O uso das redes sociais tem se tornado uma prática cotidiana na vida de muitos brasileiros e brasileiras. As notícias e postagens que vemos diariamente afetam e agridem diretamente a vida das mulheres. Nos últimos dias, presenciamos a denúncia do movimento de mulheres contra o assédio à uma das crianças concorrentes do “Programa MASTER CHEF”. Os homens, se referiam a uma menina de 12 anos com frases de assédio moral, psicológico e sexual, que incitavam a pedofilia e culpavam as mulheres por “provocar” os desejos dos homens na mídia. Podemos refletir também, sobre o que um simples tema de redação do ENEM de 2015, causou em muitos machos de plantão, com seu machismo afiado. O tema de redação “ A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, deu o que falar nas redes sociais. Vimos comentários dos mais variados. Dentre as frases tivemos “ o melhor jeito de acabar com a violência contra a mulher é minha roupa estar lavada e a comida estar na mesa na hora certa”, reproduzindo a sociedade patriarcal que tanto queremos combater.
Como não discutir Gênero, se o Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais , mostra que a violência contra as mulheres acontece pelo simples fato de serem mulheres ? “O estudo, realizado pela Flacso Brasil, aponta um aumento de 21% no número de feminicídios no país, entre 2003 e 2013, quando 13 mulheres foram mortas por dia no Brasil. Segundo a Flacso, o Mapa revela também que o Brasil tem 4,8 homicídios por cada 100 mil mulheres, é a quinta maior taxa do mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A maioria dessas mortes, 50,3%, é cometida por familiares e 33,2% por parceiros ou ex-parceiros, dados de 2013. Neste mesmo período, os homicídios contra mulheres negras aumentou 54% – passando de 1.864 em 2003, para 2.875 em 2013 – enquanto diminuíram contra mulheres brancas – de 1.747 em 2003, para 1.576 em 2013.
Podemos verificar que, além da violência ser contra a mulher, ela aumenta entre as mulheres negras que são as mais agredidas e violentadas, precisamos parar e analisar quais motivos levam as mulheres negras serem as mais atingidas pela violência.
O Brasil tem como herança o estereótipo da mulher negra, ela esta em termos de pirâmide profissional no lugar mais abaixo da condição de trabalho e de salário. Segundo a pesquisa, as mulheres brancas tem morrido menos, por conta da questão financeira, elas tem como pagar a segurança privada e as mulheres negras não, escrevendo este texto me vem a mente uma música composta por Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Cappellete e interpretada por Elza Soares, “ A Carne” que diz em um de seus versos que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, uma letra muito profunda e cruel para ouvirmos ou lermos, porém , depois de mais de um século pós abolição, vemos que as mulheres negras se encontram nas profissões de subalternidade neste país e que a taxa de feminicídio recai mais sobre elas justamente porque elas ficam desprotegidas pelas leis, pela segurança pública que se muitas vezes invisibiliza as mulheres negras moradoras das periferias.
Nossa luta enquanto mulher negra, professora e ativista política deve ser sempre de discutirmos quais os rumos que queremos para nosso povo, nossas mulheres, nossas meninas e principalmente lutar sempre contra o machismo, o racismo e todo o tipo de violência, construindo uma sociedade com igualdade de direitos e que todos e todas possam ser respeitados.
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Na contramão da história vemos Projeto de lei prevê prisão de docente que falar sobre “ideologia de gênero” uma de minhas alunas colocou em discussão a submissão da mulher e a fala de um líder religioso. Ela estando em casa sem ter muito que fazer, deveria ter ido ler um livro, né? Começou assistir um deste programas da madrugada que falam de salvação e muito dinheiro, dos fieis para com igreja. Segundo ela a fala do pastor dizia que hoje as mulheres, primeiro querem estudar, se estabelecer profissionalmente para depois arrumarem uma família, enquanto os homens não sofreram tantas mudanças de atitudes se comparado as mulheres e a fala deste líder queria propor que as mulheres deviam continuar submissas com seu legado como dona de casa e mãe. Veja bem a discussão foi trazida pela aluna, não pela professora. Ela mesma entendeu que ela tem que sim, estudar, trabalhar e ter sua liberdade, na fala também da aluna disse, “ não quero ser violentada, não preciso disto, para ter uma família.
Professora Salete Gil de Azevedo Alves. Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá. Pós-graduada em Educação de Jovens e Adultos, pela Faculdade Tecnológica da America do Sul. Pós-graduada em Psicopedagogia Institucional, pela Faculdade Maringá.