Após a consulta pública realizada em 177 escolas estaduais do Paraná, a luta contra a privatização da gestão escolar continua. Um grupo de professores(as) se uniu para lançar uma carta aberta contra o processo de privatização das escolas públicas no estado, expressando a indignação e o posicionamento político frente a essa ameaça.
“A ideia surgiu de um coletivo de professores(as), com o propósito de apresentar esse posicionamento diante do processo de privatização das escolas. A carta é uma forma de expressão organizada e política, que transmite informações com o objetivo de se tornar pública”, explica Carolina Israel, professora do Departamento de Geografia da UFPR e uma das organizadoras da carta aberta.
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A carta aberta visa ser um manifesto não apenas dos professores, mas também de toda a população brasileira, convidando à manifestação contra a privatização da gestão escolar no Paraná. A iniciativa partiu de um grupo de formadores(as), pesquisadores(as) e educadores(as) que apoiam o movimento Não Venda Minha Escola.
Cleiton Costa Denez, Secretário Executivo de Formação Política Sindical e Cultura da APP-Sindicato, destaca a importância das universidades, professores(as) e pesquisadores(as) no debate educacional e como muitas vezes suas vozes são silenciadas. “As universidades, os(as) professores(as) e pesquisadores(as) cumprem um papel fundamental no debate educacional e deveriam ser mais ouvidos pelas entidades, pelo governo e pela imprensa. Mas, infelizmente, tudo o que não faz coro com os interesses do mercado é silenciado”, explica Denez.
Ele também ressalta que a APP-Sindicato tem sido um espaço para iniciativas que buscam ganhar visibilidade, já que o governo tenta abafá-las. “Na APP-Sindicato, as universidades têm espaço para a construção do debate educacional e formativo da categoria e da sociedade”, afirma.
A Importância da Assinatura da Carta
A assinatura da carta é uma forma de apoio ao movimento, especialmente diante das irregularidades observadas no processo da consulta pública. Entre os problemas relatados estão a proibição da participação de pais e alunos, mensagens recorrentes nos grupos incentivando o apoio ao projeto, a presença intimidatória da PM nas escolas e a anulação do direito de voto dos(as) estudantes de 16 e 17 anos.
O quórum foi alcançado em 94 escolas, das quais 83 se posicionaram contra a privatização, enquanto apenas 11 aprovaram o projeto. Nas demais 83 escolas, não houve quórum, as urnas não foram abertas e os resultados não foram divulgados. Com isso, 94 escolas estão previstas para serem privatizadas no próximo ano no estado.
O processo de privatização das escolas atende unicamente aos interesses de empresários e do governo, transformando a educação em mercadoria e gerando lucros para esses setores, enquanto resulta em demissões para os(as) trabalhadores(as) e negligencia as necessidades da população.
A luta contra a privatização das escolas não é uma causa restrita apenas aos educadores, mas envolve toda a sociedade, pois atinge o próprio processo educativo. A educação pública deveria garantir independência pedagógica, administrativa e financeira, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Carolina Israel destaca que a carta sobre o processo de privatização no Paraná já se espalhou por todo o país, com mais de 2.300 assinaturas recebidas até o momento. As assinaturas vêm de diversas regiões do Brasil, não apenas de professores(as) e alunos(as), mas também de empresários autônomos e profissionais de diferentes áreas, demonstrando um crescente consenso contra a privatização da gestão escolar.
“Já ultrapassamos as 2.300 assinaturas, que vêm de todo o Brasil. Isso demonstra a insatisfação da população brasileira com esse processo por essa quantidade de assinaturas, e mostra que a privatização das escolas do Paraná se tornou de conhecimento de toda a população que está preocupada com o que está acontecendo aqui”, conclui Carolina Israel.
Acesse a carta aberta para assinatura.
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