Para pensar educação hoje

Para pensar educação hoje

*Por Janelucy Barros Penharvel

? Freepik ( DINO )

O que pensar do modelo de educação atual adotado pela SEED- PR desde 2020 com quedas significativas neste ano de 2021? Até quando vamos fingir, enquanto trabalhadores/as da educação que está tudo bem e que por causa da Pandemia temos que nos adaptar a um modelo gerador de caos, doenças e cansaço?

Professores e professoras, pedagogos e pedagogas, equipe diretiva e agentes educacionais estão trabalhando até a exaustão. Em função de quê? Números e resultados??

Penso que exista uma intencionalidade por trás disso – adoecer, maltratar, castigar e destruir qualquer fio de garra e força de professores e professoras e toda a equipe escolar. Está instalado aqui um problema que afetará as várias gerações seguintes.

Não se pretende aqui repetir os jargões sobre a importância dos/as professores/as para a sociedade. Se de fato, fossem importantes, não seria necessário lembrar isso o tempo todo. Teríamos uma profissão valorizada, melhor remunerada e uma carga de trabalho justa.

Na História, as professoras do EF eram as cuidadoras, as “tias” que deveriam se dedicar aos cuidados da criança, algo previsto inclusive em suas formações. Uma profissão feminina, portanto, de menor valor, mal remunerada, inferior. O contrário acontecia nas Universidades, onde os homens dominavam as cadeiras docentes e tinham o “poder” do conhecimento. Eram mestres absolutos e por isso ganhavam mais. Se pesquisarmos bem, veremos ainda tal prática manifestada na sociedade atual. Portanto, fica a questão: herdamos daí essa concepção de desvalorização do/a professor/a, ou seria mais um dos dados apontados para justificar a falta de interesse dos governos em investir em educação e nos trabalhadores que atuam nesta área?

Fato é que, à medida em que os anos passam, o projeto nefasto de governo vai se intensificando e seu objetivo se fortalecendo e sendo cumprindo: o massacre e a desvalorização dos/as professores/as e profissionais de educação.

O ano é 2021, a pandemia acelera no Brasil, mais e mais pessoas morrem e o despreparo dos governos se intensifica. Na verdade, seria despreparo mesmo? Fica clara e visível a intenção de matar pessoas, já que as apurações da CPI da COVID, através das pesquisas e documentos, têm comprovado tal afirmação. Será que diminuiriam os custos previdenciários? Ou que desaceleraria a aumento populacional? A insensibilidade é latente e assustadora, há falta de humanidade, há despreparo, há intencionalidade. Não há como dizer que esse processo começou da noite para o dia, já que, desde 2016, quando se instalou o golpe, houve corte de orçamentos, redução curricular, ataques à cultura, à
saúde e ao meio ambiente.

Não é por acaso que os acontecimentos atuais se tornam desdobramentos na educação, se repetindo nos comandos dos NRE’s e no interior das escolas, gerando perplexidade de qualquer pessoa que tenha o mínimo de consciência.
Morte? Muitas, no Brasil estamos perto de 500 mil, nas cidades médias, são 10 mortes diárias, e a sensação que se tem é que assistimos a tudo apáticos, descrentes, cansados. Muitos/as professores/as e funcionários/as de escolas sendo infectados, muitos colegas de trabalho morrendo, e ainda assim assistimos a tudo “bestializados”.

E mesmo assim estamos sendo convocados para o trabalho nas escolas, para dar aulas atendendo 2, 3, 6 ou até mesmo 15 alunos/as em sala e os outros pelo Meet, como se fosse algo simples e fácil.

Como se as demandas de sala de aula e dos/as alunos/as on-line fossem as mesmas e como se assim garantíssemos alguma aprendizagem. O/a professor/a que se vire, se desdobre, se desgaste e não reclame, mesmo sabendo que tal modelo educacional já está fadado ao fracasso.

É importante esclarecer que os/as filhos/as dos trabalhadores/as não estão aprendendo ou se aprendem, é pouco, porque simplesmente não entendem a lógica de tudo isso gerando desinteresse e desmotivação. Nas conversas casuais com alunos/as e professores/as, as representações são as mesmas. Não abrem as câmeras, dormem durante as aulas (principalmente no período matutino). E, por outro lado, os/as alunos/as que fazem ou deveriam fazer as atividades impressas, que recebem as trilhas de aprendizagem, também demonstram desinteresse, já que muitas atividades são entregues em branco ou são feitas de qualquer maneira, muitos sequer leem os textos propostos – atividades estas, que apresentam linguagem difícil e completamente distante da realidade dos/as estudantes – para eles/as, na verdade também não há lógica. O importante é apenas garantir a presença! E aí está tudo certo!

É comum muitos professores e professoras ouvirem:
– Não se estresse!
– Não se desgaste!
– Apenas dê a nota, pois no final a SEED vai exigir a presença dada a todos/as bem como a aprovação.

A estes conselhos respondemos com um sonoro NÃO. Além das mortes por COVID-19, percebemos aí a morte de almas, quando se retira dos alunos a possibilidade de aprender, de desbravar o conhecimento, de se formar humano. NÃO! Importantes não podem ser os dados, as presenças, os resultados nas avaliações externas ou as notas. Esse epistemicídio precisa parar.

E a aprendizagem? Não seria isso o mais importante? Nenhum professor deixou de sonhar com uma sociedade melhor e isso só se constrói com o conhecimento e não com a reprodução técnica e mecânica de nossos trabalhos.

O descaso com a aprendizagem está em todas as instâncias, desde o Governo Federal, passando pelos governos Estaduais e Municipais e Secretarias de Educação e enfim chega na escola, onde pedagogas/os, equipe diretiva e até professores/as se esqueceram de sua formação e estão na lógica de que importante mesmo é reproduzir slides já montados e apenas dar presença e nota, seguindo os protocolos estabelecidos. E mesmo assim o excesso de trabalho tem nos adoecido, exaurido, tem tirado nossas forças. Realmente existe intencionalidade.

E quem paga por isso? Quem vai responder por essas práticas reprodutivistas e tecnicistas? Todos nós, toda a sociedade apática e bestializada. A importância da aprendizagem está reduzida ao “minimamente” para cada filho e filha dos/as trabalhadores/as.

Os papéis? Preenchidos. As notas? Lançadas. A aprendizagem? Não sei. A ordem é não estressar, já que a pandemia está aí e é importante dar tudo certo, nem que seja uma mentira completa. E no futuro teremos uma geração de adultos inerte, desprovidos de humanização. Ignorantes, perdidos.

E como lidar com essa culpa?

A intenção deste texto não é culpabilizar profissionais da educação, é na verdade, propor uma reflexão sobre as práticas atuais que ocorrem nas escolas, nas salas de aula e na vida de cada trabalhador. É questionar um governo e sua necropolítica, que nos afeta e determina nossa atuação profissional de alguma forma. É desestabilizar, uma vez que somos profissionais de educação que escolheram estar no meio da formação humana, formação sonhada, sonho bom de sociedade! A ideia é desacomodar, pensar e repensar todos dias a fim de modificar, nem que seja minimamente, o próprio ambiente de trabalho, as práticas cotidianas e sair definitivamente da zona de conforto em que fomos colocados/as com objetivos de controlar, de vigiar, de nos apagar, nos ignorar e também nos punir.

*Janelucy Barros Penharvel, professora

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