“Eu já fiquei até com depressão, de não querer ir para escola mais, para não sofrer com todas essas cobranças e todas essas imposições.” O relato é de uma professora da rede estadual do Paraná ouvida pela pesquisa “Plataformização da Educação”, realizada pela APP-Sindicato e Instituto IPO. Segundo o estudo, 74,3% dos(as) docentes adoeceram física ou mentalmente por conta da imposição do uso de plataformas digitais nas salas de aula.
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Dos(as) participantes do levantamento, 78,3% também responderam que têm colegas com impactos físicos ou mentais em decorrência da digitalização da rotina escolar e 91,3% afirmam que essas medidas da Secretaria da Educação (Seed) causam sobrecarga de trabalho.
Mesmo com esses números e relatos alarmantes, o governo Ratinho Jr. tem insistido na iniciativa, ignorando seus efeitos na saúde dos(as) educadores(as). Mas uma proposta aprovada na última semana pelo Senado Federal pode ser tornar mais uma ferramenta de luta dos(as) trabalhadores(as) da educação pública do Paraná para mudar essa realidade.
Trata-se do Projeto de Lei 1.540/2021, que cria a Política de Bem-Estar, Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho e Valorização dos Profissionais da Educação. O texto foi encaminhado para sanção do presidente Lula. Após a publicação, União, estados e municípios terão prazo de um ano para elaborar planos de qualidade de vida no trabalho.
O foco é a necessidade de desenvolver ações para a atenção à saúde integral, prevenção ao adoecimento, além de estimular práticas que promovam o bem-estar no trabalho de maneira sustentável, humanizada e duradoura. A medida será obrigatória no setor público e opcional na rede privada.
O texto aprovado estabelece que os planos deverão conter indicadores de gestão e instrumentos de avaliação das metas pactuadas. Participação ativa e escuta dos(as) profissionais da educação também fazem parte das exigências.
O projeto ainda ressalta que a perspectiva da política pública deve ser preventiva, “na qual a produtividade seja resultante do sentido humano do trabalho, das experiências de bem-estar, da promoção da saúde e da segurança nos espaços institucionais”.
Dia de Plataforma Zero nas escolas
A busca por soluções para garantir um ambiente de trabalho adequado aos profissionais da educação é uma luta constante da APP-Sindicato. Essa é uma das prioridades dentre as pautas aprovadas pela categoria na última Assembleia Estadual.
Um dos encaminhamentos é o Dia de Plataformas Zero em todas as escolas, no próximo dia 30 de agosto, data histórica de luta da categoria. A não utilização das plataformas digitais será um protesto contra essa forma de violência, coação, pressão por resultados que vai além do adoecimento.
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As novas dinâmicas trazidas pela inserção das plataformas geram gastos elevados de recursos públicos e não têm comprovação de resultados positivos na qualidade do ensino. Na avaliação de 79% dos(as) professores(as) ouvidos pela pesquisa, a aprendizagem dos(as) alunos(as) ficou igual ou pior.
Em manifesto publicado na Edição Pedagógica do Jornal 30 de Agosto, a APP propõe a regulamentação do tempo de estudo e trabalho diante das telas, a oferta de plataformas públicas, o respeito à autonomia e à gestão democrática como princípios inegociáveis e uma educação universal, diversa, plural e inclusiva, em contraponto à sua determinação por interesses do mercado.
A APP trabalha para abrir debate com a Secretaria da Educação sobre o tema e propor o estabelecimento de uma política que priorize a interação humana e a autonomia, mantendo as tecnologias como ferramentas que auxiliem o trabalho pedagógico e não como instrumentos de controle e substituição do papel dos(as) professores(as).
Sobre a pesquisa
A pesquisa “Plataformização da Educação” foi contratada pela APP-Sindicato e realizada pelo Instituto IPO entre os dias 28 de junho e 7 de julho de 2023, com 300 professores(as), pedagogos(as) e diretores(as) da ativa sindicalizados(as) à APP. A amostra é representativa por região do estado, sexo e faixa etária e a abordagem foi conduzida por ligações telefônicas.
A Secretaria Educacional da APP trabalhou em conjunto com os(as) cientistas sociais do Instituto para desenvolver o questionário, que incluía perguntas abertas e estimuladas. Cerca de 6 mil educadores(as) foram contatados e as escutas resultaram em mais de 100 horas de gravação. A margem de erro da pesquisa é de 5,9%, com intervalo de confiança de 95%.
Pesquisadores(as) e veículos de imprensa podem ter acesso a mais detalhamentos entrando em contato com a Secretaria de Comunicação da APP pelo Whatsapp (41) 9249-2328.
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