No último dia 12 de junho, o mundo inteiro voltou os olhos para o ataque sofrido em uma boate americana, em Orlando, onde 49 pessoas foram assassinadas e 53 foram feridas. O atirador, que se matou logo após o ataque, deixou claro o seu ódio contra a comunidade LGBT ao atirar, a sangue frio, em jovens por causa de sua sexualidade. O caso chocou o mundo não apenas pelas vidas que foram tiradas graças ao ódio e à intolerância, mas pelo argumento da mídia e milhares de pessoas de que não foi um crime homofóbico e, sim, um ataque terrorista.
É assustador o esforço para que esses crimes não sejam nominados exatamente como eles são: homofobia. O esforço da mídia e de personalidades que atacam, diretamente, a comunidade LGBT e seus direitos, é para, inclusive, fazer com que a própria comunidade pareça ser responsável pelos crimes cometidos contra ela. Ou seja, não se assume a existência de homofobia como uma realidade e se usa termos como “crimes cometidos por gays enrustidos” para justificar os assassinatos.
No Brasil, só em 2015, foram registrados 318 assassinatos de LGBTs. De acordo com relatório apresentado anualmente pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), no ano passado esse índice representou um crime de ódio a cada 27 horas. O relatório aponta que, deste total, 52% eram gays, 37% travestis, 16% lésbicas, 10% bissexuais. O GGB aponta, também, que 7% dos mortos eram heterossexuais que foram confundidos com gays e 1% de amantes de travestis.
De acordo com o administrador do banco de dados do GGB, Eduardo Michels, em entrevista à TV Brasil, esses dados ainda não representam a realidade dos crimes homofóbicos cometidos no país. “A maior dificuldade é a gente ter conhecimento desses casos de morte, de assassinatos. Às vezes, quando a cidade é pequena, os dados vêm muito entroncados ou, então, não chegam até nós”, explica. O GGB divulga os dados pelo portal ‘Quem a homofobia matou hoje?’, de casos que são veiculados pela imprensa. Já que muitos assassinatos não chegam a ser divulgados pela mídia, não são contabilizados nos dados anuais divulgados pela entidade.
Para o integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Marcelo Chalréo, é preciso insistir na mudança dessa cultura homofóbica existente no país. “Nós precisamos de uma legislação que propicia o acolhimento das pessoas nas mais diferentes vertentes. Acolhimento da mulher, do jovem, do idoso e também da população LGBT. E uma indução, por parte do Estado à mudança dessa cultura. Acho que isso é fundamental, isso tem que vir desde a base até os escalões mais superiores da nossa sociedade, do nosso Estado e assim por diante”, explica.