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Debater, refletir coletivamente e construir propostas por uma escola sem machismo, sem LGBTQIA+Fobia e antirracista. Com esta proposta, mais de 200 educadores(as) de todo o Paraná reúnem-se, nesta sexta (29) e sábado (30), na sede estadual da APP, em Curitiba.
O seminário estadual é também uma oportunidade de formação em direitos humanos para os (as) dirigentes e educadores(as) integrantes dos coletivos de mulheres, racial e LGBTQIA+ do Sindicato. A atividade se soma à segunda fase da Escola de Formação da APP, realizada em parceria com a Unespar.
“O desrespeito aos direitos humanos, o machismo, a LGBTQI+Fobia e o racismo matam. E a escola é o espaço onde essas práticas são reproduzidas cotidianamente. É preciso saber reconhecer essas várias manifestações de violações e agressões para fazer a desconstrução e o enfrentamento necessários”, diz Jussara Aparecida Ribeiro, secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos.
“A APP-Sindicato tem o compromisso com uma educação transformadora e libertadora, e por isso promovemos o conhecimento, o debate e a reflexão sobre temas que são direitos fundamentais para a construção de uma escola livre de preconceitos e discriminações”, completa Jussara.
Ao todo, são três mesas com especialistas aprofundando os temas da interseccionalidade de classe, raça/etnia, gênero e sexualidade, direitos humanos para uma educação humanizadora e os desafios e possibilidade para uma educação antirracista, feminista e inclusiva. A íntegra dos debates será disponibilizada no canal de Youtube da APP na próxima semana.
Coletivos
Na parte final do encontro, os coletivos da APP vão se reunir para definir estratégias de atuação nas escolas.
Para Taís Adams, secretária da Mulher Trabalhadora, o debate ganha proeminência diante dos acontecimentos da semana, marcada pelo brutal feminicídio da professora PSS Viviane Brum.
“Não vamos superar o machismo estrutural se a desconstrução não começar na escola”, avalia Taís. “O Paraná é um dos estados que mais sofre com a violência contra a mulher e a luta pela igualdade de gênero deve acontecer em todos os espaços e todos os dias”, complementa.
“O seminário estadual é importante para a gente pensar que escola queremos, em que modelo de escola a gente acredita enquanto professores e funcionários de escola”, afirma Clau Lopes, Secretário Executivo da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTI+ da APP.
O dirigente aponta a necessidade de refletir e se organizar para resistir aos ataques antidemocráticos a direitos conquistados. “Nos últimos nossas escolas foram violentamente atacadas, na perspectiva dos direitos humanos”, diz.
“Nos últimos cinco anos enfrentamos diversos projetos de lei para minimizar o conhecimento de nossos estudantes e vieram atrocidades como a escola sem partido, a lei da mordaça, a tal da ideologia de gênero, uma mentira do fundamentalismo religioso, os ataques à população LGBT dentro das escolas”, observa Clau.
Para Celina Wotcoski, secretária de Promoção de Igualdade Racial e Combate ao Racismo, o objetivo do encontro é estimular reflexões sobre como avançar nas pautas. “Não dá para tratar da inclusão social das mulheres e negros(as) apenas nos meses de julho e novembro. E não basta chamar pessoas negras para falar sobre racismo na escola, porque para construir uma sociedade antirracista precisamos de que todos falem a mesma língua, que não exista discriminação, racismo, nem preconceitos”, afirma.
“Nosso seminário quer mostrar que a gente precisa unir todas as diversidades para que a gente tenha uma sociedade mais justa”, resume Celina.
Um melhor preparo dos(as) educadores(as) para fazer valer as leis que já existem é um bom começo nesse caminho, aponta a secretária da APP. Ela lembra que em 2023 completam-se dez anos da Lei 10.639, que determina a obrigatoriedade do ensino da história da cultura afro-brasileira, indígenas e quilombolas nas escolas do ensino básico. Uma década depois de sua aprovação, a lei ainda não é integralmente cumprida nas escolas.
Primeira mesa
A primeira mesa do seminário, na tarde desta sexta, contou com as pesquisadoras Maria Inez Barboza Marques e Sirlene de França de Souza, com intermediação de Sidineiva Gonçalves de Lima, secretária de Formação e Cultura da APP, e de Cleiton Costa Denez, secretário Executivo de Formação e Cultura.
A proposta das pesquisadoras é ampliar o debate incorporando simultaneamente questões de gênero, raça e classe social para compreender melhor nossa sociedade.
“A interseccionalidade é uma ferramenta analítica que possibilita ver a coesão das estruturas e as dinâmicas dessas interações de opressões de forma simultânea, interações que se cruzam nos recortes de gênero, raça e classe”, explicou Sirlene.
Sirlene usou uma metáfora para facilitar o entendimento do conceito de interseccionalidade: “É como se opressões fossem avenidas, que se cruzam em algum momento; esses cruzamentos às vezes se dão entre gênero e raça, ou entre gênero e classe, e muitas pessoas são atropeladas em várias dessas avenidas”.
É impossível discutir racismo sem tratar da luta de classes, aponta Sirlene. “Enquanto tivermos capitalismo teremos uma sociedade racista. Quem é a base dessa construção? Quem foi que construiu esse país? De onde vieram essas pessoas? Como foi esse processo e como ele se articula ainda hoje?”, diz.
A pesquisadora cita Angela Davis para explicar o imbrincamento de raça, gênero e classe na sociedade: “É preciso compreender que classe informa raça, mas raça também informa classe. E gênero informa classe. Raça é a maneira como a classe é vivida, da mesma forma que gênero é a maneira como a raça é vivida”.
“A gente precisa repetir bastante isso para perceber as intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a ver que entre essas categorias há relações que são mútuas, acontecem de forma simultânea, e outras que são cruzadas. Nenhuma categoria pode assumir a primazia sobre as outras”, afirma.
Luta de classes
“Na luta de classes não tem empate”, disparou Maria Inez em sua apresentação. Segundo ela, é impossível discutir gênero sem considerar patriarcado e capitalismo. “A ideologia dominante patriarcal e capitalista penetra na cabeça dos indivíduos
Maria Inez aponta a necessidade de desconstruir mistificações como a chamada ideologia de gênero. “Primeiro: não é uma ideologia e tem sido apontado como algo muito ruim pois acaba com as famílias, com o objetivo de propagar pânico social e reação a quem estuda o tema. É necessário desmistificar isso”, observa.