Reflexões sobre os dias de planejamento e estudos

Reflexões sobre os dias de planejamento e estudos


  1. As semanas pedagógicas de início de ano se caracterizam como dias de estudo e planejamento das ações escolares. De estudo não tem mais nada! Desde o governo Richa, estes dias têm sido apenas de planejamento do início do ano letivo. Anteriormente eram destinados 5 dias para os estudos, aprofundamento e planejamento. Hoje são dois dias compreendidos em: um apanhado geral sem o devido aprofundamento de alguns aportes teóricos curriculares (reduzido no governo Ratinho às metodologias ativas e à BNCC, nesse caso respondendo as habilidades e competências), leitura de indicadores de rendimento via plataformização e planejamento propriamente dito.
  2. Esta edição, que acontecerá nos dias 3 e 4 de fevereiro, como primeiro momento do primeiro dia, iniciará com o conjunto da escola, reunindo ensino médio e ensino fundamental. Nesse primeiro período serão buscadas as “evidências” através dos diversos “Power BI’s – Business Intelligence da Microsoft” – BI Presente na Escola, BI Escola Total, BI Redação Paraná, BI Inglês Paraná, BI Mais Aprendizagem – e dos resultados do “Se Liga” e que nortearão as ações “que precisarão de mais energias” a serem investidas em 2022.
  3. Uso da plataformização e algoritimização da educação tem sido um fato relevante utilizado pelos reformadores educacionais nas propostas educacionais implantadas nessa ultima década e fazem parte da assunção de uma nova racionalidade neoliberal na educação. O texto “Plataformização e hibridização da escola na crise pandêmica”[i] presente na edição pedagógica de agosto/2021 e “A fantástica fábrica de Resultados”[ii] na atual edição pedagógica nos ajuda a compreender esse debate.
  4. O segundo momento do primeiro dia ocorre uma divisão entre ensino Fundamental e Médio. Ambas etapas refletem os currículos específicos que compete a cada uma delas e as metodologias ativas. A metodologia usada é de utilização de oficinas, chamadas de “mão na massa”, acentuando o caráter pragmático dos dias de estudo. Isso também perceptível quando observamos que não foram disponibilizados quaisquer textos de discussão e segue um conjunto de slides que apenas orientam as oficinas.
  5. Sobre os currículos, eles estão organizados segundo a dinâmica da BNCC, engendrada a partir das competências e habilidades. No caso do Novo Ensino Médio (NEM) estará em debate a nova matriz curricular. Em relação a Nova Matriz curricular do NEM ela segue a Instrução Normativa 008/2021, ressaltando o caráter utilitarista da educação, uma reencarnação deweyneana do escolanovismo da primeira metade do século passado. A associação entre as disciplinas Projeto de Vida, Educação Financeira e Pensamento Computacional é representativo da conformação do sujeito “empreendedor” ou, como temos feito a crítica, de um empreendedorismo de sobrevivência. Essa compreensão de conformação de um sujeito empreendedor está em nosso documento de avaliação do novo ensino Médio (Novo Ensino Médio: precarização, reducionismo e empobrecimento curricular da formação das juventudes)[iii], na críticas feitas Christian Laval e outros (Nova Razão do Mundo[iv] e Escola não é uma empresa[v]) e de Nora Krawczyk e outros (“Quando a escola ensina a submissão financeira”[vi] e “Educando pela métrica do mercado: as propostas do empresariado para a juventude da classe trabalhadora e a reforma do ensino médio”[vii].
  6. As metodologias ativas são um compilado de metodologias/oficinas cuja ênfase é o ensinar a fazer. Não por menos que eles se utilizam de uma tal de pirâmide de aprendizagem atribuída, sem comprovação, ao psiquiatra William Glasser em que os(as) estudantes aprendem muito mais quando praticam e ensinam uns/umas aos(às) outros(as). Essa forma de aprender, quando um ensina a outrem, é chamada de aprendizagem ativa enquanto que formas como a leitura e a escuta são formas passivas e consideradas menores de aprendizagem. Há muita semelhança com as teorias construtivistas do “aprender a aprender”. No livro “Metodologias ativas para uma educação inovadora”[viii], destaca-se a interface entre as novas tecnologias digitais, como a internet das coisas, a aprendizagem pela experiência e o desenvolvimento da autonomia do estudante, cita-se, inclusive, o escolanovismo de Dewey como referência. Daí porque afirmar que estamos diante de neo-escolanovismo associado às novas ferramentas digitais. Sobre as pirâmides de aprendizagem sugerimos a leitura do texto “Pirâmides e cones de aprendizagem: da abstração à hierarquização de estratégias de aprendizagem” de Fábio Luiz da Silva e Fabiane Tais Muzardo[ix] e sobre o “aprender a aprender” nossa sugestão de leitura são dos textos críticos de Newton Duarte (“As pedagogias do aprender a aprender e algumas ilusões da assim chamada sociedade do conhecimento”[x] e “Vigotski e o aprender e aprender: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana”[xi])
  7. O segundo e último dia estará voltado ao planejamento quinzenal (nivelamento) e trimestral. No entanto, o planejamento do trimestre já está disponibilizado no RCO+ (outra das plataformas utilizadas pela SEED), ou seja, o(a) professor(a) é convidado(a) apenas fazer “análise” do que foi proposto e indicar um planejamento de nivelamento para os primeiros 15 dias de aula. Como base utiliza-se do currículo priorizado que foi elaborado a partir do CREP focando nas aprendizagens e conteúdos essenciais para que os(as) estudantes avancem nos conhecimentos que virão a posterior. Segundo o material da SEED para os dias de estudo, servem para desenvolver as “habilidades essenciais” (sic), seja lá o que isso queira dizer. Algo comum neste governo é a falta de autonomia dos(as) professores(as) na organização pedagógica dos conteúdos e das aulas. O professor(a) funciona como um autômato cujas engrenagens são operadas pela SEED e suas plataformas.
  8. Importante destacar nesse processo todo de planejamento a necessidade que os(as) estudantes têm de uma boa avaliação diagnóstica e a retomada constante dos conteúdos anteriores pelo fato de todo processo das aulas on-line que não produziram aprendizagem suficiente. Nosso empenho deve ser pela efetiva aprendizagem e nossos(as) estudantes que, em sua maioria, foram muito prejudicados pela pandemia.
  9. Mais uma vez, a Seed trata de forma precária a formação dos Agentes Educacionais, delegando a organização para a equipe pedagógica sem um aporte teórico- metodológico e sem as condições concretas para garantir a participação uma vez que ainda não foi anunciado o fechamento das escolas para o atendimento ao público.
  10. Apesar da lógica empresarial colocada pela SEED nesta semana pedagógica, como de resto tem sido a mesma de todo o governo Ratinho Jr., ousemos esperançar. Esperançar por uma educação humanizadora. A tarefa que impomos a nós mesmos é de reconstruir a escola pública fundamentada nos saberes historicamente construídos, na autonomia de professores(as), funcionários(as) e estudantes, na gestão democrática e na organização coletiva para a formação emancipatória de toda a sociedade.

