O incrível governador que encolheu

O incrível governador que encolheu


A carreira política do governador Beto Richa (PSDB), aparentava uma consolidação definitiva quando a maioria da população paranaense referendou sua reeleição em primeiro turno no mês de outubro/2014.A conquista se revestia de brilho e promessas de voos mais altos.

Ainda mais pela simples constatação de que o mesmo enfrentou uma disputa com mais sete concorrentes, dentre eles dois nomes conhecidos nacionalmente, o Senador Roberto Requião (PMDB), três vezes governador do estado e a Senadora Gleisi Hoffmann (PT), Ministra Chefe da Casa Civil do Governo Federal durante a maior parte do primeiro mandato da Presidenta Dilma Housseff (PT).

Mas como a história é sempre dinâmica ela também pode produzir o efeito da frase de Marx “Tudo que é sólido se desmancha no ar”! A partir de uma conjugação de escolhas, fatos e consequências é possível aplicar esse conceito ao atual governador do Paraná.
A vitória eleitoral, tanto no executivo como no legislativo, combinada a um período de crise financeira no estado transformou completamente o comportamento do governador. É possível afirmar que essa combinação quebrou a máscara da liderança que se passava pelo bom-mocismo e se valia da herança familiar tão presente na política paranaense.

A afirmativa do governo de “dialogo e respeito” tão utilizada pelo próprio governador, do líder democrático, deu lugar a uma governança absolutamente autoritária não encontrando respaldo na Constituição e seu fundamento de Estado Democrático de Direito.

O caminho escolhido para superar a crise financeira do primeiro mandato do governo Richa, baseada no chamado “choque de gestão”, com ampla penalização da população trabalhadora e principalmente dos servidores por si já pressupõe conflito e não se combina portanto com democracia. A escolha de técnicos como o Secretário da Fazenda Mauro Ricardo, do ex-Secretário de Educação Fernando Xavier e a ascensão do delegado e deputado federal Fernando Francischini (SD-SOLIDARIEDADE) ao cargo maior da segurança pública já mostraria a priori uma combinação anti-democrática, do tipo água e óleo com o mote do diálogo e respeito.

A ausência de diálogo combinada com a utilização da comissão geral, o famoso tratoraço e a submissão da maioria dos deputados da Assembleia Legislativa do Paraná aos encaminhamentos do Palácio Iguaçu produziria em curto período uma forte crítica social ao “novo” governo do estado.

A ruptura democrática ficaria exposta de vez no início do mês de fevereiro quando através do mesmo expediente do regime de urgência o governo pretendeu aprovar no prazo de uma semana o pacotaço de ataques aos direitos previdenciários e de carreira dos servidores, especialmente da educação. Não restou outro caminho a não ser a organização rápida e definidora da greve geral. A forte mobilização impediu a desestruturação das carreiras e conquistou apoio da sociedade paranaense. Ao mesmo tempo a aprovação do governo foi despencando vertiginosamente.

Embora desgastado o governo insistiu na reforma previdenciária. Uma proposta que produz insegurança dos direitos de aposentadoria dos servidores do estado e tem sido considerada pelos juristas, ilegal.
A violência do método autoritário produziria a segunda greve da educação e a violência do dia 29 DE ABRIL, episódio que ficou conhecido como o massacre do Centro Cívico.

A partir da repercussão nacional e internacional da violência planejada e executada a partir do próprio gabinete do governador, conforme explicitou o Inquérito do Ministério Público Estadual, a reação do mesmo foi a mais desastrada possível.

O governador se colocou como o principal interprete do ocorrido em 29 de Abril e se perdeu completamente nas varias versões que divulgou. Ficou evidente o esforço em se passar por vítima, acusando os manifestantes, versão que a própria imprensa brasileira desmontou. Depois de um aparente surto de humildade em que veio a público pedir perdão em nome próprio e também em nome dos educadores – sem que tivesse tido a grandeza de qualquer diálogo com a categoria – não demorou para que Beto Richa voltasse à versão inicial de atacar os manifestantes e principalmente a direção da APP-Sindicato.

Outro grande foco da metodologia deste segundo governo foi o empenho pessoal do governador em manter um permanente ataque aos educadores no pós greve. A distorção criminosa dos valores salariais de educadores, o estímulo ao patrulhamento ideológico dos conteúdos trabalhados nas escolas, a propaganda enganosa sobre as condições de trabalho na rede estadual e sobretudo a recorrente fala do governador em partidarizar o movimento da greve foram elementos que colocaram a categoria e a própria população numa atitude de desprezo pela liderança maior do estado.

As fortes denuncias de corrupção no estado do Paraná, especialmente envolvendo a Receita Estadual e a construção e reforma de escolas são outra fonte de desgaste permanente de um governo que se deteriorou rapidamente após a reeleição.

A recuperação da imagem do governador Beto Richa perante a opinião pública paranaense é remota, incerta, improvável. Embora ainda tenha três anos de mandato, a forma despreparada de lidar com o período de crise revelou um homem titubiante, vaidoso e inseguro. Essas características deram lugar ao fortalecimento de lideranças autoritárias e interesseiras junto ao poder público. Portanto, Beto Richa encontra-se num governo que vai se deteriorando frente ao despreparo para o período de crise e frente ao jogo da corrupção.

Ao mesmo tempo os servidores e a sociedade paranaense aguardam o desfecho da denúncia de improbidade do governador sobre a violência do dia 29 de abril. Segundo o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, Beto Richa deveria perder o mandato.

A trajetória do governador Beto Richa lembra o personagem principal do filme “O incrível homem que encolheu, The Incredible Shrinking man”. Lançado em 1957, o filme dirigido por Jack Arnold, conta a história de Scott Carey (Grant Williams), um homem comum que tendo sido contaminado por uma misteriosa nuvem radioativa, começa a encolher, até chegar a dimensão atômica! É um belo filme, uma boa dica para este período de férias.

(*) Hermes Silva Leão é professor da rede estadual de Educação Básica do Paraná e presidente da APP-Sindicato

MENU