Eu tenho coragem de gritar por uma escola sem racismo, mesmo sabendo que passados 129 da “abolição da escravatura”, ainda temos um racismo institucional imperando em nossa sociedade.
Ainda que tenhamos em nossas escolas públicas estaduais equipes multidisciplinares que resistem e enfrentam cotidianamente esse racismo, velado ou explícito, presente no cotidiano escolar, lamentamos que de todos os lados as manifestações de ódio, de intolerância, de preconceito, de discriminação e de racismo se revelam em gestos, palavras ou omissões.
Neste dia 20 de novembro de 2017, podemos olhar o muito que fizemos para a construção de uma escola sem racismo, neste estado que é o maior estado negro do sul do Brasil. São mais de duas décadas e meia de existência do Coletivo de Combate ao Racismo da APP-Sindicato. São incontáveis encontros, palestras, reuniões, para debatermos formas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo. No entanto, ainda persistem as piadas repletas de injurias raciais, dissimuladas de “brincadeirinhas”.
Este dia 20 de novembro é repleto de atitudes positivas, de muitos trabalhos escolares voltados para a valorização de nossa ancestralidade africana. Muitas expressões culturais revelando as marcas afro-brasileiras presentes em nosso país. Muitos destaques às personalidades negras, quase sempre invisibilizadas, nos espaços midiáticos.
Sei que caminhamos passos largos para fazer com que a Lei 10.639 fosse falada, ouvida e efetivada em nossas escolas. Mas parece que a efetivação de uma escola sem racismo aparenta ser o pote de ouro no final do arco-íris, pois a cada passo dado, muitos mais são necessários. E quanto mais caminhamos, mais distante nos parece a tão propalada igualdade racial.
O que observo é o aumento da intolerância, do genocídio de jovens negros e negras, o desemprego de homens e mulheres, que trazem na pele esta marca de humanidade dilacerada por séculos de escravismo criminoso. Com um esforço em nosso olhar, enxergamos nossa sub-representação meios de comunicação, nos espaços de poder, enquanto transbordamos nas estatísticas de analfabetismos, de marginalidade, de falta de oportunidades.
Embora ainda continuemos a viver numa sociedade extremamente desigual, que com governos ilegítimos, e (des)governos de plantão, retiram as poucas oportunidades que conquistamos nessa década. Somos tomados pela filosofia africana que acende as esperanças que “eu sou porque nós somos”. UBUNTU é a palavra repleta de força ancestral que nos anima a subverter os nefastos valores do individualismo, do consumismo, do machismos, da LGBTFobia e do racismo reinante em nossa sociedade.
E, ainda que haja os maus, e um silencio ensurdecedor por parte dos bons. Hoje é dia de lembrar que somos as vozes de nossos ancestrais. Somos herdeiros dos/as sobreviventes da travessia da calunga grande. Somos milhões de Zumbis e Dandaras. Somos guerreiros e guerreiras por uma escola, uma cidade, um estado, um país e um planeta sem racismo.
Não é o tempo do medo, mais da coragem de gritar. Não é tempo de desistir e lamentar, mas de lutar, resistir, sobreviver e vencer. Não é tempo de se calar, mas de gritar, mesmo quando tentam nos arrancar a voz da garganta. Por uma escola racismo! Eu tenho coragem.
Celso José dos Santos. Mestre em Ensino pela UNESPAR, Advogado, Conselheiro Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Dirigente da CUT-PR e Secretário Estadual de Assuntos Municipais da APP-Sindicato