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O uso intensivo de plataformas e dispositivos tecnológicos pode ter impacto negativo na educação e na aprendizagem dos(as) estudantes. A conclusão é da Unesco, uma agência da ONU, e está presente no recém lançado relatório “Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”.
O documento põe em xeque o modelo educacional adotado por governos como o do Paraná, que tem imposto a professores(as) e estudantes uma avalanche de plataformas tecnológicas sem qualquer diálogo ou reflexão crítica sobre o impacto no ensino-aprendizagem e nas condições de trabalho da categoria.
>> Baixe o relatório da Unesco
A Unesco aponta que “há poucas evidências robustas do valor agregado da tecnologia digital na educação” e que “boa parte das evidências são produzidas pelos que estão tentando vendê-las”. O relatório traz dados que indicam correlação negativa entre o uso excessivo de tecnologias e o desempenho de estudantes, inclusive em avaliações de larga escala como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
Mesmo quando há reflexos positivos no trabalho pedagógico, as evidências são fracas. “A tecnologia teve efeitos positivos baixos a moderados em alguns tipos de aprendizagem. Uma avaliação de 23 aplicativos de matemática usados no nível primário demonstrou que eles se concentravam em memorização e prática, em vez de habilidades avançadas”, observa o relatório.
Foco na interação humana
Ainda de acordo com a Unesco, a tecnologia sozinha não garante bons resultados. No Peru, por exemplo, mais de 1 milhão de laptops foram distribuídos sem qualquer impacto na aprendizagem. “Em outras palavras, seu uso deve atender aos melhores interesses dos estudantes e complementar uma educação baseada na interação humana. Ela deve ser vista como uma ferramenta a ser usada nesses termos”, diz o órgão da ONU.
Há diversas convergências entre a análise da Unesco e o manifesto “Educação humanizadora em tempos de tecnologias digitais”, publicado pela APP-Sindicato neste mês. Ambos os textos criticam a centralidade nas plataformas no lugar do ensino-aprendizagem, a violação da privacidade da comunidade escolar, a exclusão de estudantes, a mercantilização da educação e a falta de autonomia de educadores(as) para trabalharem os conteúdos.
“O relatório dá concretude ao que vivenciamos nas escolas do Paraná pela plataformização intensa do processo de ensino-aprendizagem e corrobora com o posicionamento do Sindicato já expresso no manifesto”, comenta Vanda Santana, secretária Educacional da APP. “Mais do que isso, recomenda que os governos regulamentem o uso de tecnologias na educação e voltem a priorizar a interação entre professor(a) e estudante”, conclui.
Conforme o estudo da Unesco, os aspectos negativos e prejudiciais do uso da tecnologia digital na educação e na sociedade incluem o risco de distração e a falta de interação humana. “A tecnologia favoreceu uma abordagem individualizada da educação, reduzindo as oportunidades dos estudantes de socializarem e aprenderem observando uns aos outros na vida real. Um maior tempo em frente à tela foi associado a impactos adversos na saúde física e mental”, atesta.
Opção, não obrigação
Assim como a Unesco, a APP defende o uso das tecnologias de forma complementar a uma educação baseada em interação humana, em contraste com o modelo adotado no Paraná, marcado pela imposição, pela vigilância e pelo controle sem qualquer evidência de resultados positivos para a aprendizagem.
“As novas tecnologias podem ser usadas como ferramentas de apoio ao trabalho pedagógico, mas a escola não pode girar em torno delas. Precisamos resgatar a gestão democrática e a autonomia dos(as) educadores(as) em sala de aula”, destaca Margleyse dos Santos, secretária executiva Educacional da APP.
A APP-Sindicato e o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) estão realizando uma pesquisa com professores(as) da rede estadual sobre a plataformização da educação. A Secretaria Educacional do Sindicato trabalhou em conjunto com os(as) cientistas sociais do Instituto para desenvolver o questionário.
A expectativa é que os dados coletados ajudem a subsidiar a resistência e o debate com governo e sociedade sobre o tema, que deve ser um dos focos da luta no próximo período. A plataformização da educação foi a principal pauta da última Edição Pedagógica do jornal 30 de Agosto, distribuída nas escolas durante os dias pedagógicos.
>> Acesse a Edição Pedagógica sobre plataformização da educação
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