A APP-Sindicato colocou a plataformização da educação pública no Paraná no centro dos debates da 14ª edição do Fórum da Internet no Brasil (FIB), principal evento sobre governança da Internet no país e realizado Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). A denúncia sobre os impactos nocivos dessa política foi apresentada durante uma mesa-redonda realizada nesta quarta-feira (22).
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Secretária educacional da APP-Sindicato, Vanda Santana, integrou o grupo de especialistas que discorreram sobre “A plataformização da educação na América Latina e na África e os desafios da soberania digital no Sul Global”. Em sua fala, a dirigente destacou os efeitos causados pela imposição de ferramentas digitais na aprendizagem e na saúde de professores(as) e estudantes.
“As plataformas utilizadas nas escolas do Paraná estão gerando um negacionismo científico e pedagógico, uma sobrecarga de trabalho, o adoecimento da nossa categoria e potencializando a ansiedade nos estudantes. Essa plataformização não é educação, é um grande negócio. É a terceirização da educação pública”, declarou Vanda.
Vanda disse à plateia que a introdução de plataformas nas escolas da rede estadual paranaense se intensificou após a posse do governador Ratinho Jr. (PSD) e a nomeação do empresário Renato Feder como secretário da Educação. Ela explicou que o governo adquiriu diversos aplicativos para padronizar o currículo e vigiar o trabalho docente, colocando o resultado do Ideb como mais importante do que a aprendizagem dos(as) estudantes.
A constatação de que praticamente todas as plataformas são compradas de empresas privadas foi outro ponto destacado durante a explanação, além do fato de que a utilização é imposta aos educadores(as) e estudantes, mesmo nos estabelecimento de ensino em que faltam computadores e nas situações em que o(a) aluno(a) não possui aparelho celular ou computador pessoal.
“São mecanismos de controle de dados e das ações dos professores, funcionários, da direção e da equipe pedagógica. Com isso, o Ideb passa a ser o foco de todas as ações do governo na área educacional no Paraná e isso só tem se intensificado, inclusive com o ranqueamento entre as escolas”, disse.
Segundo a dirigente da APP, a cobrança de metas na utilização das plataformas é tão intensa que pode levar até à cassação do mandato de diretores(as) eleitos(as) pela comunidade. “As plataformas utilizadas no Paraná não são educacionais, não cumprem o seu papel de desenvolvimento da aprendizagem e muito menos da diminuição do nosso trabalho docente e pedagógico nas escolas. Muito pelo contrário”, afirmou.
Privatização da educação
Para exemplificar como o sindicato tem feito a resistência, a secretária Educacional da APP falou da campanha Mais Livros e Menos Telas, da mobilização Plataforma Zero, do Seminário realizado em julho de 2023 e de uma pesquisa que mostra que as plataformas não trouxeram mais aprendizagem e aumentou a sobrecarga de trabalho dos(as) professores(as).
A dirigente também denunciou o programa Parceiros da Escola, proposta do governo para transferir à iniciativa privada a gestão administrativa de 200 escolas estaduais. O projeto de lei que institui a iniciativa é aguardado na Assembleia Legislativa e deve ser votado na próxima semana. Se aprovado, vai autorizar a destinação de recursos públicos para empresas privadas e estima-se que permitirá a contratação de professores(as) e funcionários(as) de forma precária e sem concurso público.
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Debatedores(as)
A mesa-redonda foi proposta pelo Observatório Educação Vigiada, uma iniciativa que reúne pesquisadores e organizações sociais destinada a divulgar informações e incentivar o debate sobre impactos sociais e educacionais da plataformização da educação pública no Brasil e na América do Sul.
Os(as) professores(as) e pesquisadores(as), Leonardo Ribeiro da Cruz, da Universidade Federal do Pará, e Janaina do Rozário Diniz, da Universidade do Estado de Minas Gerais, apresentaram dados inéditos sobre a plataformização do ensino superior público na América Latina e na África.
O professor e pesquisador, Everton Vasconcelos de Almeida, da rede pública de Santa Catarina, apresentou dados da sua tese intitulada “Quando você se torna um Educador Google – Integração de tecnologias digitais ao currículo como estratégia neoliberal”.
O fundador da Unodata, Eder Miranda, empresa que se dedica a criação de plataformas que usam software livre, falou sobre soberania digital e alternativas ao monopólio das grandes empresas de tecnologia.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Tel Amiel fez a mediação dos debates. O evento foi transmitido ao vivo no e a íntegra das explanações está disponível no Youtube. O 14º Fórum da Internet no Brasil teve início no dia 21 de maio e segue até sexta-feira (24), em Curitiba.