A gestão de Renato Feder na Secretaria da Educação de São Paulo começou sob fogo da imprensa. Ao contrário do que aconteceu no Paraná, onde teve vida mansa com a mídia local, Feder vai ter que explicar por lá o jogo duplo em que atua como empresário e gestor público. O portal Metrópoles revelou nesta quinta-feira (5) que Feder mantém participação acionária na Multilaser, empresa que tem contratos de R$ 200 milhões com a Secretaria que ele comanda.
Ex-secretário da Educação no Paraná, onde ajudou o governador Ratinho Jr a impor a agenda bolsonarista, Feder até tentou ludibriar a imprensa após as primeiras cobranças de explicações, feitas no final do ano passado, dizendo que deixaria o conselho de administração da Multilaser e o problema estaria resolvido.
O que Feder não disse, e foi revelado pelo Metrópoles, é que, mesmo afastado do conselho, ele permanece com 28% de participação no capital da Multilaser. Essa participação é disfarçada com o uso de outra empresa, a Dragon Gem LLC, com sede nos Estados Unidos. Questionado pelo portal, Feder não quis falar sobre a triangulação.
A revelação do Metrópoles é a expressão perfeita da imagem da raposa tomando conta do galinheiro. Feder vai fiscalizar como secretário a execução de contratos com a empresa da qual é sócio. Faturando como empresário os valores que paga como gestor público, Feder achava que estava no céu, mas vai ter que prestar contas aos paulistas.
O deputado estadual Carlos Giannazi fez uma representação ao presidente do Tribunal de Contas do Estado pedindo o “afastamento cautelar” de Renato Feder. O presidente do TCE, Dimas Ramalho, determinou a abertura de investigação.
A Multilaser é a principal fornecedora de equipamentos de informática da Secretaria da Educação de São Paulo. Contratos assinados no finalzinho de 2022 preveem o fornecimento de quase 97 mil computadores e estabelecem que a empresa dará garantia e manutenção às peças por um ano, até dezembro de 2023. O cumprimento desses contratos será fiscalizado por Feder, em evidente desvio ético.
Renato Feder despontou no mercado multiplicando o faturamento da Multilaser, onde atuou como CEO por 15 anos, de 2003 a 2018. Com boas relações políticas, atuou paralelamente nos governos do PSDB em São Paulo. Chegou a fechar contratos de R$ 192 milhões na gestão Dória, a quem doou R$ 120 mil na campanha eleitoral para a prefeitura, em 2016.
Em 2020, Feder chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Educação no governo Bolsonaro, mas acabou ficando no Paraná, onde pode aprimorar a prática de transferir recursos públicos em contratos milionários para a iniciativa privada.