Quem não pode com formiga, não assanha o formigueiro...

Quem não pode com formiga, não assanha o formigueiro…


2015 entrou para a história do Paraná, e de todo o país, como o ano em que os(as) educadores(as) paranaenses deram um exemplo de organização, luta e resistência. Desde 1º de janeiro – durante a posse de Beto Richa no segundo mandato – mostramos que a nossa categoria não leva desaforo. Estivemos lá, em frente ao Palácio Iguaçu, para cobrar o pagamento dos salários dos(as) professores(as) PSS. Já o início do ano letivo, foi um dos mais tumultuados. A começar pelo cancelamento da distribuição de aulas que havia sido feita no ano anterior, a demissão de milhares de funcionários(as) e a dívida acumulada com os(as) professores(as): mais de R$ 70 milhões.

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O ano também começou mais “caro”, após, no final de 2014, Richa enviar à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) vários projetos que inflaram os impostos. Em fevereiro, para comprovar que o que estava ruim poderia ficar pior, Beto Richa enviou duas mensagens legislativas que destruíam completamente as carreiras do Quadro Próprio do Magistério (QPM) e do Quadro de Funcionários da Educação Básica (QFEB). Diante da desgraceira, foi convocada a assembleia geral da categoria, em Guarapuava, no dia 7, que reuniu milhares de educadores(as) de todo o Estado. A decisão foi unânime: greve!

No segundo dia do movimento, 10 mil pessoas já tomavam a frente da Alep e do Palácio Iguaçu. Para tentar conter o movimento, o governo ensaiou mudanças nas mensagens, mas a manobra não deu certo. No dia 10, a Assembleia foi ocupada por educadores(as), estudantes e servidores(as). Após quatro dias de fervorosa manifestação, no dia 12 de fevereiro, mais de 50 mil trabalhadores(as) protagonizaram um dos maiores embates da carreira nos últimos anos. O resultado: as propostas foram retiradas e o exemplo de resistência inspirou todo o Brasil. E a greve continuou. O governador, em entrevista, chamou a nossa categoria de “baderneiros”.

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Foram realizadas marchas históricas, que levaram até 100 mil trabalhadores(as) às ruas de Curitiba. Em março, mesmo sofrendo pressão da Justiça, a categoria, organizada pela APP-Sindicato, manteve a paralisação, que atingiu mais de 95% das escolas da rede. No dia 4, mais de 20 mil educadores(as) participaram da assembleia estadual, promovida pela APP no Estádio Durival Britto e Silva, em Curitiba, e decidiu: a greve continuaria por tempo indeterminado. O resultado de toda esta pressão foi o fim da famigerada Comissão Geral, na Alep, e o recuo do governo, naquele momento, em fundir os fundos previdenciários. No dia 9 de março, após avaliação do cenário, a paralisação – maior dos últimos 20 anos – foi suspensa.

Em abril, a tônica – de todos(as) os(as) servidores(as) – foi a da resistência. Em regime de urgência, o governo retomou as mudanças na previdência. Se recusando a debater com as categorias, se valendo da bancada majoritária na Alep, o projeto que legitimou o ‘sequestro’ da previdência foi retomado. No dia 25, em Londrina, em outra assembleia histórica, a categoria decide retomar a greve. Nos dias seguintes, a pressão sob a base governista foi enorme. Acuados, mas ressentidos pela vitória dos(as) trabalhadores(as) em fevereiro, governo e a Bancada do Camburão protagonizaram um dos episódios mais execráveis do Paraná: o ataque aos(às) trabalhadores(as) que ficou conhecido como o Massacre de 29 de Abril.

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Escândalo mundial, Richa tentou se explicar, mas não conseguiu. Fomos classificados de ‘radicais’ e ‘black blocs’. Com a popularidade em queda livre, o governador se livrou do então secretário de Educação, Francisco Xavier, do secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini, e do o comandante-geral da Polícia, César Kogut. O massacre foi condenado, publicamente, por vários órgãos, entidades e pela sociedade em geral. A máscara de Richa caiu.

Em maio, a atenção se voltou à Secretaria da Fazenda e ao secretário Mauro Ricardo Costa, ‘a eminência parda’. Vigílias foram montadas em frente às delegacias da Sefa e na sede estadual da Secretaria, em Curitiba. A luta, naquele momento, era para garantir a data-base. A greve continuava forte, apesar da pressão e da propaganda governista que tentava colocar a população contra a categoria. Exigimos os 8,17%. Os ataques através de lançamento de faltas, ameaças de descontos e processos administrativos só aumentaram. A grande maioria dos(as) diretores(as) de escolas resistiu a chantagem dos Núcleos Regionais de Educação e Seed, que tinha uma nova secretária: Ana Seres Comin. Semanas depois, os(as) diretores(as) pagariam o preço disso através das mudanças propostas na Lei Eleição de Direções de Escolas.

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Em junho, após 44 dias, encerramos a greve. A decisão da maioria foi retomar a luta dentro da escola, esclarecendo a comunidade escolar sobre a razão do movimento. Ferido na alma, o governo, através de assessores e perfis falsos nas redes sociais, iniciaram uma campanha para ‘desmascarar’ a categoria, publicando salários de professores(as) e funcionários(as) da Educação. Outro tiro no pé. A APP conseguiu demonstrar que os dados divulgados foram manipulados ou eram relativos a pessoas que estavam há décadas atuando na rede. Quanto o índice de reposição aprovado, sob forte protesto da APP e do Fórum das Entidades Sindicais, foi de 3,45%.

No segundo semestre, as lutas, dentro e fora das escolas, não diminuíram o ritmo. Os ataques covardes do governo continuaram, com o fechamento de escolas e de turmas, projetos de lei que atacam direitos e a democracia – PLs da Mordaça e o Adote uma Escola -, bem como a confirmação de uma política neoliberal que esvazia, cada vez mais, o papel do Estado na vida dos cidadãos. Em contrapartida, recepções aos deputados da Bancada do Camburão, ao governador e a vice-governadora continuam sendo feitos. Não deixamos eles em paz. A tentativa do governo em transformar a eleição de diretores em cargos indicados também não foi bem sucedida. A nossa resistência foi fundamental.

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E neste final do ano, com os números sobre a receita do Estado sendo consolidados, percebemos que o governo já investiu menos na Educação e pretende diminuir ainda mais a verba para o setor (veja matéria completa nas páginas 4 e 5). Para a nossa categoria, o momento é de atenção redobrada. Mas a exemplo do que ocorreu no início deste ano, vamos mostrar que a força está com quem luta. E o governador não esqueça: “quem não pode com formiga, não assanha o formigueiro”!

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