Hoje é um dia de celebração no Brasil. Segundo o calendário e a Lei n° 12.519/11, o momento é dedicado à reflexão sobre a forma a qual os negros foram inseridos no território brasileiro; sobre o tratamento dado às pessoas que, pelo trabalho, construíram o país; sobre a luta incessante pela sobrevivência; sobre a marginalização; sobre os heróis como Zumbi dos Palmares; sobre a nossa incompetência social em entender dois termos muito utilizados nos discursos políticos: Respeito e Justiça.
Respeito de quem e por quem? Justiça para quem e para que? Estas são questões que precisam permear a nossa ação-reflexão-ação neste dia. Como um país que, durante gerações, escravizou, marginalizou e explorou seres humanos, tem subsídios para pensar em Justiça e Respeito? Como um país que, conhecido pela corrupção, pode por uma lei ter outra atitude? Como um país com um povo explorado e passivo pode refletir sobre superação?
Talvez estas não sejam as perguntas corretas. Talvez a resposta seja necessária antes das perguntas. A resposta que Hannah Arendt trata como a obediência aos tiranos, a formalidade do mal, a normalização da tragédia que faz ressurgir as velhas ideologias da discriminação, que retomam a hipocrisia da ignorância. E a resposta não tem palavras, está no silêncio. No silêncio que transtorna as pessoas inquietas, que prejudica os injustiçados, que permite que esta data seja somente mais um dia de feriado para algumas cidades e folclore par outras localidades, mas nunca um dia de Justiça e Respeito.
Hoje é um dia em que o esquecimento do bem deve ser lembrado. Hoje é um dia que, diria Agnes Heller, o silêncio precisa ser ouvido, ser superado, pois é nele que mora o perigo do medo. É no silêncio dos fracos de espírito que encontra-se a opressão dos injustiçados. Hoje, é um dia em que eu, Pedro, professor, gostaria muito em falar sobre Justiça e Respeito. Mas o silêncio me calou.
Pedro Lealdino, professor da rede estadual do Colégio Mahatma Gandhi, Guarapuava