Com mais de 800 colégios estaduais ocupados, o Paraná se tornou o epicentro do movimento de ocupação de escolas e luta por direitos, organizado pelos estudantes secundaristas. Em reação às medidas do Governo Federal que impactam a educação, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 241 e, principalmente, a Medida Provisória que promove a reforma no Ensino Médio, a mobilização formou desde o início um efeito cascata, envolvendo milhares de estudantes da rede estadual de ensino e também seus pais e familiares. Para aqueles que acreditam que este é um movimento somente dos jovens, a participação das famílias em dois colégios de Pinhais, cidade da região metropolitana de Curitiba, mostra que as portas estão abertas para a comunidade.
O apoio dos pais chega de todas as formas, seja por meio das redes sociais até as visitas nas escolas. A presença deles nas ocupações vem acompanhada do discurso “essa luta também é minha”. No Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato, o primeiro colégio ocupado em Pinhais e o quarto no Paraná, a participação dos adultos dá motivação aos estudantes. Longe do ideal, a maioria dos que ajudam diretamente são aqueles que acompanham os filhos participantes da ocupação. Mas toda ajuda vale ouro. Os pais do “Arnaldo”, como o colégio é chamado, também fazem doações, participam das equipes de limpeza e dormem no local.
João Ildefonso Miranda começou a se envolver no movimento para acompanhar a filha Camila Luiza de Miranda, 18 anos. Aluna do Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato, ela conta que o pai foi seu maior apoiador para participar. Nos primeiros dias de ocupação, quando João estava de licença em seu emprego, ele frequentou o colégio com frequência, participou de debates e levou doações de alimentos. Depois de voltar à rotina normal, ele ainda ajuda levando a filha ao colégio e atendendo alguns pedidos de urgência, como comprar um remédio para algum aluno que precise, mesmo que não seja para Camila.
Prestes a se formar, a estudante afirma que a preocupação da sua família acontece não só pela paralisação das aulas, mas por toda a conjuntura do ensino no país. Na incerteza do futuro da educação, Camila conta que a participação do pai é motivada pela consciência do que a reforma do Ensino Médio pode ocasionar. “É meu último ano, então ele quer estar por perto e acompanhar, até para quem sabe no futuro meus filhos possam usufruir de uma escola pública com liberdade de pensamento”, diz.
A família arregaça as mangas – Os cartazes espalhados pelos colégios marcam em letras garrafais as regras e organização das ocupações. Na porta da cozinha do Colégio Estadual Mathias Jacomel, em Pinhais, o nome de uma mãe aparece escrito como uma das responsáveis em coordenar o preparo das refeições. Soraia Galdino vai todos os dias a escola com sua filha Lorena Galdino, 14 anos, para auxiliar na cozinha e na limpeza durante as tardes e noites.
Além de ser mãe, Soraia também é aluna do colégio. Por isso vê sua responsabilidade dobrar com relação à ocupação. Ela conta que ao saber do movimento, mãe e filha conversaram e decidiram juntas que iriam participar. “Ela me incentiva em ajudar e eu dou força da mesma forma”, conta.
Mesmo passando a maior parte do dia na cozinha, Soraia busca participar das discussões que acontecem sobre a reforma do Ensino Médio e a PEC 241. Reuniões com os pais, assembleias abertas e grupos para discussão são promovidos nos colégios de Pinhais. Há pais que, assim como ela, frequentam a ocupação e reforçam o movimento dos estudantes, enquanto outros não aprovam as ações.
Na sinopse dessa história da vida real, existem os familiares a favor, contra e aqueles que não tem informações a respeito do movimento. O estudante Willian Alexsander, aluno do Arnaldo Busato e um dos articuladores da ocupação no colégio, acredita que a maioria dos pais não apoiam as ocupações e veem os alunos como “massa de manobra”. “A minha vontade é chamar todos eles e mostrar o que estamos passando, o que queremos, as oficinas que participamos e a nossa organização. Mas os pais não vêm”, afirma Willian.
Os dois colégios estaduais também recebem a comunidade para esclarecer dúvidas sobre a ocupação. A palavra de ordem é educar. Por isso, os alunos do Mathias Jacomel formularam um panfleto informativo para entregar a todos que visitam a escola, aos familiares dos estudantes em casa e também nos arredores da instituição.
Apoio desde o começo –As ocupações são encabeçadas por jovens que, muitas vezes, estão começando no movimento estudantil. Por isso, o papel dos adultos que estão presentes nas escolas ocupadas é orientar os estudantes também no dia-a-dia. Alci Antunes Martins, pai de Mariana Anelise Hoch Martins, acredita que cumpre essa função. Membro da Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) do Colégio Estadual Mathias Jacomel, ele conta que aconselha os alunos principalmente nas atitudes para não prejudicar a ocupação. “Dois alunos pegaram carteiras para subir e alcançar uma bola no telhado. Eu tive que explicar que eles poderiam se machucar e ainda manchar a imagem do colégio”, explica.
Alci foi o único pai que acompanhou sua filha e outros alunos no dia em que foi anunciada a ocupação no Mathias Jacomel. No três turnos, os estudantes comunicaram que o colégio estava sendo ocupado, e ele passou em cada sala para esclarecer o que estava acontecendo. “Me apresentei como membro da APMF e expliquei os motivos da ocupação. Orientamos para que os alunos falassem aos pais o porquê fizemos aquilo e se concordassem, estariam convidados a participar”, conta.
A participação não somente dos pais, mas do resto da família também é importante, principalmente na organização, para levar alimentos e para ajudar nas oficinas. O número de colégio ocupados vem crescendo e, aos poucos, vão se tornando espaço de transformações e de união.
Fonte: Jornal Comunicação UFPR