Os portões que separavam os(as) manifestantes da sede da Polícia Federal em Curitiba continuam intactos. Já os(as) trabalhadores(as) que defendiam, pacificamente, o livre curso da democracia brasileira carregarão por algum tempo as marcas físicas de mais um ataque covarde e brutal ao direito de protestar.
No sábado (07), a polícia federal atirou bombas de efeito moral e balas de borracha sobre os(as) manifestantes contrários à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No local, havia também manifestantes favoráveis à prisão do ex-presidente, no entanto, apenas um lado foi punido com repressão física. “Estávamos a poucos metros do portão fazendo uma transmissão ao vivo dos nossos celulares. Nisso, passou um helicóptero, no momento, estávamos cantando, os rojões vinham somente sobre o nosso lado, não tínhamos a intenção de entrar e a primeira bomba estourou em mim. Percebi tiros da PF e comecei a ver pessoas caindo” relata a advogada Vânia Camargos.
Vânia teve os pés e pernas atingidos pelos estilhaços das bombas. Mas a dor moral prevalece ao sofrimento físico. “Eu estava lá porque acredito que tudo que está acontecendo hoje nos impede de ter um um país mais justo, sem fome, com segurança e educação. Eu ainda não senti a dor, eu ainda não dormi, porque o que machuca de verdade é a sensação de não poder expressar aquilo que acredito e quero para o meu país”, lastima Vânia.
Desde que promulgada, em 1988 a Constituição Brasileira já foi modificada quatro vezes para impedir que o líder do Partido dos Trabalhadores chegasse ao poder. “A primeira vez em 1988, quando aumentaram para cinco anos o mandato de José Sarney, com medo que Lula se elegesse em 1988. A segunda vez em 1997, com a emenda – comprada com dinheiro em malas – que permitia a reeleição de FHC, que assim derrotou Lula em 1998. A terceira vez em 2015, acabando com a reeleição e aumentando o mandato para cinco anos, com medo de Lula voltar para mais 8 anos em 2018. A quarta foi agora, para que ele não ganhasse a eleição em outubro. Todos estes atropelos à constituição tiveram o aval do STF”, relembra a professora e militante Elika Takimoto em seu perfil no Facebook.
Participar da manifestação pela liberdade do presidenciável é remar na contramão de uma mídia e de um judiciário que insistem em provas inconsistentes para propagar o ódio e a falsa sensação da ascensão dos valores morais, em um momento onde a realidade dos governos neoliberais expõe as carências dos(as) trabalhadores(as). “Lula é um preso político e, por ser um preso político, consolida-se um Estado de exceção, vamos continuar em vigília. Fomos sem haver nenhuma tentativa de pular o portão ou de balançar as grades. Estávamos e continuaremos na frente em vígilia”, reforça a vice-presidente da CNTE, professora Marlei Fernandes de Carvalho.
29 de abril, outra vez – O ataque aconteceu no mesmo sábado em que a categoria deu seu adeus ao governo Richa dizendo um basta ao desrespeito, às mentiras e à violência. “Já ali tivemos um pequeno confronto com a policia e a segurança do Palácio, sem nenhuma necessidade. Cantar e entoar palavras de ordem faz parte do trabalho militante que sempre fizemos. Em nenhuma das duas situações tínhamos intenção de entrar ou vandalizar qualquer espaço público. Vamos continuar nossa luta pela democracia, por direitos. Os direitos da categoria que dependem dos direitos da nossa sociedade”, defende a professora.
A APP-Sindicato é contrária ao uso da força policial para conter manifestações pacíficas. O Sindicato solidariza-se com os(as) manifestantes feridos(as) na noite desse sábado (07) e reforça o seu compromisso com uma sociedade democrática, livre e justa. Chega de violência!
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