O Camburão digital | Artigo de Luiz Fernando Rodrigues

O Camburão digital | Artigo de Luiz Fernando Rodrigues


Em 2015, durante o governo Beto Richa (PSDB), um projeto enviado pelo executivo praticamente destruía as carreiras do serviço público estadual. Um grande mobilização se viu em todo o Paraná. Servidores(as) das universidades públicas estaduais, da saúde, Detran, penitenciárias, educação entre outros iniciaram uma grande greve para tentar barrar o chamado “Pacotaço” do então governador. Com maioria na Assembleia Legislativa, o governo acionou a chamada “Comissão Geral” ou “Tratoraço” para aprovar o projeto o mais rápido possível. Milhares de pessoas se reuniram em frente a ALEP e deputados, para entrar no prédio tiveram que entrar num camburão da Polícia e acessaram o local através de um buraco na certa. Revoltados, servidores(as) ocuparam o prédio e os(as) parlamentares(as), com medo, tiveram que suspender a sessão e ficariam eternamente conhecidos como deputados do camburão.

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Quase 10 anos depois, o atual governador Carlos Massa Ratinho Jr. (PSD), repete o feito de seu antecessor e patrão (sim, ele era secretário no governo anterior). Em uma disputa desenfreada pelo protagonismo na extrema-direita nacional, com vistas à eleição de 2026, decidiu ser mais liberal que outros como Eduardo Leite (PSDB-RS) e Tarcísio de Freitas (PS-SP) e agora, além da privatização das rodovias, porto de Paranaguá, Copel Telecom, parte da Sanepar e da maior empresa pública, a COPEL, quer vender escolas públicas.

O que se viu novamente foi um levante de estudantes, pais, mães, professores(as), funcionários(as) pelas ruas de todo estado para defender suas escolas. O projeto nefasto pretende repassar a administração dos estabelecimentos de ensino para empresas privadas que ficariam encarregadas de toda a gestão, inclusive, a contratação de professores(as) e funcionários(as). A alegação falsa do governo e do secretário de Educação é de que não haveria interferência pedagógica. O projeto de lei especifica, porém, que a empresa terá um plano de metas a serem cumpridas e que os profissionais terão que se adequar a tal plano.

Numa sessão conturbada e em regime de urgência, deputados(as) governistas decidiram tentar aprovar a medida e impedir acesso da maioria das pessoas ao prédio. Professores(as), funcionários(as), estudantes e comunidade forçaram a entrada ao prédio e o presidente da ALEP, Ademar Traiano (PSD) – corrupto confesso que recebeu R$ 100 mil reais de propina em negociata com empresário da comunicação – decidiu suspender a sessão e convoca-la para horas mais tarde de forma on-line.

Aglomerados num verdadeiro camburão digital, 39 deputados(as) que jamais passaram pelos bancos das escolas públicas estaduais e mal sabem o que lá se passa, aprovaram o projeto do governo. Mais uma vez, uma vergonha nacional pro Paraná. Escondidos como ratos, transformaram o aparato estatal em verdadeiro balcão de negócios afim de agradar seus parceiros(as) que querem transformar em “parceiros da escola”. Mal sabem o que os espera ao tentar levar o projeto para consulta das comunidades escolares. Sem o aparato policial, sem o “camburão digital”, a conversa agora, será diferente. Resistiremos e continuaremos a luta em defesa de uma escola pública gratuita e de qualidade para todos e todas! Viva nossa luta!

Luiz Fernando Rodrigues é agente educacional II na rede pública estadual. Formado em Marketing e Especialista em gestão escolar.


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