“Ratinho Jr. cuspiu no prato que comeu”, diz mãe revoltada com fechamento do Ceebja de Cambé

“Ratinho Jr. cuspiu no prato que comeu”, diz mãe revoltada com fechamento do Ceebja de Cambé

Após protestos da comunidade, Seed havia prorrogado funcionamento da unidade de Cambé até 2024, mas voltou atrás e manteve imposição de fechar as portas da escola já neste ano

Fechamento de Ceebja prejudica trabalhadores(as), jovens e pessoas idosas - Foto: Ceebja Maria Bocati no Facebook

A comunidade escolar do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) Professora Maria do Carmo Bocati, em Cambé, no norte do estado, está revoltada com o governo Ratinho Jr.. Após recuar da decisão de fechamento da escola, a Secretaria da Educação (Seed) voltou atrás e comunicou novamente o encerramento das turmas até o final deste ano.

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“Levamos uma rasteira. A diretora aqui do Ceebeja  foi chamada de novo no Núcleo Regional de Educação e foi comunicada que o Ceebja vai realmente fechar no dia 20 de dezembro deste ano”, conta Josiane Saraiva, uma das alunas da comissão formada pelos(as) estudantes para lutar pela continuidade da escola.

O primeiro comunicado foi em outubro, quando o Ceebja foi proibido de receber novas matrículas. Mas, após uma grande mobilização, dias antes de um protesto marcado para acontecer no centro da cidade, a Seed autorizou a retomada das matrículas e prorrogou o funcionamento do estabelecimento por mais um ano.

O Ceebja Maria Bocati é o único de Cambé e funciona nos períodos diurno e noturno, com aulas para trabalhadores(as), jovens, adultos, idosos e pessoas com necessidades especiais de aprendizado, que não concluíram os estudos na idade regulamentar. 

A imposição da Seed inclui a transferência desses(as) alunos(as) para o noturno, em outra escola do município, o Colégio Estadual Olavo Bilac, mas que não oferece o atendimento especializado para esse público.

“Se fechar, meu filho não vai terminar os estudos”

De acordo com representantes da comissão dos(as) estudantes, essa decisão do governo vai obrigar muitos a parar de estudar. Um dos prejudicados é o filho da Neci Dias de Almeida (56), um jovem autista que frequenta o Ceebja no período diurno.

“Meu filho tem muita dificuldade de estudar em salas de aula com muita gente. Ele já sofreu bullying em outras escolas, chamavam ele de burro. Mas no Ceebja, lá sim ele se deu bem, passou de ano, gosta de lá, vai todos dias. As professoras tratam ele muito bem. Se fechar, meu filho não vai terminar os estudos”, diz.

Segundo os(as) estudantes, uma das alegações da Secretaria da Educação para tentar justificar o fechamento da escola é o fato do imóvel ser alugado. Neci rebate o argumento e acredita que isso se trata apenas de uma desculpa.

“O Ratinho Jr. estudou também no Ceebja, então ele tinha que botar a mão na consciência e ver que eles gastam bem mais com coisas que não precisam do que com o valor que eles pagam de aluguel ali. A gente que depende do Ceebja é pobre, não tem condições, e através do Ceebja meu filho está indo muito bem”, diz a mãe em tom de desabafo.

Neci lembra que Ratinho Jr. concluiu os estudos através da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e classifica a atitude do agora chefe do executivo paranaense como desumana. Indignada com a ameaça de ver o seu filho afetado e ter o direito de acesso à educação negado, ela manda um recado para o governador.

“O Ratinho tinha que parar e não cuspir no prato onde ele comeu, porque ele está em cima agora, mas ele já dependeu dali também, porque ele conseguiu estudar. Manda ele lá na minha casa para a gente conversar de pertinho. Fala para ele, se ele não tem filho com problema, agradeça a Deus, porque quem tem sabe o quanto é difícil”. 

Protesto

Apesar do revés, a comunidade retomou a mobilização e promete continuar buscando o apoio da população e das entidades do município para reverter a situação. Marcilene de Menezes Nonaka (51), integrante da comissão dos(as) estudantes, informa que um protesto será realizado no próximo sábado (2), no Calçadão de Cambé, a partir das 10h.

“Desistir não  é opção. Vamos lutar até o último instante. Vai ficar na história que lutamos,”, comenta.

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Retrocesso

A APP-Sindicato tem recebido denúncias de fechamento de turmas e escolas em todo o estado. A medida do governo Ratinho Jr. exclui majoritariamente trabalhadores(as), jovens que precisam trabalhar durante o dia, idosos(as), pessoas com necessidades especiais e populações que moram em áreas rurais.

No caso dos Ceebjas, os anúncios de encerramento também foram registrados em municípios como Goioerê, Lapa, Rio Negro e Mandirituba, por exemplo. 

As unidades ficam localizadas em pontos estratégicos, para facilitar o acesso desses(as) estudantes. Mas a decisão da Seed de fechar unidades em todo o estado indica uma escolha política para aprofundar ainda mais o retrocesso provocado pela atual gestão nesta modalidade de ensino.

De acordo com dados do Ministério da Educação, analisados pela APP-Sindicato, as ações tomadas pela gestão de Ratinho Jr. têm destruído a educação de jovens e adultos no Paraná.

Desde que assumiu, em 2019, até 2022, o governo acabou com a oferta da EJA ensino médio em 27 escolas e da EJA ensino fundamental em 54 estabelecimentos.

Em consequência do fechamento de escolas e do fim da oferta de ensino flexível, as matrículas caíram 59%, registrando uma queda brusca de 125.881 para apenas 51.726 alunos(as) em apenas quatro anos. 

A medida é contraditória, já que o estado lidera o ranking de analfabetismo na região sul do país. São mais de 365 mil (3,9%) paranaenses com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever.

Defenda a sua escola

Educação é um direito da sociedade e um dever do Estado, que tem a obrigação constitucional de garantir o acesso e a permanência a todos(as). Por isso, a APP preparou algumas orientações para ajudar a comunidade escolar a se organizar e defender esse direito. Confira abaixo.

Se a sua escola está sob ataque, saiba como resistir:

1. Organize a sua escola

Convoque toda a comunidade escolar, o grêmio estudantil e, se possível, lideranças e políticos(as) locais para uma reunião. Debata os prejuízos do fechamento e faça uma ata com a decisão da comunidade. Utilize dados e informações que justifiquem a permanência do período noturno. Colete a assinatura de todos(as) os presentes.

2. Faça-se ouvir

Organize um abaixo-assinado a partir da ata para que todos(as) possam manifestar apoio. Organize uma comissão e leve o documento ao Núcleo Regional de Educação, Ministério Público, Prefeitura, Câmara, Conselho Tutelar e outros órgãos. Acione a imprensa local e faça barulho nas redes sociais.

3. Conte com a APP

Procure o Núcleo Sindical da APP-Sindicato da sua região. Envie informações e a ata para APP estadual pelo e-mail [email protected]. Nas redes sociais, marque a gente: @appsindicato

Defenda a sua escola!

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