Mulheres são protagonistas na história: A APP-Sindicato apresenta 12 mulheres de diversas áreas e contribuições sociais que deixaram suas experiências de vida como exemplos de luta e de defesa de gênero para a sociedade.
8 de Março soma-se à Semana de Valorização de Mulheres que Fizeram História e a A APP-Sindicato incentiva que educadoras(es) intensifiquem suas atividades pedagógicas para resgatar as conquistas e vivências dessas mulheres.
1) Rosa Parks (1913 – 2005)
Nascida em 4 de fevereiro de 1913 em Detroit, Rosa Louise McCauley foi uma ativista negra norte-americana que subverteu a ordem e contrariou a legislação segregacionista da época ao se negar a oferecer seu lugar no ônibus para um homem branco.
Rosa Parks foi presa por violar o capítulo 6, seção 11, da lei de segregação do código da cidade de Montgomery, mesmo não estando em lugar direcionado para pessoas negras.
Graças a sua ação de revolta, a população negra de Montgomery iniciou um grande boicote ao transporte público da cidade, que contou com a presença do lendário militante do movimento negro, Martin Luther King Jr. Os mais de 40 mil usuários(as) negros(as) de ônibus da cidade e arredores prosseguiram com o boicote por 381 dias. Em 1956, a Suprema Corte americana julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos.
Em 1992, Parks publicou um livro autobiográfico chamado “Rosa Parks: My Story”, onde relatou todas as suas vivências em um país racista, além da história que a fez ser conhecida mundialmente.
Morreu de causas naturais em 24 de outubro de 2005, já acometida de uma saúde física e mental já muito debilitada.
2) Maria da Penha (1945)

Marco na luta pela vida das mulheres brasileiras, Maria da Penha Maia Fernandes, sofreu uma tentativa de feminicídio e graças a sua luta por justiça, uma importante ferramenta na luta contra o feminicídio e a violência doméstica foi aprovada no Brasil.
Mãe de três filhas, Maria da Penha sofreu duas tentativas de feminicídio pelo seu ex-marido, o economista e professor universitário colombiano Marco Antonio Heredia Viveros. Na primeira vez, Marco Antônio forjou um assalto e tentou assassiná-la a tiros; já na segunda vez tentou matar Maria da Penha eletrocutada. Por conta das duas tentativas de assassinato, a ativista ficou paraplérgica.
Faltando seis meses para a prescrição do crime, seu agressor foi condenado e cumpriu apenas dois anos de sua pena, ficando livre em 2004,
O caso chegou à comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) e foi considerado, pela primeira vez na história, um crime de violência doméstica. Já em 7 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, um marco na luta do Estado Brasileiro contra a Violência de Gênero.
Atualmente, a ativista é coordenadora de estudos da Associação de Estudos, Pesquisas e Publicações da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV), no Ceará.
3) Frida Kahlo (1907 – 1954)
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, mais conhecida como Frida Kahlo, foi uma artista revolucionária que é símbolo da força de vontade e luta.
Nascida em Coyoacán, no México, Frida sofreu com uma poliomielite aos seis anos de idade, desenvolvendo graves sequelas em uma de suas pernas. Devido a sua doença, a artista passou a utilizar saias longas, que futuramente se desenvolveram nas famosas saias coloridas, uma de suas marcas registradas.
A “filha da revolução” viveu parte de sua infância durante a revolução mexicana de 1910 e começou a pintar após um grave acidente de carro que lhe custou um agravamento em sua saúde já debilitada.
O primeiro quadro da mexicana, intitulado “Autorretrato em vestido de veludo”, foi pintado em 1926 para presentear seu ex-namorado, embora já fizesse autorretratos desde seus 18 anos quando ficou acamada por conta do acidente. Nesse período, pintava-os baseada na visão que tinha de um espelho que ficava em frente à sua cama.
Frida seguiu pintando sobre diversos momentos de sua vida, sempre com cores fortes e traços marcantes, característica que a fez ser conhecida mundialmente. A artista também retratava aspectos íntimos e femininos como abortos e feminicídios, tabus para a época.
O filme “Kahlo” lançado em 2002, retratou toda a história da artista e contou com a atriz Salma Hayek interpretando Frida Kahlo.
4) Rosa Luxemburgo (1871 – 1919)
Filósofa e economista marxista polonês-alemã, Róża Luksemburg, mais conhecida como Rosa Luxemburgo foi uma importante militante feminista, com contribuições intelectuais com análises críticas sobre o pensamento marxista e novas propostas de leitura para o socialismo.
Nascida no condado de Zamość, em 5 de março de 1871, Rosa Luxemburgo aliou o pensamento marxista ao feminismo, enfatizando a necessidade de incluir as mulheres na militância e tratar das lutas femininas na causa operária.
Após diversas prisões e desentendimentos em partidos de esquerda por conta de sua atuação política, Luxemburgo passou a defender a Revolução Russa de 1905, apoiando os(as) bolcheviques contra o império russo.