Secretaria Educacional da APP-Sindicato.

[i][i] https://appsindicato.org.br/edicao_pedagogica_jan2022/

[ii] https://appsindicato.org.br/wp-content/uploads/2021/07/30agosto_edicaopedagogica_jul21_web4.pdf

[iii] https://appsindicato.org.br/app-sindicato-elabora-analise-sobre-mudancas-no-curriculo-do-ensino-medio/

[iv] DARDOT, Pierre e LAVAL, Christian. São Paulo: Bontempo, 2016

[v] LAVAL, Christian: São Paulo: Bointempo. 2019

[vi] KRAWCZYK, Nora e OLIVEIRA, Tatiana. https://outraspalavras.net/crise-brasileira/quando-a-escola-ensina-a-submissao-financeira/

[vii] QUADROS, Sérgio F e KRAWCZYK. file:///C:/Users/ASSTEC~1/AppData/Local/Temp/sergiofquadros,+Educando+pelas+metricas+do+mercado%5E.%5E.pdf

[viii]  BACICH, Lilian e MORAN, José. https://curitiba.ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2020/08/Metodologias-Ativas-para-uma-Educacao-Inovadora-Bacich-e-Moran.pdf

[ix] https://periodicos.uninove.br/dialogia/article/view/7883

[x] https://www.scielo.br/j/rbedu/a/KtKJTDHPd99JqYSGpQfD5pj/?format=pdf&lang=pt

[xi] Campinas: Editores Associados, 2001

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