Reducionismo pedagógico e empreendedorismo de sobrevivência: reflexões sobre os Dias de Planejamento APP-Sindicato

Reducionismo pedagógico e empreendedorismo de sobrevivência: reflexões sobre os Dias de Planejamento

Confira a análise e orientações da APP-Sindicato sobre os Dias de Estudo e Planejamento na rede estadual

Os dias de planejamento estão organizados em três temas: Intinerários Formativos, Prova Paraná e o processo de transição entre as etapas da Educação Básica.

Sobre os Itinerários Formativos

Constitui-se na parte flexível do currículo do NEM. As escolas regulares oferecerão, além da Educação Profissional, dois itinerários unindo as áreas de Linguagens/Ciências Humanas e Sociais e Matemática/Ciências da Natureza. Desde que esta proposta foi discutida no Conselho Estadual de Educação, temos elaborado severas críticas à modalidade, que restringe o acesso do estudante a um conteúdo propedêutico de caráter genérico.

A parte flexível compreende 200 horas 1º ano, 400 horas no 2º ano e 600 horas no 3º. A Formação Geral compreende 800h, 600h e 400h respectivamente. Observem que a carga horária da parte flexível aumenta à medida em que avança o Ensino Médio.

Além disso, pela Instrução Normativa 08/2021, há a proposta de três disciplinas que conformam o(a) estudante ao que chamamos de empreendedorismo de sobrevivência. São elas: Projeto de Vida, Educação Financeira e Pensamento Computacional.

Observamos ainda que algumas disciplinas deixam de constar na grade curricular. Um exemplo absurdo diz respeito à disciplina de Educação Física, que não será oferecida a estudantes do 2º ano que optarem pelo itinerário de Matemática e Ciências das Naturezas. É como se, a estes(as), o corpo e suas expressões não fossem importantes como linguagem e elemento da constituição do sujeito. Em troca, a Seed propõe aulas e mais aulas de matemática, numa ode ao adestramento.

Os(as) estudantes poderão escolher o itinerário e a escola deverá ofertá-lo. No entanto, dadas as circunstâncias de nossas escolas, a falta de estrutura e equipamentos devem ser impeditivos. Prevemos muitas dificuldades para a implementação dos itinerários e do conjunto do NEM.

Nas primeiras discussões, importa orientar a categoria a refletir sobre as condições objetivas e pedagógicas da implantação dos itinerários. Cada escola deve produzir um relatório e encaminhá-lo ao NRE com base nesta avaliação. É importante marcar a posição dos(as) educadores(as) sobre todo o processo.

Sobre a Prova Paraná

O segundo ponto de discussão dos dias de planejamento diz respeito à Prova Paraná. Aqui também há acúmulo suficiente para embasar duras críticas a este modelo.

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No Caderno de Debates da 8ª Conferência Estadual da Educação, a questão da Prova Paraná está no centro das discussões. É a partir dela que se ramificam as demais políticas da Seed.

Isso se evidencia quando a Secretaria propõe, no dia de hoje, a Prova Paraná como um tema orientador do planejamento das disciplinas. Através do B.I, as escolas deverão acessar os resultados das provas e indicadores, estabelecendo o planejamento a partir de um conjunto de descritores. Os descritores utilizam como métrica testes de larga escala, como a prova Brasil e a Pisa.

Como estratégia ainda se propõe a utilização de simulados, grupos de estudo, aluno monitor e uso das plataformas. Componentes adequados ao que a Seed chama de metodologias ativas, um tipo de neoescolanovismo barato, sem a perspectiva teórica de um Dewey ou de um Anísio Teixeira.

É absurdo o reducionismo pedagógico proposto pela Seed. Como encaminhamento, o planejamento deveria considerar os indicadores próprios de cada disciplina, numa visão mais complexa de aprendizagem. Os(as) professores(as) e pedagogas(as) têm autoridade de organizarem seus planejamentos para além da proposta da Seed.

Esse é um esquema que está em anexo e aparece nos slides da Seed. Destaca a centralidade da Prova Paraná e o reducionismo pedagógico. Tudo está em torno e se resolve a partir desta ferramenta.

Sobre o processo de transição

O terceiro e último ponto proposto para discussão nestes dias de planejamento diz respeito  ao processo de transição entre as etapas da Educação Básica

Saudaríamos como positiva a inclusão deste tema para debate caso a Seed não pretendesse, com essa discussão, impactar nos indicadores de desempenho das turmas de 6º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio.

Historicamente, estes anos possuem os piores rendimentos em aprovação. No Ensino Médio, além da reprovação, o 1º ano tem altos índices de abandono.

Estes indicadores impactam no IDEB, que é a razão entre o resultado da prova Brasil e o índice de aprovação.

Aqui, novamente, a Seed propõe reduzir a complexidade da questão ao alinhamento à Prova Paraná. A superação, segundo a Secretaria virá com o uso de plataformas como a Redação e a Inglês Paraná, o RCO+aulas e as metodologias ativas.

Há razões sérias para a preocupação com este processo de transição, em especial no período de volta às aulas presenciais. A aprendizagem foi seriamente afetada nos dois últimos anos. Voltar-se a um planejamento que considere esse cenário de defasagem nas aprendizagens é fundamental e deve ser tarefa de cada escola.

Outra reflexão e avaliação mais séria precisa ser enfrentada pelas escolas: as razões para a produção dos altos índices de retenção e abandono. Assim como a aprendizagem, o combate à evasão não é uma responsabilidade exclusiva da direção e de pedagogos(as), mas do conjunto dos(as) trabalhadores(as) e, principalmente, do Estado.

Até o momento, o governo se ausenta do seu papel.

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Uma política pública real de combate à evasão começaria pelo governo buscar conhecer as raízes da evasão e os motivos por trás da ausência dos(as) alunos(as), combater a desigualdade e remunerar adequadamente o conjunto dos(as) trabalhadores(as).

Sobre os(as) funcionários(as) de escola

Todos sabemos o esforço que historicamente fazemos para que a comunidade escolar compreenda os(as) funcionários(as) como educadores(as). Há muito de pedagógico na forma como se prepara uma merenda ou se atende um pai ou uma mãe.

Visivelmente a política de Ratinho/Feder  desconsidera esta compreensão. Isso se verifica na lei das terceirizações, como agora nos dias de planejamento.

A proposta apresentada pela Seed a este grupo de educadores(as) é da discussão sobre comunicação institucional e cultura organizacional. É isso mesmo. Não basta o reducionismo pedagógico proposto aos(às) docentes, o governo quer escantear qualquer possibilidade de reflexão pedagógica sobre a atividade que os(as) funcionários(as) desenvolvem na escola.

Um retrocesso, não só porque vai na direção de invisibilizar estes sujeitos educadores das práticas pedagógicas e de estabelecer diferenças entre os que frequentam a cozinha (e de lá não podem sair) e os que frequentam os salões, bem como,  também, inserir na gestão pública da educação questões pertinentes ao mundo empresarial e corporativo. Aliás, tudo muito adequado ao modelo empresarial que Feder implanta no Paraná.

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