Setores da sociedade que acreditam que apenas as pessoas que podem pagar devem ter acesso a direitos, dignidade e qualidade de vida, espalham a mentira de que há muitos funcionários públicos no país e que seria preciso acabar com o “inchaço da máquina pública”.
Isso não é verdade.
O gráfico abaixo apresenta uma comparação entre o percentual de servidores públicos em relação ao total de trabalhadores nos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, fórum que reúne 37 países que são responsáveis por 62% do PIB mundial, ou seja, os países mais ricos do mundo).
O Brasil não faz parte da OCDE. Mas se fizesse, veja em que posição ficaria em relação aos demais países:
A média dos países membros da OCDE é 18%.
Outro dado interessante: entre os países com maior quantidade relativa de servidores, todos estão na frente do Brasil em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ou seja, com melhor qualidade de vida.
Vamos ver alguns exemplos:
Noruega: 31% de servidores, 1º em IDH
Suécia: 29% de servidores, 8º em IDH
Dinamarca: 28% de servidores, 9º em IDH
Finlândia: 24% de servidores, 12º em IDH
França: 21% de servidores, 26º em IDH
Israel: 20% de servidores, 22º em IDH
Canadá: 19% de servidores, 13º em IDH
Bélgica: 18% de servidores, 17º em IDH
Grécia: 17% de servidores, 32º em IDH
Eslovênia: 17% de servidores, 24º em IDH
Áustria: 17% de servidores, 20º em IDH
Reino Unido: 16% de servidores, 15º em IDH
Estados Unidos: 15% de servidores, 16º em IDH
Irlanda: 15% de servidores, 3º em IDH
Os gráficos são impactantes porque mostram que mesmo países com tradição mais liberal possuem mais servidores do que o Brasil. Até mesmo os Estados Unidos da América (EUA), que é sempre usado como exemplo de “Estado mínimo” empregam mais trabalhadores no serviço público que o nosso país: 15% dos trabalhadores norte-americanos são servidores públicos.
Importante: não havia dados sobre Austrália, Chile, Islândia e Nova Zelândia e, portanto, não aparecem neste ranking.
E no Brasil, há inchaço da máquina pública?
Os dados são bastante reveladores porque desmontam a tese do tal “inchaço na máquina pública”: no Brasil, apenas 12% dos trabalhadores estão no serviço público.
Se o Brasil fizesse parte da OCDE, estaria perto do 30º lugar, ou seja, entre os países com menor quantidade relativa de servidores públicos.
E em comparação ao IDH, os dados também são alarmantes: embora tenha avançado desde os anos 2000, o Brasil ainda ocupa a 79ª posição.
Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que a quantidade de servidores públicos no Brasil cresceu praticamente no mesmo ritmo do que a quantidade de trabalhadores da iniciativa privada. E a ampla maioria se deu nos municípios e em áreas essenciais como Saúde e Educação.
O que esses dados revelam
Nos países mais desenvolvidos, o funcionário público é tratado com mais respeito (pelos governos e pela população). Ou seja, há mais estrutura, suporte, incentivos e melhores salários.
A maior quantidade de servidores públicos também revela maior presença do Estado na sociedade e na economia, provendo mais empregos para uma parcela dos trabalhadores que não é absorvida pela iniciativa privada.
Com mais servidores, o atendimento à população é melhor, mais ágil e mais eficaz, e isso gera aumento na qualidade de vida (consequentemente, avanço no IDH).
O que está errado?
No Brasil, não há excesso de servidores. Pelo contrário, há falta, e isso impacta na qualidade de vida da população. A relação entre a porcentagem de servidores públicos entre os trabalhadores e o IDH é um forte indicativo.
Portanto, não acredite em matérias e postagens alarmantes, que tentam enganar a população com teorias sensacionalistas sobre “inchaço da máquina pública”. Isso não existe. Os dados comprovam que a realidade do Brasil é completamente diferente.
É preciso valorizar os serviços públicos. Eles são essenciais para a maior parte da população, e fundamentais para gerar bem-estar e mais qualidade de vida, diminuindo os abismos sociais.
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