A aplicação da Prova Paraná evidenciou o uso da política de dois pesos e duas medidas do governo Ratinho Jr. A Secretaria da Educação cobra constantemente dos(as) professores(as) da educação especial que adaptem atividades e avaliações para os(as) estudantes, mas ignorou suas próprias recomendações ao aplicar a Prova Paraná. A situação indignou pais e professores(as).
“Meu filho tem autismo e deficiência intelectual. Colocá-lo para fazer uma prova grande, com textos enormes, é constrangedor para ele. Ele tem autismo leve e deficiência intelectual, mas não recebeu nenhuma prova adaptada”, relata Noêmia Freitas, mãe de um aluno do segundo ano do Ensino Médio da Escola Padre Cláudio Morelli, em Curitiba.
O governo divulga para a sociedade que preparou provas adaptadas para os(as) alunos(as) da educação especial, mas não faltam relatos de professores(as) apontando que essas provas não chegaram às escolas. “O que vemos é uma verdadeira exclusão dessas pessoas, que são estudantes da escola pública do Paraná”, diz uma professora que prefere não ser identificada, por medo de represálias da Seed.
Essa educadora conta que as provas têm letras minúsculas e espaço pequeno para resolução das questões de matemática. “Os(as) estudantes(as) da educação especial escrevem bem grande, pois têm dificuldades na coordenação motora fina”, explica. Alunos com baixa visão não tiveram acesso a textos ampliados da prova, acrescenta ela.
Noêmia Freitas ficou tão inconformada com a situação de seu filho que enviou uma reclamação para a Ouvidoria do Governo. “Como mãe que luta há muito tempo pela inclusão escolar do meu filho, eu me sinto indignada, revoltada com esse sistema, que não tem um olhar especial para o diferente, para a diversidade”, afirma.
Não poder participar da Prova Paraná com o apoio de que precisam desestimula estudantes e familiares no processo de aprendizado, analisa Noêmia. “Sinto que meu filho vai para a escola apenas pra ‘cumprir tabela’. Ele é tão esforçado, mas falta boa vontade da Seed para fazer um trabalho efetivo com eles”, diz.
“Que o governo tenha respeito pelos os alunos com deficiência, pois todos são dotados de direitos e merecem isso, pois tá na LDB que se houver necessidade de adaptação de atividades para os alunos, que as mesmas sejam adaptadas. Ou seja, o governo não vem cumprindo a lei. Meu filho teve sequer direito a um tutor”, afirma Noêmia.
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Discriminação
A APP considera que Prova Paraná é mais um dos instrumentos para definir índices para serem usado como medida de controle, punição e premiação.
“Não concordamos com essa avaliação externa, que não considera o contexto do processo ensino-aprendizagem, principalmente após dois anos de aulas remotas, e registramos o método de exclusão educacional, de discriminação com pessoas com deficiências, que têm o direito à inclusão, ao respeito à sua especificidade e diversidade educacional”, afirma Vanda Santana, secretária educacional do Sindicato.
Professores(as) lamentam que o governo diga uma coisa e faça outra em relação aos(às) alunos(as) da educação especial. “Cobram tanto da gente que façamos materiais especiais e na hora de fazer eles não fazem”, diz uma educadora que prefere não ser identificada. “A Prova Paraná não veio adaptada. Como a gente fala tanto em adaptar avaliação, adaptar atividade, enquanto a Seed gasta milhões e esquece dos nossos alunos especiais?”, completa.
Além de não preparar material adaptado, a Seed também não encaminhou nenhuma orientação aos professores da educação especial sobre como proceder na aplicação da Prova Paraná. “Não tivemos nenhuma orientação sobre como fazer nos dois dias de provas. Na verdade os alunos com deficiência não existem na Prova Paraná”, diz uma professora.
A Seed realizou nos dias 4 e 5 de maio a primeira edição da Prova Paraná 2022. Segundo a Secretaria, o exame tem o objetivo de fornecer um diagnóstico sobre o aprendizado de cada série no primeiro trimestre. Só que as provas vazaram no dia 3, tirando o sentido da avaliação. É apenas dinheiro público jogado fora e tempo desperdiçado para educadores(as) e estudantes.
A Prova Paraná estimula a competição entre escolas, educadores(as) e estudantes, responsabilizando a comunidade escolar pelos resultados, sem considerar contextos e competências locais.
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