Burocracia, pressão, cobranças, adoecimento, fiscalização de plataformas, aumento da jornada de trabalho e desigualdade salarial. Esses são apenas alguns dos problemas que se intensificaram no cotidiano dos(as) trabalhadores(as) da educação que atuam nas escolas públicas da rede estadual do Paraná, após Ratinho Júnior (PSD) ser eleito governador. Entre os(as) prejudicados(as) também estão os(as) pedagogos(as), profissionais que têm papel estratégico na organização do trabalho pedagógico e do planejamento escolar.
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“Estamos com muita pressão nas escolas no trabalho pedagógico, onde as pedagogas são as mais prejudicadas. Hoje, estamos mais envolvidas em fiscalizar as plataformas através do Power BI , atingir metas do que atender os professoras(es), os(as) estudantes, mães, pais e responsáveis”, relata a pedagoga e secretária executiva Educacional da APP-Sindicato, Margleyse Adriana dos Santos.

Coordenadora do Departamento de Pedagogos(as) da APP-Sindicato, Aline Carissimi acrescenta que o objetivo principal da atuação desses(as) profissionais na escola escolar deveria ser focado na busca constante pela apropriação do saber sistematizado pelos nossos estudantes.
“Nosso papel é coordenar todo o processo ensino aprendizagem, orientando e dando suporte aos professores no que concerne as metodologias adequadas, formas de avaliação escolar, estrutura do currículo escolar, enfim o plano de trabalho docente. Em relação aos estudantes monitorar a aprendizagem, intervir para que a mesma ocorra adequadamente, orientar e encaminhar a dinâmica que envolve o bom desenvolvimento acadêmico do estudante”, explica.
No entanto, segundo a professora, a política imposta pelo governo tem feito com que o trabalho dos(as) pedagogos(as) seja debruçado no que ela define como lógica gerencialista, diante do excesso de plataformização, as mais diversas que foram implantadas, desde redações a simulados online.

Ao invés de se priorizar o pedagógico da escola, os pedagogos gastam a maior parte do tempo do seu trabalho no controle de planilhas e controle das plataformas, priorizando a performance dos números do que as questões pedagógicas, uma vez que a qualidade humanizadora da educação não é a prioridade do governo, mas sim, os números, as tabelas, a plataformização, a robotização do conhecimento.
Com a implantação de inúmeras plataformas educacionais no ambiente escolar para monitorar o trabalho docente e o estabelecimento de metas abusivas, a Secretaria da Educação passou a exigir dos(as) pedagogos(as) a função de fiscalizar os(as) professores(as), contribuído para a escola se tornar espaço de adoecimento, como revelou a Pesquisa Plataformização da Educação, contratada pela APP-Sindicato e divulgada em agosto de 2023.
O estudo inédito sobre os impactos da digitalização da educação no Paraná mostrou que quase a totalidade dos(as) educadores(as), 91,3%, se declaram sobrecarregados(as) com a avalanche de novas plataformas, aplicativos e meios tecnológicos somados à cobrança pelo cumprimento de metas.
Já 74,3% reconhecem os impactos negativos do modelo na sua saúde física e/ou mental, enquanto uma parcela maior (78,3%) afirma ter colegas que adoeceram em decorrência das dificuldades impostas pelas novas tecnologias.
Hora-atividade e salário
Aline explica que, além das questões que atingem a categoria do magistério como um todo, as principais lutas específicas dos(as)pedagogos(as) hoje no Paraná são o retorno da jornada hora-aula, formação de qualidade e ampliação do porte de acordo com o quantitativo de estudantes e programas atendidos pelas equipes pedagógicas.
Na resolução de distribuição de aulas publicada em 2019, sob a gestão do então secretário da Educação, Renato Feder, o governo de Ratinho Júnior incluiu os(as) pedagogos(as) na mudança ilegal do cálculo da hora-atividade.
Contrariando a legislação, a jornada passou a ser contabilizada em hora-relógio (de 60 minutos) e não mais em hora-aula (de 50 minutos). Com a medida, além dos(as) professores(as), também os(as) pedagogos(as) e readaptados(as) tiveram a sua jornada ampliada, com redução no tempo destinado ao planejamento.
As condições de trabalho não são os únicos problemas enfrentados neste segmento de trabalhadores(as) formado majoritariamente por mulheres. Os(as) pedagogos(as) também recebem salário menor na comparação com os(as) demais servidores(as) estaduais com exigência de ensino superior para ingresso na carreira pública.
Enquanto uma professora com 40 horas semanais, em início de carreira, recebe R$ 4.420,54, o salário inicial de agentes profissionais é de R$ 7.616, uma diferença de 72,30%. A equiparação salarial é uma das pautas da campanha salarial da categoria em discussão com o governo.
Organização
Como forma de resistência às investidas do governo contra a categoria e, de forma especial, sobre os(as) pedagogos(as), a APP-Sindicato tem organizado e mobilizado o segmento. Em julho de 2017, por exemplo, durante o II Seminário Estadual de Pedagogos(as) da APP, foi criado o Departamento de Pedagogos(as), com objetivo de organizar a luta e as pautas do segmento.
“O Departamento de Pedagogas da APP-Sindicato é uma conquista histórica do nosso segmento dentro da entidade. Isso porque, embora nos reconhecemos como integrantes da carreira e da classe do magistério da educação básica, apresentamos pautas específicas que versam sobre nossas funções nas escolas, e especialmente no desenvolvimento de um trabalho de qualidade na educação pública”, comenta Aline.
O departamento tem tido papel fundamental na constituição dos Coletivos de Pedagogos(as) em todos os núcleos sindicais da APP, permitindo categorizar e organizar as diferentes realidades desses(as) profissionais nos diferentes núcleos regionais da Secretaria da Educação. Essa dinâmica possibilita que a APP possa agir e reivindicar nas necessidades e pautas de forma mais dinâmica e organizada.
Data comemorativa
Tendo em vista a sua importância para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, em 2015 a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.083 que instituiu o Dia Nacional do Pedagogo, comemorado no dia 20 de maio de cada ano.
Para a secretária executiva Educacional da APP, a data é mais uma oportunidade para reafirmar o compromisso do sindicato na luta por reconhecimento e por uma política educacional que valorize o conhecimento dos(as) pedagogos(as), contrapondo o modelo educacional do atual governo, que só preza por números.
“No Dia do Pedagogo, é fundamental lembrar que a valorização do trabalho desses profissionais vai além de palavras de apreço. A remuneração justa e o reconhecimento da importância do seu papel na educação são essenciais para que possam realizar seu trabalho com dignidade e eficácia. A APP-Sindicato está comprometida em lutar pelos direitos e pela valorização dos pedagogos”, afirma Margleyse.
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