Quem esteve no cerco à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), naquela quinta-feira chuvosa, em 12 de fevereiro de 2015, testemunhou um momento histórico. Imagens daquele dia rodaram o mundo – bem como as futuras imagens do sangrento 29 de abril – e inspiraram a luta de milhões de trabalhadores(as). Naquele dia, os professores(as) e funcionários(as) de escolas do Estado, aposentados e da ativa, efetivos e temporários, bem como servidores(as) de outras categorias, gritaram em alto e bom som: “Retira ou não sai!”. O brado referia-se às duas mensagens enviadas pelo governador Beto Richa, os projetos de lei 06/2015 e 60 2015, que estraçalhavam as carreiras da Educação e do serviço público estadual.
Confiando na maioria absoluta dos votos na Casa Legislativa, e na total passividade e assombro dos(as) trabalhadores(as), o governo imaginou que a resistência seria pífia. O tamanho e força da resposta, no entanto, entraram para a história dos movimentos sociais. A jornada dos educadores(as) foi intensa, começou no ano anterior, com uma assembleia realizada pela APP-Sindicato em novembro de 2014, em Apucarana. Na ocasião, após a vitória de Richa para um segundo mandato, a categoria já sabia que viria ‘chumbo grosso’. E não demorou. Apelidado de ‘pacotaço’, orquestrado pelo novíssimo e mal afamado secretário da Fazenda, Mauro Ricardo da Costa, as maldades foram anunciadas em janeiro de 2015. Algo precisava ser feito.
No início de fevereiro, uma assembleia gigantesca da categoria, em Guarapuava, aprovou o início da greve para o dia 9. Além disso, um acampamento permanente foi montado no Centro Cívico. A indignação dos(as) educadores(as) – somada a capacidade organizativa e de resistência do sindicato – foi o motor da resistência. Em uma luta de Davi contra Golias, os(as) trabalhadores, ignorados e subestimados pelo governo, ocuparam a Assembleia no dia 10. A base governista, que a partir do dia 12 de fevereiro seria batizada de “Bancada do Camburão”, não ouvia apelos e concordava bovina e cinicamente com as decisões do Poder Executivo. O governador e a sua trupe, que queria ‘mostrar serviço’, se mostrava inflexível.
Durante o dia 11, a Casa do Povo continuava do povo, e não houve sessão. Os poucos e valentes parlamentares de oposição tentavam, de todas as formas, mediar um entendimento e encaminhar uma discussão dos projetos antes da sua aprovação. Também foram atropelados pelo chamado ‘tratoraço’. No dia 12, mesmo com o plenário ocupado por trabalhadores(as) e estudantes, a bancada governista se submeteu a um dos papéis mais humilhantes dos quais tem-se registro na história política do Paraná: foi conduzida à Assembleia em um camburão. Escoltados por soldados do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar – o Bope, que serrou as grades em volta do prédio para conseguir o acesso ao local – a Bancada do Camburão tentava votar, no restaurante da Alep, as maldades.
Com a pressão aumentando do lado de fora, e a mando do então secretário de Segurança Pública Fernando Francischini, a polícia atacou a multidão. Balas de borracha, bombas de efeito moral, cacetetes sobre o povo. Em um primeiro momento, gritos e pânico contaminaram as fileiras. Mas pouco depois, a revolta e a indignação voltou a tomar conta das pessoas. O movimento cresceu no sentido do prédio e, em poucos minutos, a Alep foi tomada. Notificados e temendo pela própria pele, a bancada governista, juntamente com o presidente da Casa, o deputado Ademar Traiano, retrocedeu e suspendeu a sessão imoral. O governo, por sua vez, resolveu retirar o pacotaço.
A alegria que se seguiu ao anúncio de que aquele pesadelo havia acabado foi catártica. Choro e orgulho se misturavam durante as falas dos(as) dirigentes da APP, deputados que apoiaram os(as) servidores(as), estudantes, trabalhadores. O povo celebrou. Com a repercussão da resistência, movimentos sociais e sindicais sentiram-se inspirados a não esmorecer. E evocar aquele dia, aquela vitória, neste momento tão difícil, nos faz lembrar a frase do líder e ativista Nelson Mandela: “Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele”. Continuemos triunfando sobre o medo!
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