Em 1914, a intelectual foi presa, julgada e condenada a um ano de prisão por desobediência civil e, em 1915, foi presa novamente por ser contrária à guerra e à formação militarista da nação, ficando retida até 1918.
Foi assassinada em 1919, junto com Karl Liebknecht, Wilhelm Pieck. Os três nomes eram os(as) principais líderes do Partido Comunista da Alemanha.
5) Marie Curie (1867 – 1934)
Física e química, Marie Skłodowska-Curie foi pioneira ao conduzir pesquisas sobre a radioatividade e ao ser a primeira mulher a receber o prêmio Nobel, conquistando também a grande marca de ser a única mulher premiada duas vezes com o Nobel.
Nascida na Polônia em 4 de julho, Marie se naturalizou francesa, sendo a primeira mulher a se tornar professora na Universidade de Paris. Seus estudos incluem a teoria da “radioatividade”, teoria que ela mesma cunhou, técnicas para isolar isótopos radioativos e a descoberta de dois elementos químicos, o polônio e o rádio.
Durante a Primeira Guerra, Curie desenvolveu unidades de radiografia móvel para fornecer serviços de raio-X a hospitais de campanha.
Marie Curie morreu em 1934, em Sancellemoz (Alta Saboia), na França, de anemia aplástica, causada por exposição à radiação durante sua pesquisa científica e seu trabalho radiológico em hospitais de campanha durante a Primeira Guerra Mundial.
O filme “Radioative”, de 2022, conta a história da cientista que revolucionou as ciências no mundo todo. O filme está disponível na plataforma de streaming Netflix.
6) Ada Lovelace (1815 – 1852)
Augusta Ada Byron King (ou Condessa Lovelace) foi uma brilhante matemática e escritora inglesa, conhecida hoje como “mãe da computação”.
Nascida em Londres, em 10 de dezembro de 1815, Ada Lovelace é reconhecida hoje por ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina – a máquina analítica de Charles Babbage.
Durante o tempo que trabalhou com Babbage, Ada desenvolveu os algoritmos que permitiam à máquina computar os valores de funções matemáticas, além de publicar uma coleção de notas sobre a máquina analítica. Por esse trabalho, ela é reconhecida como a primeira programadora de toda a história.
Ada acreditava que a intuição e a imaginação eram características cruciais para colocar conceitos matemáticos e científicos em prática de forma eficaz. A intelectual valorizava ainda a metafísica e a matemática como ferramentas eficazes para explorar mundos invisíveis ao nosso redor.
A matemática faleceu aos 36 anos em 27 de novembro em decorrência de um câncer uterino, provavelmente agravado pela sangria realizada por médicos.
O filme “Conceiving Ada”, de 1997, conta toda a história da britânica e conta com Tilda Swinton interpretando Ada.
7) Marsha P. Johnson (1945 – 1992)
Uma das personalidades proeminentes da Rebelião de Stonewall, em 1969, Marsha P. Johnson foi uma ativista com um importante papel no desenvolvimento do ativismo LGBTI+ moderno.
Nascida em 24 de agosto de 1945, Marsha enfrentou a transfobia desde cedo. Começou a utilizar vestido ainda aos 5 anos de idade e após o término dos estudos, em 1963, abandonou sua casa e foi para Nova Iorque com apenas 15 dólares e uma mala de roupas. Na cidade, trabalhou como garçonete até ir para Greenwich Village, em 1966.
Após se engajar com a comunidade LGBTI+ de Nova Iorque, Marsha finalmente acreditou que era possível viver com sua identidade sendo respeitada.
Johnson fez parte da Gay Liberation Front e co-fundou o Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR), ao lado da amiga Sylvia Rivera, onde atuou para organizar moradia para jovens gays e travestis em situação de rua. De 1987 a 1992, Marsha foi apoiadora do grupo de combate à epidemia de AIDS.
A ativista faleceu de forma misteriosa em 1992, sendo suicidio uma das possibilidades de morte, embora contestado no documentário “A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson”, de 2017. A produção está disponível na plataforma de streaming Netflix.
8) Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus foi escritora, poetisa e compositora brasileira que estudou só até a segunda série do antigo ginasial. Origem humilde, filha de pais analfabetos, foi matriculada na infância no Colégio Allan Kardec, em Sacramento (MG), baseada nos fundamentos da pedagogia espírita.
Ao vir para São Paulo, viveu grande parte de sua vida na favela do Canindé, na zona norte, onde criou sozinha seus três filhos. Carolina era lavadeira e catadora de papel e recicláveis. Seu diferencial é que da sua ocupação de catadora, recolhia e guardava as revistas que encontrava para ler. O gosto pela leitura a fez ser quem é e descobrir sua vocação de escritora.
