O Brasil e o mundo perderam no último sábado (08/08/20) o profeta da Amazônia Dom Pedro Casaldáliga. Nascido em Balsareny, província de Barcelona, na Espanha, aos 16 dias de fevereiro de 1928, Dom Pedro foi um sacerdote católico que, radicado no Brasil desde 1968, era bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Estado de Mato Groso. O espanhol mais brasileiro de todos, Dom Pedro chegou ao país justamente em uma das regiões mais marcadas pelo analfabetismo, marginalização social e de grandes latifúndios do país, em que os conflitos pelo direito à terra produziram muitos assassinatos de indígenas e camponeses, e ainda o fazem nos dias de hoje.
A frase citada no começo desta nota consta em um livro por Dom Pedro prefaciado chamado “Revolucionários por causa do Evangelho”, que reúne depoimentos e testemunhos de muitos militantes nicaraguenses que, no ano de 1979, fizeram a primeira revolução socialista com participação ativa dos cristãos daquele país. Era o exemplo histórico da unidade concreta entre revolucionários e cristãos na luta por um mundo mais justo. Dom Pedro Casaldáliga, ordenado bispo no Brasil pelo dominicano Tomás Balduíno, fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que, anos mais tarde, veio a contribuir com a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Sempre foi um ardoroso defensor das causas indígenas e dos pequenos camponeses.
Além de estudioso em temas da Sociologia e da Antropologia, Dom Pedro fazia da poesia o instrumento de sua mais forte denúncia contra as injustiças sociais desse mundo. E, por isso, foi ameaçado de morte muitas vezes, ainda no período dos governos militares e, mesmo depois, já na retomada da democracia no Brasil. Mesmo dentro da Igreja, suas denúncias proféticas incomodaram muita gente! Exercia na prática o que ficou conhecido como uma espiritualidade da libertação, que reconhecia Deus no homem mais humilhado e oprimido, naquele que lutava, aqui e agora, pela instalação imediata e histórica do Reino dos Céus na Terra.
Por todo o impacto de sua obra e de sua poesia, Dom Pedro Casaldáliga extrapolava os muros da própria Igreja, fazendo sua fé missionária atingir até os mais descrentes dos ateus porque, afinal, não interessa aos olhos de Deus no que os homens dizem acreditar, mas sim o que eles fazem na prática de suas vidas como agentes de transformação de um novo e urgente mundo. E o que interessa verdadeiramente, e que ficará para sempre marcado, é o exemplo de luta e vida de Dom Pedro Casaldáliga.
Os/as educadores/as brasileiros/as, que defendem uma educação pública, gratuita laica e socialmente referenciada, se uniram em vida às lutas travadas por Dom Pedro. Hoje, diante de sua descomunal e irreparável perda, se unem a ele em seus sonhos e sede de justiça! Por uma América Latina livre e justa com seus pobres, seguimos inspirados pelo testemunho da palavra militante do profeta de seu povo! Dom Pedro Casaldáliga, presente, presente, presente!
Brasília, 10 de agosto de 2020
Direção Executiva da CNTE