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Professores(as) do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) aprovaram um manifesto em que denunciam o avanço da privatização da escola pública do Paraná sob a gestão do governador Ratinho Jr. No texto intitulado “A privatização da educação pública no Paraná: a utilização das plataformas digitais”, os(as) docentes fazem um alerta e convocam a sociedade a resistir.
De acordo com a publicação, as diretrizes da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed) estão contaminadas pelos interesses do empresariado nacional e internacional, onde o governo compra materiais, aulas prontas e apostilas que não correspondem às necessidades dos(as) estudantes.
“Os riscos para a educação e a escola pública já são uma realidade, não apenas uma possibilidade; são concretos e estão em curso desde 2018, com a eleição do governador Ratinho Júnior”, acrescentam os(as) docentes.
O manifesto apresenta uma tabela com valores milionários em que o governo, sem diálogo com o sindicato, professores(as) da rede e sem critérios científicos, contratou plataformas digitais de empresas internacionais para aplicação nas salas de aula.
“A adoção das plataformas digitais pela rede estadual materializa um projeto de educação para satisfazer aos interesses privados, e não os da coletividade, da sociedade”, denunciam.
Para os(as) professores(as) da UFPR, essa política submete a rotina do ambiente escolar à lógica privada, indo na contramão da gestão democrática, prejudicando a autonomia pedagógica, financeira e administrativa das escolas.
“A plataformização da educação pressupõe soluções que são elaboradas fora do espaço da escola e não dialogam com as necessidades da educação pública, servindo aos interesses do mercado global”, diz o manifesto.
“Não é possível resolver os problemas educacionais apenas com a aplicação de uma plataforma digital, como se estivéssemos tratando de uma máquina que apresenta problemas na execução das suas funções e necessita de um técnico para retomar a produção”, alertam.
O manifesto ressalta o compromisso dos(as) docentes em defesa da educação pública, gratuita, laica e universal, e finaliza com um chamado para todos(as) resistirem e impedirem que o governo destrua as conquistas da luta da sociedade por uma escola pública de qualidade, emancipadora.
“Não podemos admitir que a educação seja vista como uma linha de montagem, sem levar em consideração o processo, apenas o resultado final”, conclui o texto redigido pela professora doutora em Educação, Daniela de Oliveira Pires, e aprovado por unanimidade pelo colegiado do Setor de Educação da UFPR. Leia a íntegra do manifesto no link abaixo.
>> Leia a íntegra do manifesto: A privatização da educação pública no Paraná: a utilização das plataformas digitais
Fim do(a) professor(a)
Em outro artigo recente, pesquisadoras e graduandos(as) do curso de Letras da UFPR também denunciam que a imposição de plataformas digitais pela gestão Ratinho Jr. tem como objetivos o fim da função do professor e a formação de alunos(as) superficialmente alfabetizados(as). As conclusões são resultados de uma análise preliminar sobre as plataformas Leia Paraná e Redação Paraná.
“A postura do governo para com a categoria: descaso total; aqueles que não são substituídos pelas tecnologias (como em alguns cursos técnicos, em que apenas um professor dá aulas online para milhares de alunos) são reduzidos a meros instrumentalizadores de plataformas digitais”, destaca o artigo.
>> Leia a íntegra do artigo: Plataformas digitais e o ensino de português no Paraná
Luta da APP
Os textos acadêmicos estão alinhados com o posicionamento e a luta que a APP-Sindicato tem pautado sobre a defesa da escola pública, melhores condições de trabalho da categoria, a privatização do ensino e os efeitos nocivos da digitalização desenfreada do ambiente escolar.
Em julho deste ano a APP promoveu o seminário “Plataformização da educação: um debate necessário”. O evento reuniu educadores(as) de todo o estado e pesquisadores(as) para debater o avanço da plataformização nas salas de aulas. A atividade foi transmitida ao vivo pela internet.
Em protesto contra o uso obrigatório das plataformas e para denunciar o assédio e a pressão no ambiente escolar, no último dia 30 de agosto, escolas de todo o estado aderiram a um protesto organizado pela APP. O movimento, chamado de “Plataforma Zero”, viralizou entre estudantes e chamou atenção da imprensa nacional, com destaque na Folha de São Paulo.
Em manifesto publicado na Edição Pedagógica do Jornal 30 de Agosto, a APP propõe a regulamentação do tempo de estudo e trabalho diante das telas, a oferta de plataformas públicas, o respeito à autonomia e à gestão democrática como princípios inegociáveis e uma educação universal, diversa, plural e inclusiva, em contraponto à sua determinação por interesses do mercado.
Pesquisa
A APP-Sindicato também contratou um estudo para compreender a percepção da categoria sobre os impactos do uso intensivo de plataformas digitais na qualidade do ensino-aprendizagem, nas condições de trabalho e no adoecimento dos(as) educadores(as).
A pesquisa “Plataformização da Educação” foi realizada pelo Instituto IPO entre os dias 28 de junho e 7 de julho de 2023, com 300 professores(as), pedagogos(as) e diretores(as) da ativa sindicalizados(as) à APP.
De acordo com o levantamento, com alto grau de confiabilidade, mais de 70% dos(as) professores(as) relatam adoecimento pelo uso de plataformas digitais e para 83% as ferramentas não melhoraram o aprendizado dos(as) estudantes.
Os dados resultaram em uma série de reportagens que foram publicadas semanalmente ao longo do mês de agosto. Confira abaixo.
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>> Educação violada: governo entrega dados de um milhão de paranaenses à exploração de agentes privados
>> Governo cobra metas abusivas, mas não oferta estrutura adequada para uso de plataformas digitais
>> Mais de 70% dos(as) professores(as) da rede estadual relatam adoecimento pelo uso de plataformas digitais, revela pesquisa
>> Para 83% dos(as) professores(as), plataformas digitais não melhoraram aprendizado de estudantes no Paraná
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