Autodidata, publicou seu primeiro livro aos 44 anos. A escrita tornou-se um verdadeiro instrumento de denúncia social, confrontando a doutrina da tradição literária. Um de seus livros, Quarto de Despejo, em 2024, foi leitura obrigatória para o vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Carolina Maria de Jesus foi considerada: “uma escritora direta, nua e crua, mas, ao mesmo tempo, suave”. A escritora Clarice Lispector chegou a defini-la como “uma escritora de verdade, que conta a realidade”.
9) Angela Davis
Angela Davis, de Birmingham, nascida no dia 26 de janeiro de 1944, é uma referência no feminismo e nas lutas pelos direitos das mulheres negras no mundo.
Professora, filósofa, escritora e ativista estadunidense, desde 1960, Angela participa dos movimentos sociais e na defesa por igualdade racial e de gênero. Desde cedo, Angela presenciou as ações e sofreu com as violências racistas da organização supremacista Ku Klux Klan. Na época, eram constantes o linchamento de negros(as), explosão e incêndios provocadas nas casas habitadas por pessoas negras.
Durante a sua adolescência, Angela organizou um grupo de estudos abordando as questões raciais. Angela filiou-se à organização antirracista SNCC, fundada pelo ativista negro Stokely Carmichael. A SNCC tinha como princípios a resistência pacífica, ideal de luta também defendido pelo ativista, filósofo, teólogo e pastor negro Martin Luther King. Por suas ligações com o Partido Comunista e com os Panteras Negras foi demitida da Universidade da Califórnia onde lecionava.
Muitas tiveram que ser suas defesas, incluindo a sua prisão em 1970, após ter sido colocada na lista de fugitivos(as) mais procurados(as) do FBI, acusada de envolvimento em um tiroteio no tribunal da Califórnia.
10) Dorina Nowill
Dorina Gouvêa Nowill nasceu no dia 28 de maio de 1919, em São Paulo. A educadora e ativista brasileira ficou cega aos 17 anos de idade, vítima de uma doença não diagnosticada. Dorina foi a primeira aluna cega a frequentar um curso regular na Escola Normal Caetano de Campos.
Dorina foi uma das colaboradoras da lei de integração escolar a pessoas cegas, regulamentada em 1956. Sua defesa sempre foi: “não existe educação especial para o deficiente. Toda educação é especial e única”.
Em 1946, no mês de março, nasceu a Fundação Dorina Nowill para o Livro do Cego no Brasil, após a constatação dessa carência de livros em braille. A instituição é filantrópica e objetiva facilitar a inclusão de crianças, jovens e adultos(as) cegos(as) e com baixa visão, disponibilizando serviços gratuitos e especializados.
Dorina deixou a sua marca no protagonismo da luta por uma sociedade mais justa e inclusiva. Faleceu em São Paulo, no ano de 2010, mas a Fundação continua promovendo o acesso dos(as) cegos(as) à educação.
11) Mercedes Sosa
Mercedes Sosa nasceu em julho de 1935 e se consagrou como uma das cantoras mais influentes da América Latina. “La Negra” era seu apelido referindo-se à sua ascendência indígena. Durante a sua adolescência também foi professora de danças folclóricas e de canto.
Filiou-se ao Partido Comunista nos anos de 1960 e foi perseguida pela ditadura militar, sendo presa durante um show em La Plata e exilada no final da década de 1970 pela ditadura militar argentina.
Mercedes Sosa, intérprete de canções da sua terra e do seu povo, da realidade de trabalhadores(as): Diante de um cenário de censura e de violência, sua música e voz ecoavam como liberdade e paz aos(às) oprimidos(as) que resistiam ao autoritarismo da época.
Sua carreira e militância como referência da resistência e da democracia, são escritas pela autora dinamarquesa Anette Christensen, no livro “Mercedes Sosa – Uma Lenda”.
12) Nise da Silveira
Nise de Magalhães da Silveira, nascida no dia 15 de fevereiro de 1905, em Maceió. Filha de um professor e de uma pianista, teve acesso a uma boa educação e cursou medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, de 1921 e 1926, sendo a única mulher de uma turma de 157 pessoas. Especializou-se em psiquiatria na Faculdade de Medicina do Distrito Federal.
Nise era engajada no Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas durante a era Vargas sua carreira médica foi paralisada devido ao clima político do Brasil e pelo avanço do autoritarismo varguista na década de 1930.
Nise chegou a ser presa pela defesa da luta dos(as) trabalhadores(as) e só retomou suas atividades após a pressão política enfraquecer. Sua atuação médica chamou atenção por sua contrariedade aos métodos tradicionais dos(as) pacientes com transtornos mentais. Revolucionou o tratamento mental no Brasil por meio da arte, livre expressão e afetividade.
“Aquilo que se impõe à psiquiatria é uma verdadeira mutação, tendo por princípio a abolição total dos métodos agressivos, do regime carcerário, e a mudança de atitude face ao indivíduo, que deixará de ser o paciente para adquirir a condição de pessoa, com direito a ser respeitada.”, Nise Silveira.