Por fora bela viola, por dentro pão bolorento. A propaganda de Ratinho Jr e Renato Feder sobre a plataforma Inglês Paraná, que custou R$ 13 milhões aos cofres públicos, soa muito bem. Mas a realidade é completamente diferente.
Falta de estrutura e equipamentos nas escolas, aplicativo imprestável, dificuldades de acesso, assédio e imposição de uso sem base legal são alguns dos problemas enfrentados por estudantes e educadores(as) da rede estadual.
O aplicativo de celular da multinacional EF English First, sediada na Suíça, pontua 2.1 estrelas na Playstore (loja da google), resultado abaixo do medíocre. A página de avaliações virou um mural de lamentações de estudantes frustrados com os problemas da plataforma.
“Eu, como aluna, posso dizer que esse aplicativo é horrível, dá erro no login e erro ao entrar. Pra piorar é necessário ter esse aplicativo pois corre o risco de reprovar. Mau funcionamento e ainda é obrigatório,o pior aplicativo que já instalei”, opina uma usuária.
Professores(as) também criticam a implantação do aplicativo sem uma contrapartida na estrutura das escolas. Um educador comenta:
“Os professores estão sendo orientados a solicitar que os alunos realizem os exercícios em aula e logados em suas contas. Sabemos que a depender do porte da escola, pode haver mais de um professor de inglês ministrando aulas simultaneamente, o que requer mais de um laboratório de informática ou computadores em quantidade suficiente para cada escola suprir essa demanda. Serão disponibilizados um computador por aluno em aula?”
Ataque à autonomia docente
Em tese, a adoção da plataforma deveria ser opcional. Mas a Seed e os NREs cobram a utilização e constrangem escolas a adotarem o programa, o que viola a autonomia pedagógica e a gestão democrática, além de gerar ainda mais transtornos para professores(as) já sobrecarregados(as).
Há relatos de contratados(as) ameaçados(as) de substituição caso não usem a metodologia importada.
“O uso dessas duas plataformas não é obrigatório. Sua utilização deveria ser de livre escolha da escola e dos(as) professores(as), dentro do planejamento pedagógico, e não como está sendo feito, substituindo nosso direto de livre escolha e organização das aulas”, afirma Vanda Santana, secretária Educacional da APP.
Assim como a Redação Paraná, o programa de inglês integra um projeto de mercantilização e plataformização da escola pública no estado, que enriquece a iniciativa privada, empobrece o ensino-aprendizagem e transforma o projeto pedagógico em números e metas para maquiar resultados.
Para Nádia Brixner, secretária executiva Educacional da APP, o problema não é a adoção e promoção de novas tecnologias, mas a sua instrumentalização por um projeto político de vigilância e punição. “As plataformas não são utilizadas como recursos didáticos. Não buscam a melhora da aprendizagem, mas controlar o trabalho dos(as) educadores(as) e gerar números que o governo pode usar em suas propagandas”, analisa.
“A gente não pode permitir que isso sirva para ranquear escola, para cobrar resultados e metas, porque o princípio da escola é o processo de ensino-aprendizagem, com autonomia do trabalho docente e da organização da escola”, complementa Vanda.
A APP orienta a categoria a resistir às imposições da Seed e NREs, sempre registrando oficialmente as dificuldades de uso da plataforma e a falta de condições ofertadas pelo governo Ratinho. Estudantes não podem ser prejudicados(as) ou discriminados(as) pela impossibilidade de acesso ou problemas técnicos da plataforma.
Da mesma forma, o laboratório de informática não pode ser monopolizado para este fim, impedindo que outras disciplinas utilizem os já escassos recursos tecnológicos da escola.