Setores oportunistas, que desejam se apossar dos serviços públicos para lucrar sobre as necessidades da população, estão adotando a tática de espalhar mentiras para enganar a sociedade.
É a era das fake news sendo adotada até por instituições “poderosas”.
Foi o que aconteceu com uma publicação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade, que reúne alguns dos maiores industriais brasileiros) afirmou, sem conseguir comprovar sua tese, que o funcionalismo público brasileiro gera muito mais despesas aos cofres da União do que em países desenvolvidos.
Qual a intenção por trás das mentiras?
Primeiro, é importante entender as intenções de quem faz esse tipo de publicação com dados distorcidos e de quem faz propaganda disso (como a velha mídia).
Ao participar da criação de uma crise artificial para influenciar na vida econômica e, principalmente, na política brasileira a partir de 2014, setores das elites gananciosas (infelizmente, as elites brasileiras estão entre as mais mesquinhas do planeta) ajudaram a jogar o Brasil em um abismo político, econômico e social que já dura mais de meia década.
Quem não se lembra dos vergonhosos patos amarelos e de centenas de milhões de reais gastos para estimular o ódio da população?
O núcleo central do setor industrial brasileiro, a “camada superior” do empresariado, considerava que tinha recursos suficientes para sobreviver mesmo se a crise durasse muito tempo.
Eles queriam (e ainda querem) que os governos privatizem o máximo de serviços públicos para que eles possam lucrar ainda mais.
Mas aparentemente, faltou “combinar o jogo” com o médio e o pequeno industrial, com os médios e pequenos comerciantes, e com o setor de prestação de serviços. Todos esses setores, que não fazem parte das elites, são os que sofreram e sofrem até hoje com aquela crise que foi fabricada pelos “de cima”.
Afinal, centenas de milhares de empresas quebraram nesses últimos anos, e o Brasil continua sem absolutamente nenhuma perspectiva de saída desse buraco.
Agora, quem paga o pato é a parcela do empresariado brasileiro que se afundou e milhões de trabalhadores que ficaram desempregados.
Erros grotescos, mas com propósito
Voltando à publicação fake da CNI.
Os dados apresentados passam longe da realidade do serviço público no Brasil. Mas não é só por falta de conhecimento da área, esse tipo de publicação.
O problema é que outros setores oportunistas, como a velha mídia, repercutem essas distorções.
A intenção dessas elites mesquinhas é fazer propaganda da Reforma Administrativa (PEC 32/2020). A lógica deles é perversa, porque uma das medidas é justamente ampliar sem limites as terceirizações e convênios, para que os governos transfiram cada vez mais recursos públicos para os cofres privados.
A picada da serpente
Antes de tudo, é bom lembrar que, geralmente, os escândalos de corrupção e desvios de recursos públicos envolvem a relação entre mandatários (governantes, secretários, gestores e políticos corruptos) e empresas privadas.
Ou seja, quanto mais relação com a iniciativa privada, mais corrupção.
Não houve aumento com remunerações no serviço público, houve redução no privado
Comparado com outras nações, o Brasil tem 12,1% dos trabalhadores atuando no serviço público, enquanto a média da OCDE (organização que reúne países que somam 60% do PIB mundial) é de 21,3%.
Entretanto, a CNI afirma que os gastos com remunerações dos servidores públicos estão acima desses países. Mas o que a entidade patronal esconde é que uma parcela extremamente reduzida do funcionalismo está na faixa dos salários mais altos.
E são justamente as carreiras que ficarão de fora da Reforma Administrativa, como magistrados (juízes, desembargadores e ministros das cortes superiores), procuradores e promotores. Além deles, os militares e os políticos também ficaram de fora.
Outra coisa que eles não querem que a população lembre é que de 1990 até 2020 a população brasileira saltou de 150 milhões para quase 210 milhões. Ou seja, mais pessoas, maior demanda por serviços públicos.
Tem mais uma coisa que a CNI, a velha mídia e o governo não explicam: para privilegiar o sistema financeiro (que vai consumir mais da metade dos gastos do Governo Federal em 2021), o orçamento reduz os gastos discricionários (entre ele os investimentos, necessários para o Brasil crescer), aí joga o peso nos gastos obrigatório e esconde o gasto com o pagamento com a dívida pública.
Aí eles divulgam para a população a mentira de que quase todo o orçamento do governo estaria comprometido com o pagamento dos servidores.
É uma manipulação bastante grosseira, mas que faz parte da população acreditar que 90% dos gastos são com pessoal, quando, na verdade, estão em torno de 12%.
Um dado extremamente importante nessa questão é que na iniciativa privada houve redução salarial nos últimos 10 anos. Ou seja, o problema não é o salário dos servidores, é a imposição de perdas salariais na iniciativa privada.
Como se fosse uma coisa só
Outra enganação é fazer parecer que os salários de todos os servidores estão muito acima do salário pago pela iniciativa privada. Além disso, fazem parecer que as funções (públicas e privadas) seriam as mesmas. Isso nem de longe reflete a realidade.
Mas muitas carreiras de servidores federais (que possuem média salarial maior) englobam funções que não podem ser exercidas pela iniciativa privada. O mesmo acontece com grande parte das categorias do serviço público estadual.
Além disso, 49% dos servidores públicos têm Ensino Superior e estão em constante aperfeiçoamento (na iniciativa privada, menos de 20% possui ensino superior).
Mais de 60% dos servidores estão nas áreas de Saúde, Educação e Segurança pública (onde salários estão bem distantes do topo).
As “diferenças salariais” são bem diferente do que dizem por aí
Mesmo com todas essas diferenças (maior qualificação, carreiras longas e especializadas, desempenho de atividades essenciais), ainda assim a média salarial dos servidores é apenas 8% maior do que de trabalhadores que desenvolvem a mesma função na iniciativa privada. Nos países da OCDE (organização que reúne países que somam mais de 60% do PIB mundial), a diferença média é de 21% (ou seja, bem acima do Brasil).
Mas se levarmos em consideração o percentual de servidores por níveis federativos, veremos que mais de 57% dos servidores são municipais, fazendo geralmente o atendimento básico à população (principalmente na Saúde e na Educação), sendo que mais de 60% recebe menos de R$ 2,5 mil (fora dos descontos, que são maiores do que na iniciativa privada). Não há diferença em relação à média salarial da iniciativa privada.
No âmbito geral, mais de metade dos servidores brasileiros recebe menos de 3 salários mínimos (novamente, com mais descontos do que na iniciativa privada).
E apenas 3% recebe mais de 20 salários. Só esses números são suficientes para desmentir as entidades patronais, velha mídia e grupos extremistas, que tentam para enganar a população.
Menos servidores públicos nos serviços básicos é menos atendimento para a população. Portanto, a barrar a Reforma Administrativa é uma tarefa de todos nós!
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