Após mais de 80 dias de greve, professores e professoras municipais de Antonina, litoral do Paraná, decidiram nesta segunda-feira (09), em assembleia geral, suspender a paralisação. Uma greve que teve 100% de adesão dos(as) trabalhadores(as) e grande apoio da sociedade antoninense. Foram quase três anos de tentativas de negociação com o atual prefeito, João Ubirajara Lopes. A categoria cansada de promessas não cumpridas, decidiu por iniciar o ano letivo de 2016 em greve.
Atualmente, a rede municipal de ensino de Antonina tem 121 professores(as), que trabalham em 11 escolas e atendem 1.907 alunos(as) matriculados(as) do maternal ao 5º ano, segundo a Secretaria Municipal de Educação.
Na pauta de reivindicação, nada além do que é direito dos(as) professores(as), como reestruturação do plano de carreira, a implantação da hora-atividade, o reajuste do piso local para que seja igualado ao nacional e melhoria das condições nas escolas municipais.
“Nós descobrimos que o prefeito não investiu o mínimo constitucional na educação, que é de 25%, isso está comprovado em documentos. Nós fazíamos o trabalho que a prefeitura não fazia. Se nós tínhamos algum problema na escola, nós buscávamos a solução. Fazíamos um bingo, vendíamos pastel ou pizza para conseguir manter essas escolas, mas chegou uma hora que não dava mais pra continuar. Hoje, nós temos consciência de que a escola tem que ser mantida pelo poder público”, conta a presidente da Comissão de Professores Municipais de Antonina, professora Claudia dos Santos Canha.
A decisão de suspender a greve partiu do entendimento, por parte dos(as) professores(as), que se esgotaram as possibilidades de negociação com a administração municipal e que os(as) estudantes não podem mais ser prejudicados(as). Sendo assim, a categoria vai aguardar, em sala de aula, a decisão do Tribunal de Justiça, pois o prefeito preferiu a judicialização ao diálogo.
Os(as) professores(as) não aceitaram a proposta da prefeitura, apresentada pelo Ministério Público, em implantar o Plano de Carreira somente em 2018. Além de ser um retrocesso nos direitos, reaforça o descaso e o desrespeito pela educação.
Dentre as conquistas, haverá o reajuste salarial conforme determina a lei do Piso Nacional Salarial do Magistério, que deveria ter sido pago desde janeiro e a regulamentação do auxílio transporte para as(as) professoras(as) que trabalham na área rural e para os(as) que residem fora do município.
Outra conquista importante, mas ainda insuficiente, são as obras e reparos nas escolas que há muito tempo estavam em condições precárias, colocando em risco a segurança dos(as) estudantes e prejudicando a qualidade do trabalho educativo. Por fim, a greve colocou a educação em debate na sociedade, denunciando as condições precárias das escolas, que resultou em ações do Ministério Público contra a administração municipal.
O presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão, presente na assembleia geral da categoria expôs a satisfação do sindicato com a luta dos(as) professores(as) de Antonina. “É muito bonito ver a coragem de vocês, o destemor, essa tomada de decisão, a unidade que vocês tem, sob a pressão de fazer uma greve neste município, uma cidade histórica. Esses dias foram de aprendizado coletivo, porque lutar sempre vai valer a pena, porque a gente marca a história. Lutar sempre vai ser educativo. Parabéns!”.
O sentimento após a decisão de retorno às aulas estava longe de ser de derrota, até porque a luta não pretende acabar com o encerramento da greve. “Estamos defendendo os nossos direitos e os direitos do colega. O que é muito importante é a unidade que conseguimos com essa luta. Vamos lembrar dos momentos que passamos, desses mais de 80 dias que nós viemos aqui a cada dia, dos nossos sorrisos, das nossas gargalhadas, dos nossos choros, das nossas mazelas, nós vamos poder lembrar de tudo isso com orgulho. Orgulho de poder ser professora em Antonina. A luta continua!”, diz, emocionada, professora Claudia.