre a plataformização da educação. Iniciada na última segunda-feira (26), 300 educadores(as) de todas as regiões serão ouvidos pelos pesquisadores(as) do Instituto.

A Secretaria Educacional do Sindicato trabalhou em conjunto com os(as) cientistas sociais do Instituto para desenvolver o questionário. A expectativa é que os dados coletados ajudem a subsidiar a resistência e o debate com governo e sociedade sobre o tema, que deve ser um dos focos da luta no próximo período.

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