“Nossa voz é o que nos fortalece”: seminário sobre assédio moral debate a saúde dos(as) trabalhadores(as) APP-Sindicato

“Nossa voz é o que nos fortalece”: seminário sobre assédio moral debate a saúde dos(as) trabalhadores(as)


Foto: Aline D'avila de Lima

O seminário “Assédio moral, condições de trabalho e adoecimento”, que iniciou-se na manhã de hoje (26), apresentou uma análise sobre a saúde e o trabalho. Com a presença de pesquisadores(as) da área de saúde, trabalho e assédio moral, educadores(as) falaram sobre a realidade de adoecimento nos ambientes de trabalho.

O professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná, Paulo de Oliveira Perna, iniciou os debates com um resgate histórico sobre a origem do trabalho e destacou a necessidade de sobrevivência do ser humano. “O trabalho é ação central que nos torna humanos. É a nossa ação sobre a natureza, sobre nós mesmos, nos transformando, criando instituições e formas, solucionando problemas que nos tornam humanos. Nossa humanidade não está pronta, está sendo construída com o trabalho”, explica. No entanto, de acordo com o educador, este tema está diante de uma contradição. “Ao mesmo tempo que o trabalho é o que nos torna humanos, ele nos desgasta, tira nosso tempo do convívio social, nos mata”, explica.

O professor destaca que o capitalismo se apropria do produto do trabalho, que é produzido coletivamente, e isso afeta diretamente o(a) trabalhador(a). “Isso impede que, para a grande maioria, seja possível desfrutar do que o trabalho produz. Portanto, o acesso e as condições para uma humanidade de excelência é dada a poucos”, destacou o professor.

Perna também falou sobre a saúde, destacando que ter saúde não se trata exclusivamente da ausência de doenças. “Saúde não é apenas não ter gripe. Saúde é a nossa condição de expressarmos a nossa melhor possibilidade humana. Para ter saúde, como nós pensamos como seres humanos, só superando a lógica do capitalismo que explora e nos desgasta pelo trabalho. Até lá, vamos fazer a luta para ir galgando e construindo o gênero humano”, disse.

O especialista em Direito Administrativo, que atua no Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), João Luiz Arzeno da Silva, destacou, entre outros pontos da discussão sobre o adoecimento dos(as) trabalhadores(as), a falta de estrutura a qual o(a) servidor(a) público(a) está exposto. “O professor e outros trabalhadores, carentes de toda e qualquer estrutura, têm que ser eficientes. Nos encontramos num meio, além de tudo, desprovido de análise sobre adoecimento do servidor público. Por exemplo, o setor público, diferente do privado, não tem a medicina laboral como uma atividade periódica dentro do ambiente de trabalho”, explicou. Silva destacou diversos viéses do assédio moral e a maneira como eles afetam diretamente o trabalho dos(as) servidores(as) públicos(as).

Também falando sobre assédio moral, a advogada do Instituto de Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra) e especialista em assédio moral, Jane Salvador de Bueno Gizzi, falou sobre o surgimento dos debates do tema. “Começamos a falar em assédio moral por volta dos anos 2000. A gente não trabalhava esse assunto com a profundidade e destaque que ele merecia, era uma violência invisível”, explica.

Gizzi fala sobre o sofrimento dos(as) trabalhadores(as) ao se depararem com o assédio e a forma como ele acontece nos ambientes de trabalho. “O assédio se dá pelos próprios métodos e políticas de gestão da empresa, é um assédio estrutural. É a instituição que assedia. Os pilares que centram esse tipo de assédio são dados pela imposição de metas, controle do tempo, do ritmo e da produtividade, além das pressões pela produtividade”, pontua.

A advogada destaca que existe um sentimento de não pertencimento de classe trabalhadora, o que contribui para a violência. “Foi se criando um processo de senso de esvaziando de pertencimento de classe. É usurpada desse trabalhador sua própria condição de empregado e, aí, sua própria proteção legal”, explica.

O secretário de Saúde e Previdência da APP-Sindicato, Ralph Charles Wandpap, destaca que a APP promove os debates sobre saúde e trabalho com o intuito de auxiliar os(as) educadores(as) a reconhecer quando estão sendo vítimas de assédio moral. “A questão precisa ser trabalhada para que as pessoas conheçam e saibam identificar o que é o assédio moral e o dano moral, possibilitando que tomem as devidas providências sobre a situação. Na questão da saúde, o adoecimento – além do ambiente escolar que adoece professores e funcionários – também é provocado pelo assédio moral”, finaliza.

Confira o vídeo do professor e pesquisador, Paulo de Oliveira Perna, falando sobre saúde e trabalho:

Confira a programação do seminário “Assédio moral, condições de trabalho e adoecimento” deste sábado, dia 27 de maio:

8h30 – Apresentação do resultado do projeto de pesquisa “Identificação dos Processos Críticos Protetores e Destrutivos da Saúde dos Professores da Secretaria de Estado da Educação do Paraná” (Palestrante professor Guilherme Souza Cavalcanti de Albuquerque)
10h – Oficinas – Elaboração da Matriz de Processos Críticos da Saúde dos(as) Professores(as)
13h – Almoço
14h – Plenária – Matriz de Processos Críticos da Saúde dos(as) Professores(as)
15h – Debate dos encaminhamentos gerais
17h – Encerramento

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