Um protesto pacífico de professores por melhores condições de ensino e contra a repressão em Asunción Nochixtlán, no estado de Oaxaca, no sul do México, terminou em tragédia no domingo, com oito mortos, 22 desaparecidos e 50 feridos à bala. O sangue correu após 800 policiais federais dispararem contra cerca de 500 manifestantes que bloqueavam a rodovia 190. A repressão contou com helicóptero, bombas de gás lacrimogêneo e armamento pesado, deixando um rastro de medo nas comunidades vizinhas, contabilizando também dezenas de prisões arbitrárias.
Convocados pela Coordenadora Nacional de Trabalhadores do Estado (CNTE), professores, pais e estudantes, se somaram à mobilização pelo fim da reforma anti-educacional do presidente Enrique Peña Nieto, que já causou milhares de demissões injustas, superlotando as salas de aula e comprometendo a mais do que precária qualidade do ensino. “Maestro, aguanta, el pueblo se levanta”, entoavam os moradores, solidários ao movimento.
Dias antes, professores membros da Seção 22 do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Educação haviam paralisado diferentes estradas da região contra a detenção de seus dirigentes Rubén Núnez e Francisco Villalobos, respectivamente secretário-geral e de Organização da entidade.
Localizada às margens da rodovia 190, a sede do Instituto Estatal de Educação Pública de Oaxaca (IEEPO) foi cercada no final de semana por sindicalistas, que foram desalojados numa violenta ação conjunta das polícias estadual e federal.
Após ter declarado que sua tropa não estava armada – e ser prontamente desmentido por fotos e filmagens -, o comandante da Polícia Federal, Galindo Cevallos, alegou cinicamente que “os responsáveis pelo despejo e suas armas apareceram bem ao final da operação”, responsabilizando a “grupos radicais” de “infiltrados” pelo ocorrido.
Durante os enfrentamentos, que iniciaram por volta das 10 horas e se prolongaram até as 15 horas, vários ônibus e automóveis foram queimados. Ao final, a comunidade conseguiu fazer com que os militares retrocedessem.
Frente à matança, movimentos sociais e entidades populares, artistas e intelectuais mexicanos e de outros 14 países fizeram uma conclamação a que o governo de Peña Nieto pare com a repressão e atenda às “justas demandas” do magistério com soluções apropriadas.
Conforme o porta-voz da CNTE, Juan Garcia, os mortos, feridos e desaparecidos pelos ataques da polícia são professores, pais de família e membros da comunidade.
“Nos somamos ao protesto global contra esta política de terrorismo de Estado que institucionaliza a violência, descarregando sobre educadores, pais e estudantes a ira policial”, afirmou o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felicio. Na avaliação da CSI, enfatizou, “a resistência expressa pelos manifestantes demonstra que não há força no mundo capaz de sufocar o anseio dos povos na sua luta pela liberdade e a justiça”.
Para o secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Antonio Lisboa, “é inadmissível a barbárie praticada contra os manifestantes que nada mais faziam do que levantar a voz em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade”. “Frente ao crime praticado pelo governo mexicano, nos posicionamos ao lado da verdade e da justiça, fortalecendo o movimento para que os responsáveis sejam exemplarmente punidos”, acrescentou.
De acordo com o secretário-adjunto da SRI, Ariovaldo Camargo, “é inadmissível que em pleno século 21 um governo use e abuse da truculência para impor sua política neoliberal, que impõe ao México um verdadeiro estado de abandono”. “Neste momento de dor e de luta, respondemos com luta, fortalecendo ainda mais nossos laços de unidade e mobilização contra os atropelos do desgoverno de Peña Nieto”, conclui Ari.
Fonte: CUT.org.br • Escrito por: Leonardo Wexell Severo • Publicado em: 20/06/2016