Como fazer frente ao aparente recrudescimento do conservadorismo na América Latina? Qual o papel dos trabalhadores e trabalhadoras na eleição dos governos de esquerda na última década nos países latino americanos? O ciclo progressista, nestes países, acabou? Estas e outras questões foram abordadas no Seminário Internacional promovido na noite desta segunda-feira (25), em Foz de Iguaçu, pela APP-Sindicato. O evento reuniu mais de 800 delegados(as) e convidados(as) para pensar sobre a organização, resistência e desafios – colocados pelo capitalismo – dos trabalhadores(as) na atualidade.
Ao dar as boas-vindas aos participantes, o presidente da APP, professor Hermes Silva Leão, expressou a alegria da entidade em criar este espaço de debate. “Com muita alegria que nós, da APP, acolhemos todos e todas, dos 29 Núcleos Sindicais e convidados. Nós temos procurado seguir o ensinamento do velho e bom Marx: ‘Trabalhadores do mundo, uni-vos!’. E ficamos muito felizes de estarmos aqui, em Foz, esta fronteira que carrega simbolismo e desafios imensos para os povos latino-americanos, para a classe trabalhadora, e para os movimentos sociais e sindicais, com o intuito de refletir sobre os ataques cada vez mais rotineiros do capital contra a classe trabalhadora”, explicou.
O convidado principal da palestra foi o ex-secretário de Relações Internacionais da Central de Trabalhadores de Cuba, Leonel González, que atualmente faz parte do Centro Martin Luther King, de Havana, Cuba. Também palestraram Fátima Aparecida d Silva, secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), e a psicóloga e coordenadora da organização feminista ‘Sempre Viva’. Também compôs a mesa para uma saudação o sindicalista paraguaio Oscar Villar, da União Nacional dos Educadores.
Segundo González, a experiência alcançada com a derrota da Alca (Área de Livre Comércio da América Latina), em 2005, foi um exemplo da força dos movimentos sociais, entre eles o sindical. “O governo neoliberal fracassou na América Latina com a derrota da Alca por conta da luta dos movimentos sociais. Há quem diga que o papel de Chávez, Lula, Kichner, Evo foi fundamental para esta derrota. E sim, eles têm mérito. Mas o grande mérito foi da organização popular do movimentos populares e sociais. Estes governos progressitas foram eleitos por estes povos que resistiram, lutaram contra a privatização e exclusão social”, relacionou.
Ele também citou os avanços alcançados na última década, quando 42 milhões de pessoas, na América Latina, saíram da situação de pobreza extrema. Mas, segundo o ex-deputado cubano, com o fortalecimento do modelo socialista nos países latino americanos, de certa forma, houve uma desmobilização. “Agora, mais que nunca, devemos voltar a nos reunir para discutir como pensar e continuar a nossa luta”, alertou. Para González, o resultado das eleições em certos países latinos serve como um lembrete que a realidade pode mudar a qualquer momento. “E é fundamental que o movimento sindical continue fazendo o trabalho de conscientização da classe trabalhadora para que a resistência aos ataques do capital continue”.
A professora Fátima Silva, da CNTE e da Internacional da Educação (IE), traçou um rápido panorama da educação na América Latina. Ela falou da luta em comum na maioria dos países contra a mercantilização do segmento e contra os projetos e cartilhas do Banco Mundial. Também citou a fragilidade da democracia nos países latino-americanos e no impacto que as grandes mudanças ocorridas no mundo, nos últimos 50 anos, teve no continente. Segundo ela, nos últimos 50 anos o acesso a educação superior, nos países latinos, aumentou cinco vezes. Para ela, “manter um sistema democrático e de direitos” é a grande bandeira dos(as) trabalhadores(as). “Temos que valorizar o que conquistamos no Brasil, mas isto não significa que não devemos avançar para aquilo que realmente queremos”, afirmou.
A psicóloga e feminista Nalu de Faria da Silva alertou que a durante muito tempo, inclusive nos espaços de esquerda, agenda feminista se limitava a olhar aspectos específicos da vida das mulheres, sem questionar o fato de que o neoliberalismo operava uma reorganização da vida, como um todo, pelo mercado. A globalização e as condições econômicas cada vez mais precárias acrescentam a vulnerabilidade das mulheres frente a todos os tipos de violência. “Para isso, sabemos que é necessário mudar o paradigma atual, centrado no mercado. Queremos desenvolver como central o cuidado pela vida humana e, portanto a reprodução se tornar um eixo central de nosso projeto. Isso significa que temos combinado a luta anticapitalista com a luta contra a desigualdade de gênero, contra o racismo, contra a diversidade sexual”, opinou.