Nossa (falta de) saúde transformada em números positivos para o governo Ratinho - Por Luiz Fernando Rodrigues

Nossa (falta de) saúde transformada em números positivos para o governo Ratinho – Por Luiz Fernando Rodrigues


“DESAFIO PARANÁ – Um dos investimentos de destaque no período foi a implementação da plataforma gamificada Quizizz no projeto Desafio Paraná. A iniciativa propicia uma hora a mais de estudo para cada estudante, em todos os componentes, após o horário de aula. Foram investidos R$ 6,22 milhões, sendo realizadas 122.735 questões, com índice de acerto de 64,5%. A ferramenta tem 31.735 professores inscritos e  794.307 estudantes cadastrados.”

Esses números foram apresentados à imprensa numa matéria intitulada “Valorização dos professores e modernização de salas marcam segundo trimestre da educação”. A nota ainda destaca o aumento expressivo da procura de professores(as) à plataforma “Bem Estar”, que oferece atendimento psicológico aos(às) profissionais.”Foram 64% de aumento de consultas aos(as) educadores(as), o que significa que o governo avalia os números de servidores(as) adoecidos como positivos.”

Tentando estimular ainda mais a competição, a Secretaria de Estado da Educação anunciou o pagamento de um bônus de R$3.000,00 para cada educador(a) das escolas que superarem o IDEB. Mais uma vez, os números importam mais que qualidade educacional. A cada dia vemos a escola tomada por olimpíadas, treinos, desafios, competições, simulados que visam exclusivamente o apontamento da nota do IDEB, como se esse fosse o único medidor da qualidade na educação.

Na prática, no chão da escola, o que vemos são profissionais adoentados, sem os equipamentos adequados, em salas de aulas sucateadas, com salários defasados e cobranças absurdas de metas de acessos a plataformas milionárias que só fazem substituir o protagonismo, a autonomia e a dedicação de professores(as), pedagogos(as), diretores(as) e funcionários(as).

Também vemos escolas com pouquíssimos funcionários(as) que, mesmo adoecidos tentam em vão, dar conta do imenso trabalho de manter limpas e organizadas nossas escolas. Merendeiras têm trabalhado à exaustão para servir a merenda escolar não menos que 6 vezes durante o dia, atuando em espaços inseguros e insalubres e sem equipamentos de proteção individual e instalações adequados. Tudo isso recebendo pouco mais de R$1000.00, em sua maioria. 

Há casos de trabalhadoras atuando em meio período e recebendo cerca de R$500,00 por mês, graças à iniciativa do governo em terceirizar o trabalho de profissionais das escolas, abrindo mão de concursos públicos, carreira e valorização dos funcionários.  

As escolas cívico-militares provaram o seu fracasso ao não conseguir atingir qualquer dos objetivos propostos. Iniciadas ilegalmente sem sequer respeitar a lei que as criou, faltam policiais para a atuação, mesmo com o pagamento de uma gratificação de R$ 5.500,00 por mês (o que equivale ao pagamento de 5 funcionários de serviços gerais), a prometida farda não chegou às escolas e o que chegou não serve nos alunos, o horário estendido por conta de disciplinas obrigatórias a esse modelo de escola também obriga estudantes a chegarem em casa quando já é noite aumentando a insegurança. Também os casos de violência envolvendo policiais sem treinamento e estudantes aumentaram consideravelmente. 

O resultado de tantas arbitrariedades na educação pública do Paraná será sentido nas próximas décadas. Que estudantes estamos formando para o futuro? Enquanto os(as) filhos(as) dos ricos continuam nas escolas privadas com a educação tradicional, os(as) filhos(as) dos(as) trabalhadores(as) têm que se adequar a regras militares e uso de plataformas digitais que só servem para a evasão de recursos públicos. 

Infelizmente, temos um amanhã catastrófico para continuar estas políticas mercantilistas. Nossa luta, porém, não pode parar. A indignação de estudantes, responsáveis, trabalhadores da educação só faz aumentar. A mola gigante está para chegar ao seu limite e a volta dela será decisiva para retomarmos o caminho de uma educação pública gratuita e de qualidade para todo o povo paranaense.

>> Luiz Fernando Rodrigues é funcionário de escola agente educacional II em Maringá, formado em Marketing e especialista em Gestão Escolar. Foi secretário Estadual de Comunicação da APP-Sindicato.


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