Quanto custa um IDEB?

Quanto custa um IDEB?

 Artigo de Luiz Fernando Rodrigues

Segundo o Ministério da Educação (MEC), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2007 e reúne, em um só indicador, os resultados de dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O Ideb é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) ”.

É basicamente um índice, um número. Questionado por educadores e especialistas em todo o Brasil, a nota não leva em consideração, por exemplo, a estrutura física da escola em que o aluno está matriculado, se tem acesso à internet adequada, se há funcionários suficientes para garantir merenda e limpeza do ambiente escolar, se a biblioteca funciona e tem pessoal capacitado. São fatores fundamentais para o processo de ensino aprendizagem.

Como pode um estudante ter bons resultados numa sala com mais de 40 alunos? Ou, ainda, numa região com temperaturas altas e com salas sem qualquer climatização?

Basta visitar uma das mais de 2 mil escolas estaduais do Paraná, por exemplo, para verificar que as coisas não andam nada bem. Se você falar com um professor ou funcionário desta escola, então, vai ficar de cabelo em pé.

O governo atual acabou com a carreira de funcionários de escola. Atualmente profissionais administrativos, da limpeza e merenda são contratados via empresas terceirizadas que recebem milhões e pagam salários de miséria. Uma merendeira, por exemplo, recebe pouco mais de R$ 1.000,00 pela jornada de 8 horas de trabalho diário, geralmente em cozinhas mal equipadas, apertadas e quentes.

Já os demais servidores, professores e funcionários concursados, estão há anos sem sequer a reposição salarial da inflação – um direito constitucional. O Governo acumula uma dívida de 34% para estes profissionais.

A Formação Continuada é outro mundo de faz de conta. Sem encontros presenciais, os cursos feitos através de plataformas digitais têm conteúdos que não refletem a realidade do dia a dia da escola.

Falando em plataformas, o Governo do Paraná vem apostando no uso de programas de computador geralmente comprados sem qualquer transparência. Os professores são obrigados a cumprir metas de acesso, mesmo que isso signifique deixar de lado os velhos e bons “giz e quadro”, “caneta e papel”.

Em se tratando de conteúdos, outro problema sério. O governo vem mudando constantemente a grade das disciplinas. Em Química, por exemplo, se aprende quanto o agronegócio é bom para a economia do Estado. Em Língua Inglesa, no terceiro ano do Ensino Médio, quando deveriam estar se preparando para o vestibular, recebem conteúdos de empreendedorismo, como se comportar numa entrevista, etc.

As turmas que funcionam no período noturno correm o risco de serem extintas – já que são as que têm maiores índices de evasão e reprova. A estratégia do governo, que deveria ser de incentivar a presença e a aprendizagem, consiste em fechar essas turmas. Com isso, milhares de estudantes não terão a chance de estudar, já que trabalham durante o dia.

Resta ao governo, através da Secretaria de Educação, mascarar índices que são considerados pelo MEC no cálculo do IDEB: taxa de aprovação das escolas e as médias de desempenho dos alunos em uma avaliação de Matemática e Português, o Saeb.

Os alunos são “treinados” diariamente – sim, esse é o termo – nas duas disciplinas e nos conteúdos que caem na prova SAEB. A Prova Paraná tornou-se uma espécie de super simulado para a prova nacional. Semanas são dedicadas à prática ostensiva de conteúdos específicos.

Já em relação à aprovação, as escolas têm metas que, ou são cumpridas, ou diretores são destituídos. Com isso, a frequência pode não corresponder à realidade, alunos matriculados são excluídos do sistema sem as devidas justificativas, professores são pressionados a convencer os estudantes a comparecer às aulas, diretores chegam a realizar sorteios de prêmios e recursos adicionais da merenda são prometidos aos colégios para incentivar a presença dos alunos.

Com a presença “garantida”, metas de notas a serem cumpridas a qualquer custo – mesmo que esse custo seja a saúde dos educadores -, fica fácil atingir o posto de “melhor educação do Brasil”. O custo, porém, professores e funcionários já estão pagando. O calote do governo faz a vida destes trabalhadores ser ainda mais difícil. Em tempos de crises constantes na economia, o dinheiro fica ainda mais escasso, fazendo com que as pessoas passem a cortar gastos. Consumindo menos, os cerca de 80 mil trabalhadores da educação deixam de investir no comércio local e quem perde é toda a população.

O custo educacional, este será ainda mais drástico. Milhares de estudantes sem qualquer condição de se estabelecer no mercado de trabalho ou concorrer em pé de igualdade com alunos da rede privada a uma vaga nas Universidades públicas. Estão fadados a ser mão de obra barata para os amigos do governador (empresários e fazendeiros) e seus aliados pelo resto da vida.

O IDEB tem um custo! Ele não é barato e toda a sociedade paga. Infelizmente para nós, trabalhadores, a conta chegará com todos os acréscimos da irresponsabilidade de governos autoritários, arrogantes, déspotas e caloteiros como Ratinho Jr (PSD).

 

Luiz Fernando Rodrigues é agente educacional II, profissional de marketing, especialista em gestão escolar, foi secretário de comunicação da APP-Sindicato.

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