2015 foi um ano intenso, com muita resistência e luta da categoria. A unidade dos(as) educadores(as) foi fundamental para garantir que a educação pública do Paraná não sofresse ainda mais com os desmandos do governo. O presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão, lembra que foi um período de grande mobilização e desafios para a educação do Estado. Em entrevista, ele destaca que os próximos três anos de gestão Beto Richa ainda devem ser de muita luta para os(as) educadores(as).
Um dos acontecimentos mais marcantes deste ano foi a realização de uma greve histórica da categoria. No que esse período foi diferente de greves anteriores?
Toda greve responde a um momento histórico determinado. A acentuada ofensiva governamental no final de 2014 e início de 2015, com o desmonte pedagógico e a retirada de direitos, precipitou a greve. Como temos dito, foi uma greve de resistência para se garantir, por exemplo, que nosso plano de carreira não fosse alterado, ou ainda pelo não fechamento de projetos e programas que implicaria em demissões de PSS. E está aí um primeiro diferencial. Um segundo ponto que diferencia esta greve de outras foi a forte mobilização, com a participação de praticamente 100% dos(as) educadores(as). A categoria, desde a assembleia de Guarapuava, entendeu que só a mobilização conseguiria por freio a esta ofensiva, uma vez que a correlação de forças na Assembleia Legislativa nos é amplamente desfavorável. Como não se lembrar das assembleias nos estádios e as caminhadas que reuniram dezenas de milhares de pessoas?! Um terceiro ponto foi a ocupação da Alep, em fevereiro, que resultou na retirada dos projetos e o encerramento da Comissão Geral, uma vitória de toda a sociedade paranaense. Outro ponto, foi o massacre do dia 29 de abril. A barbárie levada ao extremo da violência patrocinada pelo governo serviu para mostrar para toda a sociedade paranaense o descompromisso com a educação e, por outro lado, nos mobilizou mais ainda. É importante também destacar o amplo apoio da sociedade paranaense, que solidariamente entendeu nossa luta e manifestou-se favorável a nossa pauta, o que demonstra a legitimidade do nosso movimento.
A categoria sofreu na pele com a truculência no dia 29 de abril. Como isto marca a história da educação pública no Estado?
Infelizmente a história é muito marcada pelos sinais de truculência. Há 27 anos lembramos o 30 de agosto e o chamamos de dia de luto e luta da educação. O 29 de abril não será diferente. Será lembrado como dia em que este governo agiu de forma intencional e violenta contra manifestantes que, legitimamente, defendiam seus direitos. Também será lembrado pela forma de como se fez a resistência. Não nos esqueceremos jamais do que aconteceu naquele início de tarde. As bombas, os tiros, o helicóptero, o pelotão de choque investindo contra educadores(as), tudo isso reflete a forma como este governo trata a educação.
Em janeiro de 2016 o sindicato vai realizar o Congresso Estadual da APP. Qual a expectativa para o evento?
O Congresso trata da nossa organização política mais geral. Nele fazemos uma avaliação das atuais conjunturas internacional, nacional, estadual e educacional. Também fazemos um balanço da atual gestão e, especialmente para este Congresso, uma revisão do que foram as greves neste período. Por fim há toda uma reflexão sobre as políticas permanentes desenvolvidas. Isto tudo serve de parâmetro para o estabelecimento de um plano de lutas que nos organizará para os próximos três anos. Quanto às expectativas, elas são as melhores possíveis. Os Congressos Regionais já estão acontecendo com um grau de mobilização interessante, demonstrando que, apesar do atropelo pelo cumprimento do calendário escolar, os(as) sindicalizados(as) estão participando do processo, fazendo o debate e sugerindo modificações à tese guia. Precisamos intensificar este debate, estabelecer um bom plano de lutas para sairmos mais fortalecidos e unificados para os enfrentamentos que teremos nos próximos anos, período de resistência.
2015 foi um ano muito intenso para a educação pública do Paraná. Quais as lutas para 2016?
O cenário continuará adverso. Teremos mais três anos deste governo, que será de enfrentamento. Logo no início do ano a luta será pela implementação do índice do reajuste do Piso Nacional do Magistério que nacionalmente foi definido em 11,36%. Há pendências como a implementação das promoções e progressões, a abertura de novas turmas de PDE, a concessão das licenças que foram suspensas neste ano, o cargo de 40 horas e concursos. A pauta pedagógica sempre intensa será igualmente desafiadora. Temos o fechamento de turmas, escolas, projetos e programas, porte de escola e número de estudantes por sala, as questões da educação integral, as discussões em torno da Base Nacional Curricular Comum e sobre o plano META, que aparece no Plano Plurianual como a principal ação da Seed para o quadriênio, o monitoramento do Plano Estadual de Educação e em especial o acompanhamento da Lei de Sistemas que, além de orientar o pacto entre Estado e Municípios, discutirá também a gestão democrática. Enfim, prevemos um ano tão intenso como foi o de 2015. Daí a necessidade de mantermos a mobilização e a unidade para os enfrentamentos e adversidades que se avizinham.