Faxinelenses, ribeirinhos(as), quilombolas, indígenas, assentados(as). Educadores(as) das redes municipais e estadual, pesquisadores(as) universitários(as), representantes de movimentos sociais. Enfim, um público diverso e abrangente que retratou fielmente a educação do campo e que participou, ativamente, do segundo e último dia do IV Seminário Estadual, realizado na sede da APP-Sindicato, em Curitiba. Neste sábado (22), os grupos reuniram-se para traçar um diagnóstico da realidade vivenciada pelas escolas que, a despeito dos esforços do governo do Estado para acabar com a modalidade, ainda sobrevivem. Os 20 anos de existência da modalidade no Paraná também foi lembrado.
“O seminário foi pensado para reorganizar a educação de campo no Estado, para organizar a resistência e fazer o debate pedagógico sobre qual a educação do campo a gente quer para o Paraná, bem como avaliar como está a situação hoje. Também trabalhamos para montar um diagnóstico e apontar as perspectivas do que queremos”, explicou a professora Walkíria Olegário Mazeto, secretária Educacional da APP-Sindicato. De acordo com ela, o grande desafio, hoje, não é nem a discussão pedagógica, mas outra muito mais urgente: a sobrevivência da modalidade no Paraná e no Brasil.
O quadro é confirmado pelo pedagogo e membro do Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Walter de Jesus Leite. “A partir de 2015, temos presenciado as tentativas um forte movimento, sem precedentes, de fechamento de escolas do campo e turmas em todas as regiões do Estado. Conseguimos, através da Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, reagir e barrar a muitas iniciativas dessa natureza. Mas este é um movimento que promete voltar ainda mais forte, especialmente se considerarmos as medidas que o governo federal vem tomando, a exemplo da MP 759/2016, que deve alterar toda a lei agrária com a intenção de esvaziar o campo”, alertou.
A professora Maria Isabel Grem, também integrante do Setor de Educação do MST, vê a realização de um seminário estadual como fundamental na atual circunstância. “Este seminário foi muito importante neste momento em que vivemos o desmonte da educação, em especial o da educação do campo. Encontrar aqui pessoas de todos os cantos desse Paraná, que lutam se manter no campo, para manter a educação no campo em evidência, é muito animador. Agora, precisamos reconhecer e rever a luta. Foi difícil iniciar esta modalidade, pois este é um embate que vem junto com a reforma agrária e a posse da terra. Terra e educação sempre estiveram vinculados na luta contra o neoliberalismo”, observou.
Organização e resistência – A APP-Sindicato, como integrante da Articulação, tem um papel relevante neste debate. Os participantes da atividade concordaram que sem o apoio da entidade a realização do seminário seria muito mais difícil. Se não impossível. “Tem sido fundamental a atuação da APP, não só como formuladora, mas por subsidiar esta luta”, destacou Walter Leite. Mas o trabalho precisa ir além da APP. “Saímos com encaminhamentos para todos os segmentos que debatem a educação do campo. Nas universidades eles vão repensar as pesquisas e criar uma rede de pesquisadores. Os trabalhadores e trabalhadoras que atuam na Educação, junto com os movimentos sociais, irão atuar na nossa reorganização dentro do Estado, aAs nossas regionais, tanto da APP, como da Articulação do Campo. Se estou, por exemplo, na região de Guarapuava, vou mapear quem na Universidade acompanha a questão, como também na APP, na escola do Estado, do município, nos movimentos. Tudo isto para buscar companheiros e fortalecer a rede de apoio a educação de campo e fortalecer a resistência contra os fechamento que estão acontecendo”,
Para a assessora técnica da APP-Sindicato, Vanessa Reichenbach, a realização do Seminário foi um grande passo para o segmento. “Este debate deveria ter sido realizado em maio do ano passado, mas, por conta da greve, teve que ser adiado. Mas ficamos satisfeitos que ele tenha finalmente acontecido. E vale lembrar que apesar de a APP sediar e apoiar o debate, este foi um encontro feito conjuntamente pelas entidades que compõem a Articulação da Educação no Campo. A carta produzida ao final da atividade aponta para a construção da unidade política em torno da educação do campo, algo que representa não apenas a escola, mas um projeto de sociedade. Além disso, com a retomada da organização, vamos preparar um seminário para o ano que vem, 2018, quando se completam 20 anos de educação do campo”, explicou